Empreendedora faz sucesso com sapatos veganos feitos de material reciclado
Cecília Weiler, CEO da Urban Flowers, usa a criatividade para dar vida nova a produtos que já existem. Fabricação é artesanal e usa energia solar
Cecília Weiler, 25 anos, se diz muito curiosa e criativa. Desde pequena tinha o hábito de pesquisar sobre diversos assuntos. Aos 12 anos, por acaso, chegou a um documentário sobre o consumo de carne que impactou profundamente o seu modo de vida. Ela excluiu o alimento da sua dieta e se aprofundou em sustentabilidade e veganismo.
Weiler não imaginava, porém, que iria empreender neste ramo. Em 2013, aos 16 anos, após juntar R$ 600 reais com uma colega da escola, ela deu início ao que viria a ser a Urban Flowers, um e-commerce especializado em calçados veganos produzidos a partir de materiais reciclados. Hoje, a jovem e o sócio, Patrick Lenz — a colega acabou desistindo da empreitada —, administram a empresa que faz vendas para todo o Brasil e fatura em torno de R$ 107 mil por mês.
Mesmo que inconscientemente, Weiler foi influenciada pelo ambiente em que cresceu. Trata-se de uma das regiões de produção calçadista mais tradicionais do Brasil, o Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Seu pai e seu avô trabalhavam com revenda de produtos, o que fez com que ela conhecesse essa rotina de perto.
O empreendimento escolar, uma espécie de marketplace, não foi para a frente. Mas, em 2014, após juntar mais recursos, Weiler realizou o sonho de lançar sua primeira coleção autoral, já sob o nome Urban Flowers. Durante o processo, procurou principalmente materiais sem origem animal e de reuso. Além disso, entrou em contato com diversos fornecedores, entre eles, um especialista em calçados que a introduziu neste universo. “Me apaixonei pela produção de sapatos e, em pouco tempo, estávamos produzindo diversos modelos”, conta.
Cecília Weiler e Patrick Lenz, sócios da Urban Flowers/ — Foto: Divulgação
Apesar de estar empolgada com o empreendimento, a jovem entrou no curso de psicologia e, por três anos, manteve as duas atividades em paralelo. Em 2017, contudo, decidiu focar na empresa e abandonou a faculdade. Seu companheiro, Patrick Lenz, fez o mesmo e entrou como sócio da Urban. Completamente dedicado ao empreendimento, o casal traçou estratégias para tornar a marca mais conhecida. “Começamos a divulgar nas redes sociais, principalmente, em grupos relacionados ao veganismo no Facebook. A ideia deu muito certo, e a demanda aumentou tanto que tivemos de contratar duas pessoas para dar conta dos pedidos”, explica a empreendedora.
Até então, a empresa funcionava em uma sala alugada, de onde os dois controlavam a logística e o escritório. Em 2019, os empreendedores conseguiram dar um passo maior e adquiriram sua própria fábrica. “Este momento foi decisivo para a empresa. Conseguimos mais controle sobre a produção e mais liberdade para testar ideias sustentáveis”, conta Weiler.
Após dois anos de pesquisa, lançaram a coleção Rede Invisível, que usou redes de pesca coletadas na praia de Florianópolis para produzir sapatos e chamar atenção para o descarte desses materiais nos oceanos. A marca também produz ecobags a partir de tecidos de guarda-chuvas coletados por catadores da região do Vale dos Sinos.
Os principais produtos, porém, seguem sendo os calçados, como tênis, botas, sapatos e sandálias, em que o utilizados tecidos descartados por grandes indústrias, borracha reciclada nas solas e palmilhas feitas de resíduos de cana-de-açúcar, entre outros materiais de reuso. Tudo é produzido à mão, por seis artesãos locais, e as vendas ocorrem 100% através do site da marca.
Sapatos da Coleção Rede Invisível da Urban Flowers, produzidos com redes de pesca para chamar atenção ao descarte desses materiais no oceano. — Foto: Divulgação
Ademais, toda a energia utilizada na fábrica vem de placas solares, os resíduos orgânicos produzidos são compostados e os tecidos que sobram ganham vida nova e se tornam máscaras ou almofadas para cachorros. Tudo isso fez com que 98% dos materiais produzidos na empresa fossem reutilizados, e a Urban Flowers ganhasse o selo de lixo zero. Desde que começou, a marca já contribuiu para o reuso de 2.967 unidades de garrafas PETs, 240 guarda-chuvas, 1,5 tonelada de borrachas recicladas e 9.200 metros quadrados de tecidos.
Pensando em promover economia circular, a fundadora oferece também descontos aos consumidores que retornarem os produtos que não utilizam, para que eles possam ser reaproveitados. Em relação ao futuro, Weiler diz que pretende continuar digital e desenvolver cada vez mais a plataforma da Urban Flowers, além de inspirar mais empreendedores a aderirem a práticas de produção sustentáveis.
Desdo começo do ano, toda energia da fábrica é obtida a partir de placas solares. — Foto: Divulgação