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Geração de ex-analógicos conta como está vencendo o medo para aderir de vez à tecnologia

Geração de ex-analógicos conta como está vencendo o medo para aderir de vez à tecnologia

A pandemia implicou enormes desafios para todos, mas alguns, mais do que outros, tiveram de correr atrás do prejuízo por não serem nativos digitais. A vida em home office deu muito trabalho para a geração que chegou ao mundo entre 1960 e 1980, alvo de uma campanha da agência Primeira Via Comunicação Integrada, de Santa Catarina, que decidiu dar uma ajudinha aos chamados ex-analógicos.

Se você tem nostalgia e ainda usa agenda de papel, bloco de anotações, conteúdos impressos e desde a chegada da Covid-19 ao mundo teve de pedir ajuda a amigos e familiares mais habituados com as novas tecnologias, tenha certeza: você é um ex-analógico. Foi pensando nessas pessoas que Mariana Baima, diretora da Primeira Via, criou um projeto que procura olhar para os ex-analógicos.

— Queremos criar um ambiente onde as pessoas se sintam acolhidas e não tenham medo de perguntar. Já percebemos que existe muita demanda porque, em geral, os cursos partem do pressuposto que a gente sabe tudo — diz Mariana.

 

Mariana Baima criou o projeto dos ex-analógicos
Mariana Baima criou o projeto dos ex-analógicos Foto: Victória Morais

 

Na classe dos ex-analógicos, existem casos extremos, como o do fotógrafo Valerio Romahn, que antes da pandemia sequer tinha celular. Autor de enciclopédias sobre botânica e diretor de uma revista sobre orquídeas, Valerio, de 60 anos, teve de ceder à pressão social e comprar um aparelho, que hoje usa apenas para fazer ligações ou enviar mensagens pelo WhatsApp. Nelas, nada de figurinhas, emojis ou abreviações como “tb” ou “vc”.

— Não tenho vergonha alguma, assumo o que não sei fazer. Sei que terei de buscar ajuda para colocar meu trabalho nas redes sociais. Pedi a meus filhos, mas eles nunca têm tempo — afirma Valerio, que fica indignado quando vê a mulher e a filha no mesmo cômodo conversando pelo WhatsApp.

Aos 47 anos, a atriz Juliana Martins confessa que a pandemia exigiu esforços inimagináveis. Com a ajuda da filha, Luisa, de 21, a atriz fez editais e até mesmo estreou a peça “O prazer é todo nosso”, que finalmente chegou ao teatro presencial no segundo semestre de 2021.

— Fazer o edital da peça “Eu te amo”, com Heitor Martinez, foi uma loucura. Eu na minha casa com computador e celular, minha filha ajudando, gambiarra total. Não sou nada tecnológica e tive de aprender — diz.

A atriz Juliana Martins fez editais de sua peça com a ajuda da filha

A atriz Juliana Martins fez editais de sua peça com a ajuda da filha Foto: Arquivo pessoal / Agência O Globo

 

A sensação generalizada é de que a vida mudou para sempre. A psicanalista Suely Sullivan, de 52 anos, não só passou a ter muitos pacientes fora do Brasil, como reduziu o atendimento presidencial em seu consultório de Botafogo a três vezes por semana. Depois de incorporar o laptop e IPad à sua rotina, e aprender a utilizar redes sociais Skype (a única que já usava, mas com baixa frequência), Google Meetings, FaceTime e WhatsApp, Suely acredita que as mudanças chegaram para ficar.

— Meu filho de 24 anos me ajudou no começo, mas é isso, os dinossauros precisam se adaptar — brinca.

Já a juíza trabalhista Daniela Muller, nascida em 1973, chegou a usar máquina de escrever na faculdade e só teve acesso a um computador na década de 1990. Com a pandemia, as audiências passaram a ser on-line, e Daniela recorreu muitas vezes à filha, Aurora, de 14, para resolver questões técnicas.

— Quando a pandemia apareceu eu estava terminando um mestrado. Essa foi a primeira pancada. Minha defesa de tese foi virtual, mas sempre que podia continuava indo pegar xerox na faculdade — afirma Daniela.

 

A psicanalista Suely Sullivan teve que se reiventar com novas tecnologias para trabalhar
A psicanalista Suely Sullivan teve que se reiventar com novas tecnologias para trabalhar Foto: Maria Isabel Oliveira

Alguns foram mais previsores do que outros. É o caso de Carlos Altafini, de 59 anos, formado em administração e empenhado em se desenvolver com facilidade no mundo digital desde 2013, quando ficou desempregado e teve de se reinventar. Ele diz que foi obrigado a se adaptar na marra, e entende perfeitamente quem passou por sufocos na pandemia.

— Comecei vendo tutorais no Google e comprovei que o cérebro é capaz de fazer sinapses em qualquer momento da vida. No começo, era como seu meu cérebro crescesse — lembra Carlos, que hoje tem uma empresa que apoia start ups e ajuda a fazer conexões com companhias mais tradicionais.

O projeto comandado por Mariana trará entrevistas em formato de PodCast, que estarão disponíveis nas plataformas Youtube e Spotify, com o nome “eXanalógicos”.