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Existem formas mais sustentáveis de refrescar a casa sem ar-condicionado

Existem formas mais sustentáveis de refrescar a casa sem ar-condicionado

O ar-condicionado produz efeitos nocivos à saúde e ao planeta, uma realidade que incentiva o uso de métodos mais tradicionais

Na Itália existe uma palavra maravilhosa, meriggiare, cuja tradução é inexistente em português. É a arte de se abrigar debaixo de uma árvore nas horas mais quentes do dia para sucumbir à frescura que a própria natureza nos oferece. Sem ventiladores e ruídos de aparelhos que se atrevam a interromper o silêncio de um dia de verão. Uma alternativa ao ar-condicionado, mas não a única.

Embora no meio de uma onda de calor sucumbamos ao poder de um botão para resfriar qualquer ambiente, a verdade é que o ar-condicionado representa mais riscos do que benefícios para a nossa saúde e o meio ambiente. Segundo especialistas, o equipamento não só aumenta as emissões de CO2 na atmosfera e na temperatura ambiente, como também causa desidratação e problemas respiratórios no nosso corpo. Em um planeta onde o ar-condicionado não existiu durante muitos anos, as pessoas promoviam métodos alternativos que são uma inspiração para verões futuros (e sustentáveis).

Ideias de climatização sem ar-condicionado

O exemplo da comunidade rural valenciana de mmarq

O estúdio valenciano mmarq, responsável pela reabilitação de uma bela comunidade rural, insiste na necessidade de incorporar uma climatização que não necessite de ar-condicionado: “Às vezes, existem limitações importantes, mas tentamos sempre implementar um projeto bioclimático que potencie a ventilação cruzada dos espaços e a ventilação natural da própria casa através de furos passantes. Isso permite que o ar quente da casa suba e se dissipe para o exterior”, conta o estúdio.

Para tal, a mmarq aposta na recuperação do pátio como elemento emblemático da casa, permitindo assim a criação de um microclima que melhore tanto a qualidade do habitat como as condições higrotérmicas da casa e do ambiente mais próximo que nos rodeia: “É uma garantia para que a climatização natural consiga uma passagem pela casa com circulação natural de ar, que favoreça a ventilação cruzada e que aproveite a dupla orientação leste-oeste” Além disso, a mmarq sugere dois outros exemplos de edifícios tradicionais na Espanha que nos oferecem uma leitura mais ampla quando se trata de nos proteger dos verões rigorosos:

  • Alhambra, em Granada. A combinação da presença da água, da gestão dos recursos e da integração de uma natureza doméstica e controlada no interior dos jardins forma ‘um todo’ onde se cruzam os limites entre o interior e o exterior.
  • Casas-caverna (Paterna, Alcalá del Júcar, Guadix, etc.). Podemos encontrar este tipo de casas espalhadas por toda a Espanha e em diferentes localidades. “São entendidas como casas presas à terra que permitem proteção dos rigores do verão devido à solidez do local onde está inserida”, conclui mmarq.

Ideias de climatização tradicionais de todos os cantos do mundo

1) Jaali (Índia)

A palavra jaali significa “rede” e é o termo que designa uma pedra perfurada e treliçada com padrões ornamentais baseados em padrões geométricos ou caligráficos. É uma modalidade decorativa com grande tradição na arquitetura indo-islâmica, amplamente utilizada em diversas áreas semiáridas como o Rajastão para aliviar as altas temperaturas. Como? Comprimir o ar pelos orifícios, para que sua velocidade seja acelerada à medida que penetra por essas aberturas.

2) Torres eólicas (Pérsia e Egito)

As torres eólicas, conhecidas como badgirs na Pérsia e malqaf no Egito, eram estruturas antigas, altas e muito estreitas, com aberturas no topo. O objetivo delas era capturar o vento e redirecioná-lo para dentro dos edifícios para fornecer ventilação natural e espaços interiores frescos. Alguns exemplos destas torres ainda existem hoje em diferentes regiões do Oriente Médio, como o Golfo Pérsico e países como o Irã ou o Iraque.

3) Riad marroquino

Riad marroquino — Foto: Toa Heftib/Unsplash
Riad marroquino — Foto: Toa Heftib/Unsplash

Grande parte da arquitetura de Marrocos, país abraçado pelo Deserto do Saara, foi projetada tendo o clima como fio condutor. Um bom exemplo encontra-se nos populares riads, ou casas típicas hoje convertidas em alojamento turístico. Estas tradicionais residências marroquinas são concebidas em torno de um pátio central aberto, geralmente com um elemento de água no centro, que impulsiona a ventilação. Por sua vez, os quartos concentram-se na área central e não possuem janelas, fator que pode parecer absurdo, mas não. Não ter janelas ajuda a regular a temperatura, já que 30% do calor indesejado entra por essas aberturas.

4) Ksars (Marrocos)

Se descermos dos riads das grandes cidades do norte de Marrocos em direção ao Deserto do Saara, vemos que muitas das casas das aldeias tradicionais – ou ksars – foram construídas com tijolos de barro, o material que melhor se adapta aos climas secos e quentes. Além disso, estas casas estão ligadas através de habitações compartilhadas, fator que reduz as superfícies exteriores e, portanto, ajuda a proteger o espaço das intempéries. Por fim, os ksars possuem muros altos e passarelas cobertas que proporcionam sombra, além de serem construídos próximos a um oásis para refrescar o ambiente e se protegerem das tempestades de areia.

5) Tapetes molhados (Egito, China ou Índia)

Durante a noite, os antigos egípcios colocavam nas janelas uma esteira de junco embebida em água e, em cima dela, um pequeno recipiente cheio de água com um furo que permitia o gotejamento para manter a esteira constantemente úmida. Graças a esta “invenção”, o impulso da brisa quente noturna permitiu refrescar o interior da casa aumentando a umidade do ar. Este sistema de resfriamento evaporativo também era comum em certas regiões áridas e tropicais da China e da Índia, neste caso utilizando esteiras feitas de grama ou palmeira.

*Matéria originalmente publicada na AD España.