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Fósseis revelam panda gigante que viveu há 6 milhões de anos na Europa

Fósseis revelam panda gigante que viveu há 6 milhões de anos na Europa

Dentes fossilizados da espécie indicam que o animal conviveu com outros grandes predadores e foi extinto devido a mudanças climáticas no final do Mioceno

Fósseis de dois dentes desenterrados na Bulgária revelaram a existência de pandas gigantes há cerca de 6 milhões de anos. Os resquícios dos animais pré-históricos foram alvo de uma pesquisa publicada neste domingo (31) na revista Journal of Vertebrate Paleontology.

Os pandas percorriam os pântanos florestais leste europeu durante o Mioceno e provavelmente consumiam uma dieta vegetariana. Porém, diferentemente dos pandas de hoje, esses bichos não dependiam de bambu, dado que seus dentes não parecem fortes o suficiente para esmagar essa planta. Em vez disso, comiam materiais vegetais mais macios.

Encontrados no final da decáda de 1970 em depósitos de carvão, os dois dentes ficaram sob a posse do Museu Nacional de História Natural da Bulgária. “Embora não seja um ancestral direto do gênero moderno do panda-gigante, é seu parente próximo”, conta Nikolai Spassov, professor da instituição, em comunicado.

O dente carnassial superior e um canino superior do animal foram catalogados originalmente pelo paleontólogo Ivan Nikolov. Em sua homenagem, a espécie ganhou o nome de Agriarctos nikolovi. Trata-se do último grupo de panda gigante europeu conhecido e o “mais evoluído”, segundo os pesquisadores.

De acordo com Spassov, a convivência da espécie com outros grandes predadores provavelmente levou sua linhagem ao vegetarianismo. “A provável competição com outras espécies, especialmente carnívoros e presumivelmente outros ursos, explica a especialização alimentar mais próxima dos pandas gigantes aos alimentos vegetais em condições de floresta úmida”, afirma.

Dentição superior de Agriarctos nikolovi em comparação com outros representantes de Ailuropodini (Foto: Qigao Jiangzuo)
Dentição superior de Agriarctos nikolovi em comparação com outros representantes de Ailuropodini (Foto: Qigao Jiangzuo)

Os dentes de A.nikolovi forneciam ampla defesa contra os predadores, sendo comparáveis ​​em tamanho aos do panda moderno. Isso sugere que as dentições eram de um animal semelhante ou apenas um pouco menor que o de hoje em dia. “Mesmo que A. niklovi não fosse tão especializado em habitats e alimentos como o panda-gigante moderno, os pandas fósseis eram suficientemente especializados e sua evolução estava relacionada a habitats úmidos e arborizados”, afirma o professor.

Para o especialista, é provável que as mudanças climáticas no final do Mioceno no sul da Europa tornaram o habitat árido, contribuindo para a extinção desse último panda europeu. O evento em que a bacia do Mediterrâneo secou, chamado de “crise de salinidade messiniana”, fez parte do processo.

Há quem acredite que esses pandas teriam migrado da Ásia rumo às terras europeias. No entanto, Spassov questiona essa hipótese, citando dados paleontológicos que mostram que “os membros mais antigos desse grupo de ursos foram encontrados na Europa”.

Ou seja, o gênero pode ter feito o movimento oposto: desenvolveu-se primeiro na Europa e só depois se dirigiu para a Ásia, onde os ancestrais de outro gênero, Ailurarctos, surgiram. Esses primeiros pandas podem ter evoluído mais tarde para Ailuropoda, o panda-gigante moderno.

“Esta descoberta mostra quão pouco ainda sabemos sobre a natureza antiga e demonstra também que descobertas históricas em paleontologia podem levar a resultados inesperados, ainda hoje”, diz Spassov.