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Febre maculosa: o que é a doença e como ocorre sua transmissão

Febre maculosa: o que é a doença e como ocorre sua transmissão

Brasil já registrou 49 casos da infecção bacteriana em 2023, sendo seis deles fatais; ao contrário do que muitos pensam, a disseminação não é culpa das capivaras

A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo confirmou mais três mortes por febre maculosa entre os dias 12 e 14 de junho. As três vítimas estiveram em um mesmo evento na cidade de Campinas (SP), região endêmica para a doença. Com isso, o Brasil soma seis óbitos e 49 registros da infecção bacteriana em 2023. A informação é do Ministério da Saúde e leva em conta o último levantamento de dados do órgão, realizado na última terça-feira (13).

Difícil de diagnosticar e possivelmente fatal, a febre maculosa é uma patologia infecciosa e febril aguda, de gravidade variável. Dados históricos do Ministério revelam que, entre 2012 e 2022, o país confirmou 2.157 casos da doença, sendo que 753 resultaram em morte. Daí porque a enfermidade é preocupante.

O que é a febre maculosa?

Também conhecido como “febre do carrapato”, esse quadro clínico é originado a partir da invasão de bactérias do gênero Rickettsia sp. no organismo humano. Esse contato não é transmitido de pessoa a pessoa, e sim por meio da picada de carrapatos.

Segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde, existem no Brasil três perfis ecoepidemiológicos associados à febre maculosa, que se distinguem pela localização de suas ocorrências. A doença ocorre no Sudeste, na região metropolitana de São Paulo e em áreas de Mata Atlântica nas regiões Sul e Nordeste.

Normalmente, a doença se manifesta de forma repentina, de dois a 14 dias após o contato com o artrópode, sendo a média de sete dias. O conjunto de sintomas se assemelha ao de outras infecções, o que dificulta o diagnóstico.

Entre as manifestações estão febre alta, dor de cabeça e no corpo, falta de apetite e desânimo. Também é comum aparecerem pequenas manchas avermelhadas, que crescem e ficam salientes, lembrando sarampo.

O agravamento da doença está associado a náusea, vômito, diarreia, dor abdominal, dor muscular constante, inchaço e vermelhidão na palma das mãos e na sola dos pés e gangrena nos dedos e orelhas. Nos casos mais severos, pode haver paralisia, começando nas pernas e subindo até os pulmões.

Diagnóstico e tratamento

O Ministério da Saúde recomenda que, assim que surgirem os primeiros sintomas, deve-se procurar uma unidade de saúde para avaliação médica. Como há similaridade com doenças como leptospirose, dengue, hepatite viral, meningite, lúpus e pneumonia, os médicos são instruídos a fazer perguntas sobre o local onde o paciente mora para verificar fatores de risco para a febre maculosa.

Suspeitando-se da doença, o tratamento já é iniciado imediatamente, mesmo antes dos resultados saírem. Como o retorno dos exames pode demorar dias ou semanas, a espera pode levar a um agravamento do quadro clínico, inclusive à morte. Se os resultados voltarem negativos, o uso dos antibióticos é interrompido.

O uso dos medicamentos deve ser feito acompanhado de uma equipe médica. Normalmente, é indicado o consumo de antibióticos durante uma semana.

Apesar de ainda não existirem medicamentos preventivos, há iniciativas de pesquisa focadas nesse agente bacteriófago. Estudos preliminares de uma equipe da Universidade de São Paulo, por exemplo, indicam que uma proteína presente no organismo do carrapato-estrela pode ser o caminho para uma vacina contra a doença.

Transmissão

Diferentemente do que muitos pensam, os agentes de transmissão da doença não são mamíferos, como as capivaras, que têm levado a culpa pelo aumento dos casos de febre maculosa. Esses animais, assim como coelhos, cachorros, cavalos, gambás e os próprios humanos, não conseguem passar a infecção por meio do contato.

A febre maculosa é desenvolvida somente pela invasão dos agentes bacterianos patogênicos no corpo humano. Isso se dá por dois fatores, a partir da picada de carrapatos infectados — sobretudo o carrapato estrela (Amblyomma sculptum) — ou pela exposição da hemolinfa do carrapato no momento de sua retirada da pele e esmagamento pelas unhas.

Dessa forma, capivaras e cavalos realmente participam do ciclo de transmissão da doença, mas apenas indiretamente, pois nem mesmo são afetados pela presença das bactérias em seus organismos. Muitas vezes, eles acabam só servindo de hospedeiros, isso é, como lar e meio de transporte para os carrapatos infectados.

No ciclo de vida desses artrópodes, as fêmeas precisam se alimentar do sangue de um animal hospedeiro durante dias para ter seus filhotes. Quando esse processo acaba, a fêmea morre, deixando cerca de 8 mil ovos depositados no chão, que, posteriormente, desenvolvem-se em larvas hematófagas, que podem ficar até seis meses sem se alimentar.

Nas trocas sanguíneas com animais hospedeiros ao longo de sua vida — que podem ser capivaras, cachorros ou seres humanos — esse carrapato vai transmitindo os agentes infecciosos. Consequentemente, causando o desenvolvimento da febre.

Prevenção

De forma a se prevenir contra a febre maculosa, o melhor caminho é evitar o contato com os verdadeiros responsáveis pela doença, os carrapatos. Para isso, o Ministério da Saúde recomenda a adoção de algumas medidas, sobretudo em locais onde há maior exposição a eles:

  • Usar roupas claras para ajudar a identificar o carrapato;
  • Usar calças, botas e blusas com mangas compridas ao caminhar em áreas arborizadas e gramadas;
  • Evitar andar em locais com grama ou vegetação alta;
  • Usar repelentes que possuem proteção contra carrapatos;
  • Realizar o controle com antiparasitário em animais domésticos;
  • Retirar os carrapatos (caso sejam encontrados no corpo), preferencialmente com auxílio de uma pinça (de sobrancelhas ou pinça cirúrgica auxiliar);
  • Não esmagar o carrapato com as unhas, pois ele pode liberar bactérias e contaminar partes do corpo com lesões; e
  • Retirar os carrapatos do corpo o mais rápido possível, pois menor será o risco de contrair a doença.