Anchor Deezer Spotify

Indonésio ajuda famílias e meio ambiente ao trocar plástico por arroz

Indonésio ajuda famílias e meio ambiente ao trocar plástico por arroz

O indonésio Janur Yasa sempre foi um entusiasta da sustentabilidade e do meio ambiente. Dono de um restaurante vegano na ilha de Bali, ele adorava caminhar pelas praias e subir montanhas da região. Em meio à contemplação dessas paisagens paradisíacas, uma situação o incomodava: quando se deparava com plástico invadindo a areia, Yasa sentia seu coração partir. “Tradicionalmente, acreditamos que a natureza tem alma. As pessoas se preocupam com o meio ambiente. Mas a poluição do plástico em Bali acontece devido à falta de educação e prática”, disse ele em entrevista à CNN.

Com a pandemia do novo coronavírus, a poluição plástica se tornou ainda mais crítica em Bali. O fechamento das fronteiras interrompeu a atividade turística, a principal fonte econômica da ilha, o que levou diversos indonésios a voltar, sem trabalho, para seus vilarejos. Sem hotéis, restaurantes e companhias de viagem funcionando, o problema da fome se somou ao descarte inadequado de plástico na natureza. “As pessoas estavam lutando, mas não havia renda. A primeira coisa que precisavam era de comida”, recorda Yasa, que viu nesse cenário de dificuldades a oportunidade para iniciar um projeto capaz de limpar o meio ambiente e ajudar a alimentar a população local.

Lançado há pouco mais de um ano, o Plastic Exchange, ou Plastic for Rice, oferece arroz às famílias de Bali em troca de plástico coletado. A escolha do arroz se deve ao fato do grão ser não só a base da alimentação no país, mas da cultura indonésia. A partir dessa troca, tem sido possível, conforme Yasa, colocar em prática os valores do seu povo: quem doa se torna alguém que recebe e vice-versa.

O projeto começou em maio, na aldeia onde Yasa nasceu e passou a infância, em Tabanan. Ele incentivou moradores a coletar e a separar plástico em suas casas, quintais e depois em áreas públicas, como ruas, arrozais, rios, praias e canais de água. Na primeira ação, foram retirados desses pontos, em um único vilarejo, mais de 1,6 tonelada de resíduos plásticos. A ação deu tão certo que se espalhou para outros locais em pouco tempo. “Foi ficando maior do que eu havia imaginado”, disse o idealizador à CNN. Hoje, já são mais de 200 vilas abrangidas e 500 toneladas de plástico trocadas por mais de 550 toneladas de arroz.

Intercâmbio

As trocas acontecem em eventos mensais organizados pelo projeto em aldeias. Aos poucos, os moradores, jovens e idosos, chegam ao local combinado com sacos carregados de diferentes tipos de plástico, incluindo os considerados menos valiosos no setor da reciclagem. Eles trazem esses sacos dos mais diferentes jeitos —presos às costas, em carriolas ou pendurados em motocicletas. Os materiais são levados para pesagem e os aldeões recebem de acordo com o tipo e a quantidade de plástico que reuniram. Para isso, foram criadas categorias com diferentes valores, explicou Yasa a um jornal local.

Embalagens de doces, canudos e sachês, por exemplo, são considerados plástico de primeira qualidade, devido à dificuldade de coleta. Cada quilo desse material é equivalente a 1 ponto. Já dois quilos de plásticos menores, úmidos e mais pesados, como sacos de comida, valem 1 ponto. Para garrafas e copos, 1 ponto é equivalente a 3 quilos, enquanto resíduos maiores somam 1 ponto a cada 4 quilos coletados. Uma companhia especializada recebe o plástico levado pelos moradores e o encaminha para reciclagem em fábricas de Java.

Economia circular

A participação dos moradores é estimulada por meio do “boca a boca”. Os novos moradores aderem à iniciativa à medida que tomam conhecimento do sucesso dos vizinhos na empreitada.

Segundo Yasa, o programa também busca apoiar produtores locais de arroz, por meio da economia circular. “Damos suporte a esses produtores em vez de grandes vendedores, limpamos o meio ambiente e alimentamos as pessoas. Desde que começamos, alimentamos cerca de 30 mil famílias em um ano”, assinalou o fundador do Plastic Exchange. Ele observou que, passados esses meses, em algumas localidades onde a iniciativa está ocorrendo, já é mais difícil encontrar esses resíduos descartados em espaços públicos. “As pessoas estão descartando adequadamente. O mais importante é que isso se tornou um hábito”, disse.

Yasa estima que cada quilo de arroz trocado por plástico seja suficiente para alimentar uma família de quatro pessoas por dia. O alimento tem sido pago com recursos da venda dos recicláveis e de doações realizadas por apoiadores da causa.