Anchor Deezer Spotify

Embrapa ajuda produtores rurais a reduzir emissão de gás metano

Embrapa ajuda produtores rurais a reduzir emissão de gás metano

Dez por cento das fazendas de gado de corte no país já funcionam de forma autossustentável.

Com a ajuda da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), produtores rurais de várias partes do Brasil estão mudando a forma de fazer pecuária, de uma atividade que mais emite gases do efeito estufa, para uma autossustentável.

Dez por cento das fazendas de gado de corte no país já funcionam dessa forma, mas é preciso avançar mais.

Segundo o Observatório do Clima, o Brasil está entre os cinco maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta. Um desses gases é o metano, gás liberado pelo gado pela narina e pela boca durante o processo de digestão.

Este processo faz com que, segundo o Observatório, 71% da emissão de metano no país venham da pecuária.

Pesquisadores da Embrapa vêm desenvolvendo técnicas para auxiliar produtores na criação mais sustentável de gado – com menor emissão de gás metano. E tudo isso começa melhorando a qualidade da comida oferecida aos animais.

O pesquisador Alexandre Berndt explica que uma alimentação mais nutritiva, com capim, grãos, ou rações enriquecidas com milho, soja e até algas, consegue reduzir a fermentação e consequentemente diminuir a emissão de metano.

“É importante que a gente melhore sempre a nutrição dos animais porque isso vai contribuir de duas formas para as emissões de metano especialmente. Um alimento de melhor qualidade, ele é mais digestível, tem uma digestão melhor e emite menos metano por causa disso. E ao ser um alimento mais nutritivo, ele também permite o encurtamento do ciclo de produção, evitando que o animal emita gases enquanto não está crescendo, por exemplo”, diz Berndt.

Numa fazenda em Mato Grosso, o produtor implementou o que os cientistas chamam de integração lavoura-pecuária-floresta – sistema que reúne no mesmo espaço essas atividades. No sistema integrado, o gado é criado num terreno onde antes havia uma lavoura. Com isso, a terra é mais rica em nutrientes com proteínas e minerais, aproveitando matéria orgânica da plantação anterior.

Com um pasto bem manejado, as árvores contribuem para a sustentabilidade retirando naturalmente gás carbônico da atmosfera.

“Todo esse sistema integrado é positivo. Tanto para o produtor rural que já tem esse cuidado pelo meio ambiente como para sociedade com menor emissão de metano e uma melhor sustentabilidade no negócio como um todo”, afirma Daniel Wolf, produtor rural.

Enquanto o gás metano é liberado pelo gado, o gás carbônico – ou CO2 – é retirado da atmosfera pela floresta e pelas raízes das pastagens. Por isso, os cientistas falam em compensação, porque não é possível eliminar totalmente o gás metano emitido pelo gado.

Mas por outro lado é possível – com a existência da floresta nesses sistemas integrados com pastagens – compensar essa emissão de metano com a retirada de carbono da atmosfera contribuindo assim para o meio ambiente.

“Ocapim ao crescer, ao se desenvolver, ao rebrotar e dar, e ser o alimento do animal, as raízes desse capim ao morrer incorporam esse carbono ao solo. Então, esse que é o grande potencial da agricultura que outros setores não têm. Que é a remoção do carbono da atmosfera. Então, quando a gente faz essa conta aí, esse balanço, ele costuma ser mais favorável principalmente nos sistemas mais eficientes com os sistemas integrados” explica Roberto Giolo, pesquisador da Embrapa.

“Ganha o produtor que tem uma maior produtividade, uma maior eficiência, os custos de produção baixam. E ganha o país porque o país é reconhecido por ter ou desenvolver tecnologias importantes de eficiência da produção. E ganha o consumidor também que é aquele está do outro lado da ponta ao receber um produto que é menos impactante no caso, gás de efeito estufa, então uma menor emissão de gás efeito estufa naquele produto que ele estará consumindo”, acrescenta o pesquisador ao falar sobre a eficiência desse sistema integrado.

Atualmente, no Brasil, segundo a Embrapa, cerca de dezessete milhões de hectares possuem algum tipo de sistema integrado. O que corresponde a 10% do total de áreas de pastagem. Um número que ultrapassa a meta que foi estabelecida pelo plano ABC do governo federal que era chegar em 2020 com 4 milhões de hectares.

Agora, a meta para 2030 é alcançar mais 10 milhões de hectares de produção mais sustentável, segundo o ministério da Agricultura.

“E o que a gente precisa fazer, o que o Brasil precisa fazer para poder ter maior alcance dessas estratégias de mitigação, é ganhar escala. A gente precisa de mais produtores. A ciência sem os produtores associados, junto, adotando essas boas tecnologias, a gente não alcança essas metas de mitigação. Se você tiver uma pastagem degradada, por exemplo, a própria pastagem emite gases, ela não tem capacidade de suporte para aquela produção. É o pior cenário possível. Se a gente pegar o pior cenário da pastagem degradada e comparar com o melhor que seria pastagem bem manejada, com tecnologia correta, essa redução pode ser maior que 50%”, conclui o pesquisador Alexandre Berndt.