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Existe relação entre obesidade e câncer em animais?

Existe relação entre obesidade e câncer em animais?

Estudo feito na cidade de São Paulo aponta que 40% dos cães estão no sobrepeso. Entenda se isso pode ser um agravante para o surgimento de câncer nesses pets

É cada vez maior o número de cães e gatos obesos que chegam nos consultórios veterinários Brasil afora. Ao menos, esta é a percepção dos especialistas consultados por Vida de Bicho para esta matéria: Bruna Stafoche, médica-veterinária no Hospital Veterinário da Universidade Anhembi Morumbi e Juarez Simões Nunes Junior, professor da Faculdade Pitágoras e mestre em ciência animal.

“É notável que atendemos animais obesos com maior frequência na rotina clínica. E os estudos mostram isso também, em um levantamento de 2020 na cidade de São Paulo, a prevalência de sobrepeso e obesidade em cães foi de 40%. É um número muito alto”, observa Bruna.

Com tantos animais domésticos acima do peso não é de se estranhar que surja a dúvida: será que há relação entre câncer e obesidade em animais? Segundo os profissionais, infelizmente, ainda não há uma reposta assertiva para esta pergunta.

“Em medicina humana temos evidências suficientes ligando a obesidade com maior risco de 13 tipos de câncer. Porém, na medicina veterinária não temos dados suficientes para fazer a mesma correlação, mais estudos são necessários”, explica Bruna.

Causas da obesidade

As causas da obesidade em cães e gatos são diversas, indo desde fatores genéticos, passando pela castração, ou mesmo a raça do animal e o avançar da idade. Porém, é a combinação de sedentarismo e má alimentação é o que mais influencia no peso dos pets.

“Infelizmente, o que vemos é um reflexo do tutor no próprio animal. Pessoas sedentárias e que se alimentam mal, acabam não gastando a energia dos seus pets e ainda compartilham a má alimentação com os bichinhos (…). Além disso, a oferta de alimentos com alta palatabilidade, geralmente os ricos em gorduras, geram um aumento de consumo alimentar, e, consequentemente, um saldo positivo de calorias diárias, que acabam sendo estocadas em forma de gordura corporal”, diz Juarez.

Problemas causados pela obesidade

Se a relação entre câncer e obesidade em cães e gatos ainda requer mais estudos, há algumas doenças que sabidamente são influenciadas pelo excesso de peso nos pets.

“De modo geral, cães obesos apresentam maior incidência de problemas articulares, hipertensão arterial sistêmica, hiperlipidemia (que é o aumento de gordura no sangue, como triglicérides e colesterol), colapso de traqueia e resistência a ação da insulina. Em gatos é muito comum o desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2’, alerta Bruna.

O tutor não deve iniciar por conta própria uma dieta no pet, isso é trabalho do veterinário (Foto: Pexels / Tima Miroshnichenko / CreativeCommons)
O tutor não deve iniciar por conta própria uma dieta no pet, isso é trabalho do veterinário (Foto: Pexels/ Tima Miroshnichenko/ CreativeCommons)

É possível prevenir?

A prevenção da obesidade tem relação com alimentação equilibrada e prática de exercício. Já o tratamento deve ser orientado por um médico-veterinário, visto que varia, conforme a causa.

“Primeiro, temos que definir qual a causa principal da obesidade, que na maioria dos casos, é multifatorial. Mas, basicamente, o que fazemos é reduzir de forma gradativa a ingestão de calorias, com algumas estratégias nutricionais, incluindo rações light e alimentos com grande volume de água e baixa caloria, como o chuchu”, esclarece Juarez.

Ele ainda diz que o segundo passo é a mudança nos hábitos do animal: “Indicamos nesse moemnto a prática de atividade física, de acordo com as condições do pet. E, caso a obesidade seja de causa hormonal, como no hipertireoidismo ou no hiperadrenocorticismo (doença de Cushing), o médico-veterinário pode ainda associar terapias hormonais.”

Será que o meu pet é obeso?

Os especialistas lembram que o tutor não deve iniciar por conta própria uma dieta no pet, pois saber se um animal está ou não obeso não é uma tarefa simples, devido à grande diferença entre as raças.

Assim, para saber se um animal é obeso ou não, os veterinários utilizam o escore de condição corporal (ECC), que, segundo Bruna, é “uma avaliação semi-quantitativa da composição corporal, que representa a porcentagem de gordura e a massa magra para um determinado peso.”

A veterinária explica ainda que, para definir o escore de um animal, são feitos exames físicos, observação visual e palpação, sendo que há uma escala de nove pontos para cães e gatos, na qual o ECC de valor um classifica o pet como caquético e o ECC nove o coloca na categoria de severamente obeso.