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Frio intenso alcança mais regiões do país e produz fenômenos incomuns para o outono

Frio intenso alcança mais regiões do país e produz fenômenos incomuns para o outono

O Distrito Federal tem o dia mais frio da história, com mínima de 1,4°C. Já Belo Horizonte registrou 4,4°C, mais um recorde.

Nesta quinta-feira (19), o frio intenso alcançou regiões do país que não costumam ter temperaturas tão baixas e produziu fenômenos incomuns no outono brasileiro.

No Distrito Federal, o frio desta quinta-feira fez história. No Gama, os termômetros marcaram 1,4°C, a temperatura mais baixa desde 1961, quando começaram a ser monitoradas. Mas a sensação térmica em alguns lugares foi ainda menor: em Brasília, chegou a -2°C.

“Vesti logo umas duas calças, umas três camisas, e a blusa de frio para ver se dá para amenizar maiso frio”, conta, aos risos, o auxiliar de limpeza Jonas Oliveira.

Enquanto alguns se escondiam do frio, teve corajoso que nadou no Parque Nacional.

Entre as capitais, Belo Horizonte foi a que teve o dia mais frio, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia. A capital mineira registrou 4,4°C, mais um recorde. Foi a temperatura mais baixa dos últimos 43 anos.

“Rapaz, eu começo a trabalhar 5h30 e hoje o frio apertou, e apertou muito. Deu até para bater queixo. Tenho 15 anos de BH e é a primeira vez”, destaca o vendedor Carlos Gleinison.

Na Bahia, não foram só as temperaturas que surpreenderam moradores. No sul do estado, teve chuva de granizo, algo raro para o baianos. Em Belmonte, o vendaval derrubou árvores e destelhou casas.

“Fiquei orando, pedindo a Deus, porque a gente não está acostumado com essas coisas”, relembra o pedreiro Levi de Jesus.

Goiânia registrou a temperatura mais baixa da história para o mês de maio desde 1977: apenas 5°C.

“Muito triste levantar, sofrimento”, reclama moradora.

No interior de Goiás fez ainda mais frio. A geada atingiu plantações.

A explicação para tanto frio está em um ciclone que se formou no Sul, mais próximo do continente, atuou por mais tempo que o normal e jogou uma massa de ar gelado sobre o país.

O ciclone batizado de Yakecan ainda causou ventos de mais de 150 km/h no Sul do país e levou neve para o estado de Santa Catarina no mês de maio pela primeira vez em 15 anos. As serras gaúcha e catarinense registraram temperaturas abaixo de zero.

A chegada de frentes frias vindas do Sul é algo bastante comum, mas raramente elas chegam com tanta força em regiões mais ao Norte, como tem acontecido esta semana no país. E agora, quando isso acontece, a gente logo se pergunta: será que isso tem alguma relação com as mudanças climáticas? Tem, sim!

O meteorologista Giovanni Dolif, do Centro de Monitoramento de Desastres Naturais, em São José dos Campos, explica que o aquecimento global não significa apenas mais ondas de calor, significa desequilíbrio no planeta.

É que, a todo momento, sistemas se formam jogando ventos mais quentes em direção aos polos, impedindo que eles esfriem demais. Já os ventos mais frios seguem na direção da linha do Equador. Com a temperatura média do planeta aumentando, esses sistemas ficam mais intensos, buscando o equilíbrio mais rapidamente. O resultado são ventos mais fortes, tempestades e ondas de frio em lugares onde antes não tinha.

“No Polo Sul, lá na Antártica, a temperatura não está subindo tanto como está subindo em outras altitudes; na faixa tropical, por exemplo, onde está o Brasil. O mecanismo que faz com as massas de ar se movimentem é a diferença de temperatura entre os trópicos e os polos. Então, se esse aquecimento é desigual, a gente aumenta a diferença de temperatura entre eles e isso traz mais combustível para movimentos mais intensos de massas de ar, como foi o caso dessa massa de ar frio com grande intensidade chegando no Brasil”, explica.

Um levantamento do Cemaden mostrou que eventos climáticos significativos estão se formando com mais frequência no continente ou perto dele. Desde 2011, foram 15 ciclones subtropicais no Brasil; sete deles ocorreram entre 2020 e 2022.

“A gente observa essa tendência de aumento na frequência de eventos extremos, e isso deve continuar acontecendo”, prevê o meteorologista.