Fugindo do estresse
O refúgio, creio, não é radical, a ponto de afastá-lo da urbe. Não sei se cria vacas, e me vem a palavra úbere. Ignoro, também, que seja adepto do uber tão em moda na atualidade. Estes escritos são gratuitos. Quase ia revelando o nome dele, mas deve estar de rede armada, deitado e anestesiado na soneca pós-almoço. Ou lendo “Noite na Taverna”, de Álvares de Azevedo, mais uma vez. Sua obra preferida.
Nascido num largo, o cruzeiro à frente, o belo templo de São Francisco, a calma da época, tudo deverá haver influenciado sua busca de qualidade de vida. Sabe lá o que é um sítio, onde viceja o verde, os frutos pendurados e preguiçosos, amadurecendo, uns caindo de tão maduros? Coisa de cinema.
Hoje, o barulho mastiga nosso viver e conviver, o ruído crescente, a correria, o estresse. De todas essas mazelas ele se livra, quando pousa e repousa num sítio. Não sei, nem quero saber onde se localiza. Que a paz reine no refúgio espontaneamente escolhido pelo amigo.
Por isso, nunca mais nos encontramos, mesmo dentro de um espaço minúsculo, para conversa curta para lembrança do antigamente. Uma dica: não instale nenhum aparelho de televisão, limite o celular, se mantenha avesso ao conturbado noticiário que traz a carnificina para nossas vistas e audições. Se gosta de música (tenho certeza: foi ele quem me falou pela primeira vez do saudoso cantor Miltinho, voz anasalada, o sucesso imbatível) selecione no pen-drive ou no cedê a maviosidade do clássico, da boa e inesquecível suavidade dos tempos da bossa-nova e aproximações.
Ignoro se alguém (esposa ou filhos) ficam com o desertor da cidade intranquila: afaste os móveis e dance com ela aquele bolero ou vá curtir as pencas de banana, o pomar, as galinhas tontas, se possível descalço. É hora do basta de tanta vida arrepiada! No dia em que o encontrar, irei inquiri-lo mais de perto. Verei se se tornou mais jovem. Franciscanamente. Amém.