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Humanos não entendem realmente as expressões dos seus cachorros, diz estudo

Humanos não entendem realmente as expressões dos seus cachorros, diz estudo

Pesquisadores observaram que a interpretação humana das feições caninas é influenciada mais pelo contexto do que pelas expressões reais dos animais

Muitos donos têm a convicção de que entendem completamente as expressões de seus cães, como se pudessem decifrar seus olhares e transformar seus pensamentos em palavras. No entanto, um estudo recente divulgado nesta segunda-feira (10) na revista científica Anthrozoös sugere que essa ideia pode estar equivocada. Em experimentos com tutores, pesquisadores puderam observar que a percepção humana das emoções caninas, na maioria das vezes, está errada.

A equipe dividiu sua pesquisa em duas fases, com diferentes testes. Na primeira, que envolveu 383 participantes, um cachorro foi gravado em momentos considerados positivos, como ao ganhar um petisco, e em situações percebidas como negativas, como quando um aspirador de pó era ligado. Esses vídeos então foram mostrados aos participantes, e foi solicitado que eles classificassem sua percepção do nível de animação dos animais.

Na segunda etapa, os cientistas utilizaram técnicas de edição para alterar a percepção das imagens. Assim, cenas em que o cachorro havia sido filmado em um contexto alegre passaram a parecer tristes, enquanto momentos associados originalmente a uma situação negativa foram modificados para parecerem felizes. Nesse momento, participaram 485 pessoas, que também foram perguntadas sobre o quão felizes e animados achavam que os cães estavam.

O que dizem os resultados do estudo

Ao analisarem os resultados, os pesquisadores observaram que a avaliação das pessoas sobre o estado emocional do cão dependia mais do contexto da situação do que das expressões e reações do animal de fato.

“Em nosso estudo, quando as pessoas viram um vídeo de um cachorro aparentemente reagindo a um aspirador de pó, todos disseram que o cachorro estava se sentindo mal e agitado”, disse Holly Molinaro, pesquisadora da Universidade Estadual do Arizona, nos Estados Unidos, em comunicado. “Quando viram um vídeo do cachorro fazendo exatamente a mesma coisa, mas, dessa vez, parecendo reagir ao ver sua coleira, todos relataram que o cachorro estava se sentindo feliz e calmo. As pessoas não estavam julgando as emoções de um cachorro com base no comportamento do cachorro, mas na situação em que o cachorro estava.”

Para os cientistas, esse fenômeno ocorre por conta da tendência humana de associar emoções próprias aos animais de estimação, como se deixassem de considerar que os cães são, de fato, outra espécie. Além disso, o vínculo afetivo e a tendência de projetar sentimentos nos pets também contribuem para essa interpretação equivocada.

Essa confusão na hora de entender reações não se limita apenas às interações com os cães — entre os próprios humanos, fatores como cultura, contexto da situação e expressões faciais anteriores podem influenciar a maneira como as emoções são percebidas. Porém, essa foi a primeira vez em que se estuda a influência desses fatores na comunicação com o melhor amigo do homem.

Qual é a melhor forma de entendê-los?

Para uma melhor interpretação das feições dos cachorros, os pesquisadores aconselham a ter um olhar mais delicado e atento para o comportamento dos animais. “O primeiro passo é apenas estar ciente de que não somos tão bons em ler as emoções dos cães”, disse Molinaro. “Precisamos ser mais humildes em nossa compreensão de nossos cães. A personalidade de cada cão, e portanto suas expressões emocionais, são únicas para aquele cão”, explica Molinaro. “Realmente preste atenção às dicas e comportamentos do seu próprio cão.”

A pesquisadora convida os tutores a refletir sobre situações do dia a dia: “Quando você repreende seu cão por um comportamento inadequado e ele assume aquela expressão de culpa, será que ele realmente se sente culpado ou apenas teme uma bronca ainda maior?”. Reservar um momento para analisar o motivo da reação do animal, sem se deixar levar apenas pelo contexto, é fundamental nesse processo, e contribui para fortalecer o vínculo entre cão e dono.