Forte tremor revela variações na espessura da crosta de Marte
A crosta de Marte parece ser bastante espessa em algumas regiões, como se fosse uma “armadura pesada” cobrindo partes do planeta. A conclusão vem de um estudo liderado pelo sismólogo Doyeon Kim, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, em que ele e os demais autores analisaram os dados de um abalo sísmico ocorrido em 2022, registrado pelo lander InSight.
O “martemoto” em questão tinha magnitude 4,6. Na Terra, ele seria de intensidade média, mas estava acima do limite esperado para tremores em Marte. “A partir deste tremor, o maior registrado em toda a missão da InSight, observamos ondas na superfície que circularam Marte até três vezes”, disse o autor.
Eles mediram a velocidade e frequência das ondas sísmicas, junto das mudanças delas conforme viajavam pelo planeta. Ao combinar os dados da InSight àqueles da gravidade e topografia de Marte obtidos por outras missões, Kim e os outros pesquisadores conseguiram informações sobre as estruturas geológicas que as ondas encontraram.
Os resultados mostraram à equipe que a crosta de Marte tem espessura média de 42 km a 56 km, mas há partes com espessura máxima de 90 km. “A crosta marciana é, em média, muito mais espessa que aquela da Terra ou da Lua”, acrescentou Kim.
A menor espessura da crosta foi encontrada na bacia de impacto Isidis, uma antiga cratera com 1.200 km de diâmetro; no interior dela, a crosta tem apenas 10 km de espessura. Já o ponto mais espesso foi encontrado na região Tharsis, que se estende por quase 8 mil quilômetros.
O estudo trouxe informações importantes para a chamada “Dicotomia de Marte”, nome dado às diferenças observadas mos hemisférios do planeta: o norte tem relevo baixo e plano, enquanto o sul contém planaltos elevados. Uma hipótese propunha que essa diferença vinha da composição das rochas, mas o novo estudo mostra que este não é o caso.
A composição das rochas é a mesma nos dois hemisférios, mas há diferenças na espessura da crosta — e elas parecem ser as responsáveis pela dicotomia. Com base nos dados do lander InSight e de gravidade, os autores afirmam que demonstraram que a densidade da crosta no baixo relevo do hemisfério norte e no alto, do sul, é similar.
A descoberta da densidade corresponde às observações do InSight, sugerindo que a crosta dos dois hemisférios é feita do mesmo material. Além disso, a identificação da maior espessura da crosta em alguns locais indica a ação do decaimento radioativo dos elementos na crosta.
Para os autores, pode haver até 70% deles na camada. Portanto, a diferença da espessura da crosta em Marte pode explicar o motivo de possível derretimento em algumas regiões: o processo pode ocorrer em lugares onde há mais elementos radioativos gerando calor.
O artigo que descreve as descobertas foi publicado no repositório ESS Open Archive, e ainda não passou pela revisão de pares.