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Estudo mapeia áreas prioritárias de restauração da Caatinga para salvar espécies da extinção

Estudo mapeia áreas prioritárias de restauração da Caatinga para salvar espécies da extinção

Um recente estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), da Universidade Federal do ABC (UFABC) e da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o World Resources Institute (WRI), mapeou as “Áreas Prioritárias de Restauração da Caatinga”. O resultado da pesquisa foi publicado na revista científica “Journal of Applied Ecology”, e visa traçar estratégias para evitar a degradação de áreas da Caatinga, os efeitos das mudanças climáticas e a perda da biodiversidade do bioma.

De acordo com a pesquisa, essas áreas prioritárias para a restauração são microrregiões que necessitam de investimentos para que se evite a extinção de 350 espécies de plantas ameaçadas da Caatinga. “Essas 350 plantas ocorrem principalmente ou exclusivamente no bioma e se distribuem por uma área geográfica extremamente pequena. Caso elas sejam extintas destes locais, elas desaparecerão não só da Caatinga e do Brasil, mas do Mundo”, explica o pesquisador da UFRN e coautor do estudo, Carlos Roberto Fonseca.

Além disso, o pesquisador alerta sobre a importância de cada região para a mobilidade das plantas e dos animais pelo bioma. Segundo ele,  esse trânsito das populações é um fator importante para se enfrentar não só a fragmentação dos habitats naturais, mas também as mudanças climáticas que estão vindo por aí.  “Quando uma área seca, por exemplo, os animais têm que ser capazes de mudar para novos locais onde as condições estão mais favoráveis”, esclarece.

Identificação das áreas

Para identificar essas áreas, os pesquisadores dividiram o território da  Caatinga em cerca de 10 mil microrregiões, que são na verdade pequenas bacias de captação de chuva. Destas, cerca de 10% foram consideradas de prioridade alta e 1% foi considerado de prioridade muito alta. Além disso, foram descobertas 86 microrregiões que são consideradas de prioridade máxima por conterem, cada uma, mais de dez espécies de plantas ameaçadas de extinção e por serem essenciais para a mobilidade das plantas e dos animais pela Caatinga.  “O mais incrível é que descobrimos uma única microrregião, na Chapada Diamantina, que tem 106 espécies ameaçadas de extinção!”, ressaltou Fonseca.

parte do mapa do Brasil com o recorte da caatinga e legenda nas cores vermelha (alta), laranja (média) e amarela (baixa)O principal produto da pesquisa foi  um mapa mostrando todas as Áreas Prioritárias de Conservação da Caatinga e o seu grau de importância. Essas áreas de prioridade estão distribuídas por todos os Estados que possuem Caatinga.  Segundo Fonseca, esse é um dado importante por atribuir a responsabilidade de restauração do bioma não só ao Governo Federal, mas para todos os Governos Estaduais e Municipais.

Áreas em propriedades particulares

O estudo estima que 92% das Áreas Prioritárias estão em propriedades particulares. Esse fato atenta para a importância do engajamento dos proprietários dessas áreas nesse processo de restauração. “O cumprimento do Código Florestal, com a proteção das Reservas Legais (RLs) e das Áreas de Proteção Permanente (APPs) é um passo fundamental para proteger essas espécies da extinção. Aposto que muitos proprietários, se soubessem que têm dezenas de espécies exclusivas da Caatinga em suas terras, estariam dispostos a fazer mais, como investir em restauração ou mesmo criar uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) para deixar um grande legado à humanidade”, avalia o pesquisador.

Métodos de restauração

Novas tecnologias desenvolvidas pelo Laboratório de Ecologia da Restauração da UFRN têm tido muito sucesso no processo de restauração da Caatinga, principalmente por meio do plantio de árvores. Além disso, muitos trabalhos têm sido realizados pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) para recuperar o estrato herbáceo das espécies. O professor Carlos Roberto Fonseca destaca que cada área prioritária vai precisar de uma receita diferente para ser restaurada, mas que já há um avanço neste processo, nos últimos anos.

A pesquisa está alinhada com a Década da Restauração dos Ecossistemas (2021-2030), um compromisso assumido por muitos países junto à Organização das Nações Unidas (ONU) para deter a perda da biodiversidademitigar as mudanças climáticas e promover a justiça social. Para além disso, segundo Fonseca, a restauração vegetal é uma grande oportunidade de criar uma cadeia produtiva verde com potencial de gerar empregos diretos e indiretos para a população. “A restauração vegetal de grande escala necessitará de uma rede de coletores de sementesprodutores de mudasplantadoresvendedores de insumos, além de coletores e vendedores dos produtos da Caatinga. Muitas destas atividades podem ser feitas por cooperativas locais e comunidades tradicionais que têm um grande amor pela Caatinga e compreendem o valor de conservá-la”.

O estudo também alerta para a necessidade de urgência das ações de restauração, para que se tenha plenas condições de tirar essas espécies ameaçadas do risco de extinção. “Para isso, temos que agir agora.  Nosso trabalho traz objetivos claros para ações federais, estaduais e municipais, ou mesmo para empresas, ONGs e proprietários de terra que se preocupam com a biodiversidade da Caatinga”, finaliza Fonseca.