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Gatos podem passear sozinhos? Especialistas respondem

Gatos podem passear sozinhos? Especialistas respondem

Entenda os benefícios, como a adaptação deve ser feita e os riscos das caminhadas solos

Imagine a seguinte cena: você sai para trabalhar, atravessa a rua e vê um cachorro passeando sozinho na calçada – ele faz suas necessidades sem que ninguém recolha, come restos de alimentos do lixo, atravessa a rua sem confirmar se o sinal está verde e, depois, entra pelo portão e volta para a sua casa. Estranho, né? Quem tem cão certamente não costuma deixá-lo passear sozinho. Porém, entre os tutores de gatos, as saidinhas solos ainda são bastante frequentes.

Um mito relativamente comum no universo pet diz que felinos são autossuficientes e não precisam dos mesmos cuidados recebidos por outros animais domésticos. De fato, os bichanos costumam, sim, ser mais independentes, porém, se engana quem pensa que eles não precisam de responsáveis por perto. Na verdade, esta crença tende a deixá-los vulneráveis e expostos a doenças e a acidentes.

“Grande parte das mortes de felinos decorre de acidentes por fugas, atropelamentos, brigas com outros bichos e até mesmo envenenamentos. Além disso, nestes passeios, ainda há possibilidade de se contaminarem com doenças infectocontagiosas como FIV, FeLV, PIF, rinotraqueíte, calicivirose, panleucopenia, raiva e esporotricose, que diminuem a expectativa de vida dos bichanos”, alerta a médica-veterinária Elaine Tamura.

Entre os profissionais, o debate é longo e polêmico. Existem aqueles que acreditam que os passeios não são necessários, já outros, defendem que as caminhadas são benéficas para a saúde dos bichanos.

Ainda assim, independente da vertente, todos concordam que qualquer atividade fora de casa deve ser estruturada. A recomendação é sempre promover segurança ao bicho, isso inclui vacinação, vermifugação e acompanhamento integral dos tutores com o uso de guia em locais controlados.

“Os gatos sabem voltar para casa porque eles deixam marcas olfativas por onde passam, identificando o caminho de volta, capacidade importante na vida livre. O ímpeto de sair também existe graças às necessidades de seus antepassados. Na natureza, eles precisam realizar patrulhamentos para proteger o lar. Por isso, disponibilizar acesso às janelas e varandas já ajuda a aliviar esta questão”, indica Juliana Damasceno, doutora em psicobiologia com atendimento focado em comportamento e bem-estar felino.

Gatos podem realizar o patrulhamento através da janela de casa, por isso, todas devem ser teladas (Foto: Canva / Creative Commoms)
Gatos podem realizar o patrulhamento na janela de casa, por isso, todas devem ser teladas (Foto: Canva/ Creative Commoms)

A médica-veterinária Aline Barbosa entende que os passeios serão benéficos para um grupo seleto de gatos, cuja personalidade é mais confiante, exploradora e ativa. Geralmente, os mais tímidos ou medrosos preferem não se aventurar. O desafio é ainda maior para os bichanos mais velhos, que já possuem uma rotina específica.

“O processo de adaptação é lento. Primeiro, deve-se acostumar o animal a utilizar a coleira em casa – o peitoral é o modelo mais indicado. Esta etapa pode levar dias, semanas, meses ou nunca se completar. Se o gato não tolerar a contenção, deve ser respeitado. Após essa adaptação, iniciam-se os passeios curtos, em locais próximos e tranquilos. Depois pode-se pensar em expandir as caminhadas para ruas mais movimentadas, parques, praias, etc. Quando feito de forma errada, o gatinho pode se traumatizar e o processo para acostumá-lo novamente será bem mais lento, devido a essa memória negativa da situação”, indica Aline.

Ela garante que uma vida ativa auxilia na saúde mental e física dos felinos, prevenindo distúrbios comportamentais ocasionados por estresse e doenças, como a obesidade. Os passeios, desde que adaptados a eles, auxiliam no gasto calórico e no entretenimento. Entretanto, muitos especialistas acreditam que apenas a gatificação em casa é capaz de oferecer estes benefícios.

A gatificação é uma das formas de enriquecimento ambiental que podem ser implantadas em casa  (Foto: Canva / Creative Commoms)
A gatificação é uma das formas de enriquecimento ambiental que podem ser implantadas em casa (Foto: Canva/ Creative Commoms)

“Os gatos gostam de explorar espaços verticais e são muito metódicos, adeptos de rotina. Uma casa com brinquedos, prateleiras, arranhadores, nichos, já cumpre com o enriquecimento ambiental necessário para a saúde do felino. É importante que o tutor disponha de um tempo todos os dias para interagir com seu bichano, com brincadeiras de bolinha, laser, varinha, atividades que estimulem o raciocínio e o gasto energético”, explica.

“O enriquecimento ambiental, se bem feito, funciona como uma academia para o animal. Ou melhor, como uma floresta. O segredo de uma gatificação eficiente é proporcionar um local com escaladas, caça, brincadeiras, descanso e recursos que apresentem um grau de dificuldade e desafio capaz de aflorar seus instintos de predador e caçador solitário”, adiciona Elaine.

Ou seja, cada tutor deve escolher as atividades que mais se adaptam ao seu pet. Sempre prezando pelo bem-estar do animal, as adaptações podem ser feitas com a ajuda de profissionais de adestramento ou especialistas comportamentais.