Esta startup cria revestimentos sustentáveis a partir das folhas de palmeira de buriti

Greentech é a única representante do Nordeste na delegação brasileira presente no GITEX Global, em Dubai, em 2024
Uma das espécies de palmeiras mais presentes no Brasil, além de servir de refúgio para aves, o buriti vira óleo para cosméticos e matéria-prima para artesanato. Agora, dois sócios transformaram a folha do buriti em revestimentos para isolamento térmico e absorção sonora para a construção civil. A Buriti BioEspuma nasceu como startup em 2023 e integra a delegação brasileira como expositora no Expand North Star, parte do GITEX Global, evento anual realizado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Apesar de constituída como empresa há pouco tempo, a ideia para o negócio surgiu do trabalho realizado pelos cofundadores, Felippe Fabrício e Renato Lemos Cosse, durante o doutorado de engenharia. Eles iniciaram os estudos há 15 anos, quando decidiram investigar a possibilidade de utilizar as folhas de buriti para revestimentos.
“Muito antigamente, as comunidades tradicionais já usavam o buriti para embarcações, que flutuavam. Hoje é um material meio marginalizado, usado para fazer gaiolas, mas a gente sabia que tinha um material leve, poroso e fibroso, como todos os isolantes térmicos”, comenta Fabrício.
Eles fizeram estudos de viabilidade comparando com outros materiais convencionais, como EPS, fibra de vidro e lã de rocha, descobrindo que o buriti tinha comportamento semelhante. A tese acadêmica virou negócio graças ao Centelha, programa da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
“Todos os absorventes sonoros e isolantes térmicos que existem hoje são de origem fóssil ou são de material altamente processado, com alta energia incorporada. Nossa vantagem é ser de fonte renovável, biodegradável e reciclável. É ciência e tecnologia pura do Brasil. Vendemos um material com pegada sustentável, mas com preço competitivo e desempenho similar”, pontua Fabrício.
Com um a dois ciclos de vida por ano, a palmeira de buriti está presente nos biomas Amazônico e Cerrado. As folhas já secas, que seriam descartadas naturalmente pelas palmeiras, são colhidas por cooperativas que vendem o material para a startup, garantindo uma renda extra. No momento, a Buriti BioEspuma trabalha com dois fornecedores da região do Vale do Rio Parnaíba, entre Maranhão e Piauí, mas já tem outras comunidades mapeadas para quando a escala aumentar.
“A gente não desmata a palmeira, eles não fazem só a extração, mas também o pré-beneficiamento, entregando o subproduto que utilizamos para produzir a espuma”, explica Fabrício.
O trabalho é feito sob demanda, a partir da compra das peças por arquitetos e designers, com a produção durando cerca de 40 dias. Para cair no gosto do público, a startup investiu em peças que se assemelham a madeira e com cores neutras, para combinar com diferentes tipos de projeto.
Além da participação no Centelha, a Buriti BioEspuma também foi contemplada por edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi) e busca novas oportunidades de financiamento para lançar mais produtos. Com sede em Teresina (PI), a Buriti BioEspuma é incubada na Universidade Federal do estado, onde montou a sua fábrica.
Mais do que capital de investidores, a startup busca entrar no mercado dos Emirados Árabes Unidos – mas a presença no Expand North Star já garantiu conversas marcadas com investidores de Malta, França, Índia e Portugal. “O nosso objetivo é achar um parceiro distribuidor e manter a fábrica no Brasil. No primeiro momento seria importação indireta, com risco menor. Aqui é interessante porque é um canteiro a céu aberto e estão em busca de inovação, querem sair dessa pegada do carbono, de ser baseado no petróleo”, afirma Fabrício.
Uma das portas de entrada é a professora Débora Barretto. Brasileira, ela é especialista em acústica e presta serviço de consultoria em Dubai. A profissional tem colocado os fundadores em contato com arquitetos locais e o objetivo é conseguir entrar na área de construção civil a partir desses especificadores.
*A jornalista viajou a convite do Dubai World Trade Centre.