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Médicos alertam para crescimento de casos de câncer de mama em mulheres com menos de 40 anos

Médicos alertam para crescimento de casos de câncer de mama em mulheres com menos de 40 anos

Em 2009, 7,9% dos casos de câncer de mama era abaixo dos 40; em 2020, já eram 21,8%

A lutadora de MMA Poliana Botelho, de 35 anos, começou a sentir dores fortes no peito toda vez que uma oponente tocava na região. Ela estranhou o incômodo e foi fazer exames. Mesmo sem nenhum caso de câncer de mama na família, foi diagnostica com um tipo agressivo do tumor. Precisou fazer a cirurgia de retirada total da mama, além de sessões de radio e quimioterapia.

Ela, infelizmente não é a única. O número de mulheres com câncer de mama em idades mais jovens cresce em números alarmantes desde 2009, segundo estudo realizado pelo Instituto do Câncer. Naquele ano, 7,9% delas tinham menos de 40 anos. Em 2020, já eram 21,8%, em um aumento de 14,8%.

Histórias como a dela apontam para os novos contornos da doença e como tratamentos de ponta estão transformando as perspectivas dos pacientes. Esses são os temas do projeto Viver o Câncer, com patrocínio da Oncoclínicas, que começa hoje no Extra e no GLOBO, com reportagens semanais.

— É uma junção de sentimentos: não saber como vai ser daqui para frente, se iria atrapalhar a minha carreira como atleta, como seria a cirurgia. Como lutadoras, aprendemos a ser forte e ter a mente forte. Sempre pensava em algo positivo, ou tentava me manter ativa para não cair — conta Poliana.

Por causa de sua idade, os médicos pediram para ela fizesse um teste genético, que deu negativo para o risco aumentado desse tipo de tumor.

— Ou seja, ele realmente surgiu por algum outro fator que os médicos não compreendem — afirma a lutadora, que tem uma cirurgia marcada para reconstruir a mama no mês que vem.

Um outro estudo realizado no Brasil com cerca de 3 mil mulheres, entre 2016 e 2018, mostrou que 43% dos casos de câncer de mama ocorreram em mulheres abaixo dos 50 anos e 17% até 40 anos. Especialistas ouvidos pelo Extra afirmaram que não há uma causa específica para o crescimento em idades mais jovens, porém o estilo de vida pode estar associado ao aumento.

— A população brasileira tem essa característica, mas não é algo só nosso. Nos Estados Unidos também já observamos um aumento de casos de câncer de mama em mulheres mais jovens. Acredita-se que a causa possa estar relacionada a alguns fatores de estilo de vida atual. As mulheres hoje têm filhos mais tarde, maior prevalência de sobrepeso e obesidade, piores hábitos alimentares e sedentarismo — explica Renata Capanema, mastologista da Rede Mater Dei de Saúde.

Do total dos casos de câncer de mama, apenas 5% ocorrem antes dos 30 anos. Foi o que aconteceu com a cabelereira Ludmilla Matias, de 26 anos. Também sem casos desse tumor na família, ela descobriu a doença ao sentir um caroço em seu peito durante uma madrugada. A jovem chegou a procurar um médico na época, mas o nódulo não tinha o formato, tamanho ou características de um possível câncer.

Meses se passaram até o tumor começar a crescer e mudar de tamanho. Ao procurar um mastologista, a formação já estava grande o suficiente para a jovem precisar realizar sessões de quimioterapia, radioterapia, além de fazer uma cirurgia para retirar totalmente a mama.

— Quando peguei o resultado foi muito assustador. Tenho uma filha de 7 anos, e a gente remete a palavra câncer a morte. Iniciei tratamento com a quimio e fiz a cirurgia logo depois. Retiraram totalmente a minha mama e fizeram o esvaziamento da minha axila. Trabalho em salão de beleza, então o meu visual sempre foi algo importante para mim, mas desde a primeira consulta minha médica disse sobre a possibilidade da cirurgia, o que me preparou mentalmente — diz.

De acordo com os médicos, apesar de raro, o caso de Ludmilla Matias pode estar ligado a uma mutação genética que facilita o surgimento de câncer ou até por conta de algum tipo de estresse.

— É necessário fazer um teste genético para ver se não existe nenhum problema de gene por trás do câncer. E por ser jovem, a mulher corre um maior risco de ter uma recidiva com o câncer, o que o torna biologicamente mais agressivo — afirma o oncologista Ricardo Caponero, diretor científico da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama).

Os especialistas afirmam que outro motivo para o tumor ser mais agressivo é que, em idades mais jovens, as mulheres não são contempladas com exames de rastreamento e quando sentem os sintomas, o câncer pode estar avançado. Além da autoestima, a doença também pode afetar o futuro reprodutivo.

— Com os tratamentos de quimioterapia, as chances de induzir uma menopausa são muito grandes, então é importante a mulher saber que, antes de começar, ela pode congelar os óvulos, por exemplo — explica Gustavo Bretas, oncologista clínico da Oncoclínicas Rio de Janeiro.

Apesar dos dados, o Ministério da Saúde preconiza que o exame de mamografia seja feito em mulheres a partir dos 50 anos, a cada dois anos. A sociedade Brasileira de Mastologia, bem como a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), em suas diretrizes, recomendam a mamografia anual a partir dos 40 anos.

— O principal sintoma continua sendo o exame do toque para observar se não há nenhum nódulo ou caroço ali na região da mama. Além disso, a mulher pode ter vazamento de líquido na mama, alteração, retração, ou aumento do tamanho. O importante é no caso de qualquer modificação ou sintoma, a mulher deve procurar um médico especialista para fazer exames. Independentemente da idade. Principalmente se tiver casos de câncer de mama na família — afirma Ricardo Caponero.

Se a pessoa for diagnosticada precocemente, as chances de cura podem chegar a 95%, de acordo com a Femama.

No Brasil, o câncer de mama é o segundo tipo de câncer que mais afeta a população feminina, contabilizando 10,5% de todos os diagnósticos. No mundo, a doença afeta 2,3 milhões de pessoas por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

— O importante não é apenas mandar as mulheres fazerem o exame, mas viabilizar formas de ser feito. É necessário garantir meios que possibilitem isso, como um abono de um dia de trabalho — defende Caponero.