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Idec encontra agrotóxicos em ultraprocessados de origem animal comuns na mesa do brasileiro

Idec encontra agrotóxicos em ultraprocessados de origem animal comuns na mesa do brasileiro

Entre os itens citados pelo relatório, estão empanados de frango (nuggets), requeijão, salsicha, mortadela e hambúrguer bovino; confira a lista completa

Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) divulgou nesta quinta-feira (28) resultados de testes sobre a presença de agrotóxicos em alimentos ultraprocessados comuns na mesa do brasileiro. Segundo o instituto, foram encontrados agrotóxicos em 58% dos produtos analisados: de 24 ultraprocessados derivados de carnes e leite, 14 apresentaram resíduos de agrotóxicos.

Os produtos nos quais foram encontrados mais resíduos de agrotóxicos são o empanado de frango (nugget) Seara, com 5 agrotóxicos; o requeijão Vigor, com 4 agrotóxicos; e empatados no terceiro lugar estão o requeijão Itambé e o empanado de frango (nugget) Perdigão, ambos com 3 agrotóxicos (veja abaixo a lista completa).

Os resultados fazem parte do segundo volume de testes do “Tem Veneno Nesse Pacote”, lançado em 2021 pelo Idec, que agora avalia ultraprocessados de origem animal. O primeiro volume detectou resíduos de agrotóxicos em bebidas, biscoitos e bolachas. O Instituto afirma que enviou notificações para todas as empresas responsáveis pelos produtos nos quais foram encontrados agrotóxicos.

“Estudos anteriores e inclusive o programa de monitoramento da Anvisa identificaram agrotóxicos em frutas, legumes e verduras in natura, o que pode induzir o consumidor a pensar que esses alimentos são menos seguros do que os ultraprocessados. Nossas pesquisas vêm para expor essa lacuna. Precisamos cobrar do governo o monitoramento e a ampla divulgação dos resultados das testagens, além da expansão das análises para incluir os ultraprocessados”, afirma Carlota Aquino, diretora executiva do Idec.

Seara, marca do grupo JBS, informou em nota que “forneceu ao Idec, em março de 2022, respostas técnicas detalhadas sobre os itens supostamente encontrados em seus produtos e lamenta que esses esclarecimentos não tenham sido contemplados no relatório publicado”. Também disse que “todos os produtos avaliados respeitam os parâmetros para itens alimentares regulamentados pela Anvisa”.

Vigor afirma em nota que “realiza controles de qualidade com os mais altos padrões encontrados no mercado e, de acordo com o estabelecido na legislação pertinente, controla e examina seus insumos, neste caso, o leite. Sobre o estudo em questão, a empresa informa que não teve acesso a informações importantes para que pudesse, na ocasião, analisar e rastrear o lote do produto citado”.

BRF, dona das marcas Sadia Perdigão, respondeu que “seus produtos são devidamente fiscalizados por órgãos competentes, como a Anvisa e o MAPA, que utilizam padrões internacionais de pesquisa para detecção de eventuais resíduos de defensivos agrícolas, eventualmente utilizados pelos produtores de insumos na ração animal”. A companhia afirmou também que “retornou o contato do Idec respondendo a todos os questionamentos levantados pelo instituto”.

Época NEGÓCIOS entrou em contato com o Grupo Lactalis, responsável pela Itambé, e com a Cooperativa Central Oeste Catarinense Aurora, dona da Aurora, mas as empresas não responderam aos pedidos de comentários até a publicação desta reportagem.

A pesquisa completa pode ser conferida no site do Idec.

Os 14 produtos em que foram encontrados resíduos

Requeijão Vigor: detectados resíduos de 2 agrotóxicos (cipermetrina e fipronil), 1 resíduo de ingrediente farmacêutico ativo (IFA) (fluazurona) + metabólitos de fipronil e sulfona

Requeijão Itambé: detectados resíduos de 2 agrotóxicos (cipermetrina e clorpirifós) e 1 resíduo de ingrediente farmacêutico ativo (IFA) (fluazurona)

Linguiça suína calabresa Seara: detectados resíduos de 1 agrotóxico (glifosato e seu metabólito AMPA)

Mortadela Perdigão: detectados resíduos de 1 agrotóxico (glifosato e seu metabólito AMPA)

Mortadela Seara: detectados resíduos de 1 agrotóxico (glifosato)

Salsicha Sadia: detectado resíduo de 1 agrotóxico (glufosinato)

Salsicha Perdigão: detectados resíduos de 1 agrotóxico (glifosato e seu metabólito AMPA)

Salsicha Aurora: detectados resíduos de 1 agrotóxico (glifosato e seu metabólito AMPA)

Hambúrguer de carne bovina Sadia: detectados resíduos de 1 agrotóxico (glifosato e seu metabólito AMPA)

Hambúrguer de carne bovina Perdigão: detectados resíduos de 1 agrotóxico (glifosato e seu metabólito AMPA)

Hamburguér de carne bovina Seara: detectados resíduos de 1 agrotóxico (glifosato e seu metabólito AMPA)

Empanado de frango (nuggets) Sadia: detectados resíduos de 1 agrotóxico (pirimifós metílico) e 1 ingrediente potencializador do efeito dos agrotóxicos (butóxido de piperonila)

Empanado de frango (nuggets) Perdigão: detectados resíduos de 2 agrotóxicos (pirimifós metílico e cialotrina lambda) e 1 ingrediente potencializador do efeito dos agrotóxicos (butóxido de piperonila)

Empanado de frango (nuggets) Seara: detectados resíduos de 5 agrotóxicos (bifentrina, cialotrina lambda, glufosinato, pirimifós metílico e glifosato e seu metabólito AMPA)

Posicionamento das empresas

Seara (Grupo JBS):

“A Seara forneceu ao Idec, em março de 2022, respostas técnicas detalhadas sobre os itens supostamente encontrados em seus produtos e lamenta que esses esclarecimentos não tenham sido contemplados no relatório publicado. Todos os produtos avaliados respeitam os parâmetros para itens alimentares regulamentados pela ANVISA. 

A empresa mantém vigilância ativa de controle de matérias-primas de origem animal, vegetal e mineral, além de laboratório próprio dedicado a pesquisas de resíduos e contaminantes. Reforçamos o compromisso com a qualidade dos nossos produtos Seara, que é reconhecida mundialmente.

As unidades têm processos de controle rigorosos e, além de submetidas a inspeções públicas, são auditadas por clientes dos mercados interno e externo”.

Sadia e Perdigão (Grupo BRF):

“A BRF esclarece que seus produtos são devidamente fiscalizados por órgãos competentes, como a Anvisa e o MAPA, que utilizam padrões internacionais de pesquisa para detecção de eventuais resíduos de defensivos agrícolas, eventualmente utilizados pelos produtores de insumos na ração animal.

A Companhia ressalta que aplica internamente rigorosos padrões de qualidade que atendem à regulamentação da própria Anvisa e do MAPA e são reconhecidos por diversos organismos de controle. A Companhia informa, também, que retornou o contato do IDEC respondendo a todos os questionamentos levantados pelo instituto”.

Vigor:

“A Vigor realiza controles de qualidade com os mais altos padrões encontrados no mercado e, de acordo com o estabelecido na legislação pertinente, controla e examina seus insumos, neste caso, o leite. Sobre o estudo em questão, a empresa informa que não teve acesso a informações importantes para que pudesse, na ocasião, analisar e rastrear o lote do produto citado, tais como data de fabricação e/ou validade do produto, laudo técnico, laboratório onde foi realizada a análise, data de realização do exame e método específico utilizado.

A companhia reforça que realiza constantemente programas de controle interno em todas as suas unidades fabris e postos de captação de leite, bem como o monitoramento através de laboratórios credenciados na rede brasileira de qualidade do Leite-RBQL, não tendo verificado a presença de inseticidas, acaricidas e agrotóxicos em seus produtos.

Além disso, o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), por meio de coletas do programa nacional, controla constantemente a presença dessas substâncias, estando a Vigor em plena conformidade. A empresa reforça mais uma vez que preza pela saúde e o bem-estar de seus consumidores e tem como prioridade a Segurança dos Alimentos, bem como a garantia da qualidade de seus produtos em todas as etapas da cadeia de produção”.

Grupo Lactalis (Itambé) Cooperativa Central Oeste Catarinense Aurora (Aurora) ainda não se manifestaram.