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EL NIÑO: Conheça o vilão que está fazendo você assar muito antes do verão

EL NIÑO: Conheça o vilão que está fazendo você assar muito antes do verão

Está muito calor, não é mesmo? E bem antes do que a gente está acostumado, normalmente quando vem chegando o verão.

Bem-vindo ao novo normal, caro leitor. O que estamos vivendo nesta reta final de inverno é a combinação drástica entre os efeitos das mudanças climáticas, que já chacoalharam os padrões das estações, e o mais temido dos fenômenos meteorológicos: o El Niño. ‘O menino’, na tradução do espanhol, pode fazer de 2023 e 2024 os anos mais quentes registrados na História.

De hoje a sábado, o Tem que ler, produto do GLOBO exclusivo para assinantes, mergulha nas causas e nas consequências do El Niño, para você entender como e por que está assando já quando o sol nasce e saber como driblar o calor infernal.

O VERDADEIRO PLANETA VERMELHO

Preste muita atenção na figura animada abaixo.

Em 40 segundos, usando jogo de cores, ela vai revelar como a temperatura anual se comportou ao longo de quase 200 anos. Há muito demos adeus ao frescor azul de 1850: nossa realidade está pintada em ardente vermelho na última década.

E o El Niño torna o que estava ruim em algo bem pior. Nas palavras da Organização Meteorológica Mundial (OMM), estamos dando um “mergulho no desconhecido”.

PISCINA DE ‘500 MIL BOMBAS DE HIDROGÊNIO’

O El Niño é uma oscilação natural do clima, caracterizada pela elevação da temperatura média da água do Oceano Pacífico Equatorial em pelo menos 0,5 graus Celsius por três meses consecutivos.

A partir deste ponto, o Pacífico vira uma piscina de água quente do tamanho da Amazônia brasileira, com uma quantidade de energia acumulada equivalente a 500 mil bombas de hidrogênio de 20 megatons. Ou a um milhão de usinas gerando 1.000 MW de eletricidade por um ano.

Como o oceano interage o tempo todo com a atmosfera, tamanho calor muda o regime de ventos. E dá-se início a alterações climáticas em escala global, com eventos extremos.

O Oceano Pacífico é a região da Terra que mais recebe radiação solar, e esta energia é estocada em forma de calor, que evapora.
Em tempos normais, os ventos alísios ajudam a distribuir este calor, empurrando a água quente em direção à Ásia, dando origem às monções, por exemplo.
Quando a temperatura do oceano sobe acima de 0,5 graus Celsius, o regime de ventos é alterado. Os ventos alísios ficam mais fracos.
Sem o empurrão dos ventos alísios, a água quente fica concentrada no Centro e no Leste do Pacífico, mudando a forma como o calor é distribuído na atmosfera terrestre.
Este desequilíbrio desencadeia eventos extremos, como chuvas torrenciais na América do Sul e secas escaldantes na Ásia e na Oceania.
São observadas ainda ondas de calor em pontos da Terra como o Brasil, o que vivemos agora, e até mesmo episódios de frio, como esperado no hemisfério Norte.

O GRAU DE MALDADE DO MENINO

O El Niño vai de fraco, quando o Pacífico esquenta mais próximo de 0,5 grau Celsius, até super, quando as águas aquecem a 2,5 graus Celsius.

NEUTRALIDADE (2012-2013)

EL NIÑO “FRACO” (2018-2019)

SUPER EL NIÑO (2015-2016)

O El Niño atual, que se formou em junho e ganhou força a partir de julho, já elevou a temperatura em 1,4 grau Celsius. Existe a possibilidade de que se torne um super El Niño.

Não é possível precisar até quando ele vai durar, mas a Agência de Oceanos e Atmosfera dos EUA diz que há 95% de chances que ele se fortaleça de dezembro a fevereiro de 2024.

TRAGÉDIAS, DESASTRES… O INIMIGO ESTÁ SOLTO

Mesmo sem sabermos ainda qual a intensidade deste El Niño e por quanto tempo ele vai durar, nós já estamos arcando com seus efeitos.

Além da onda de calor que tornou este fim de inverno um dos mais quentes da História, desastres já se concretizaram antes mesmo do pico do fenômeno. No Brasil, tivemos as avassaladoras enchentes no Rio Grande do Sul.

NO SUL DO BRASIL, UM RASTRO DE DESTRUIÇÃO

Créditos: Silvio Ávila/AFP

O El Niño atual é o pior tipo para a América do Sul, mais concentrado na costa do continente do que no centro do Pacífico. Isso significa perigo de mais anomalias de chuva no Brasil. Foi o que ocorreu com a passagem do ciclone extratropical pelo Rio Grande do Sul no início do mês, afetando 106 cidades e deixando 49 mortos e dez desaparecidos.

Nos EUA, testemunhamos o horror dos destruidores incêndios na ilha de Maui, no Havaí.

E o El Niño tem uma má companhia adicional: o aquecimento de todos os oceanos está em níveis alarmantes em 2023.

EM MAUI, O FOGO ARRASOU O QUE ENCONTROU

Créditos: Patrick T. Fallon/AFP

Em agosto, incêndios florestais devastaram a principal cidade da ilha havaiana de Maui, deixando 106 mortos. Uma combinação de fatores contribuiu para a perda de controle de um pequeno incêndio. Um deles está ligado ao El Niño: a intensificação dos ventos provocados pelo furacão Dora.

E PODE FICAR PIOR?

Pode. Sem rodeios.

Temos uma situação diferente da do último El Niño forte, em 2015-2016. Primeiro, as mudanças climáticas estão mais evidentes. Segundo, os oceanos, o Atlântico em particular, também estão mais quentes. Ou seja, em 2023 os eventos climáticos já estavam extremados antes mesmo do Niño dar o ar da (des)graça.

Segundo as estimativas atuais do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o pico dos efeitos do atual El Niño no Brasil será em dezembro. Ele provavelmente se estenderá até o outono de 2024.