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eB Capital investe na economia circular do plástico e anuncia criação de megaplataforma de reciclagem

eB Capital investe na economia circular do plástico e anuncia criação de megaplataforma de reciclagem

Gestora vai fazer investimento inicial de até R$ 200 milhões em empresa com foco em PET e depois ampliar olhar para outros tipos de plástico

Depois de mirar na expansão da fibra ótica e da educação técnica profissionalizante, a eB Capital vai entrar de cabeça na economia circular. Sempre focada em setores com lacunas estruturais no país, demanda reprimida e grande potencial de crescimento, a gestora de private equity anunciou a estruturação de uma plataforma voltada para a circularidade de materiais. E o primeiro passo nesta direção é a aquisição de 60% da companhia de reciclagem Green PCR, com um compromisso de alcançar até R$ 200 milhões de investimento em 3 anos.

“Tem um gap muito grande entre oferta e demanda e uma necessidade de expansão de capacidade produtiva muito latente, então nosso dinheiro entra em uma parte para isso e uma parte para modernização, não só expansão volumétrica, mas modernização do parque fabril também”, conta Renan Pereira Henrique, diretor na eB Capital. A Green PCR é referência no setor e atua no mercado há mais de 20 anos.

Foi pioneira no processo “bottle-to-bottle” de PET, ou seja, na produção de garrafas feitas com material reciclado proveniente de garrafas usadas, e também na aplicação de resinas recicladas em embalagens de alimentos. “O nosso desenho de plataforma envolve focar nos mercados mais nobres, que vão ser os mercados mais protegidos quando você olha como oportunidade de negócio também. O ponto da coleta é um gargalo, mas se a gente tiver tecnologia para focar nas aplicações mais nobres, você automaticamente vai poder pagar mais pelo resíduo e você vai gerar a coleta”, afirma o diretor.

Renato Caruso, fundador e CEO da Green PCR, tem formação técnica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e começou a trabalhar no setor de reciclagem ainda no final dos anos oitenta, quando o assunto estava longe de ter a popularidade alcançada hoje. Desde então, ele vem expandindo a companhia até alcançar um faturamento de R$ 265 milhões. E recentemente passou a buscar aliados para viabilizar uma crescimento ainda maior. “Mais ou menos no tempo que a eB estava em busca de um negócio de reciclagem para investir, a gente também estava procurando um jeito de crescer”, conta Caruso.

A empresa tem sede em Campinas (SP) e conta com unidades fabris em Poços de Caldas (MG), Itobi (SP) e Conde (PB). Possui hoje participação de mercado de 24% e fornece insumos para a indústria de alimentos e de cuidados pessoais, atendendo a grandes empresas como Coca-Cola (Coca-Cola, Femsa e Solar), Ambev, Colgate e Ypê. Sucateiros, intermediadores, centrais de triagem mecanizadas, cooperativas e catadores fazem parte da base de mais de 60 fornecedores de PET descartado que é recebido pela Green PCR.

Luciana Antonini Ribeiro, cofundadora da eB Capital, lembra que hoje as grandes corporações que fazem uso desse material em suas embalagens possuem obrigatoriedades e metas de reciclagem que precisam cumprir, por isso, o mercado pode ser considerado de alto potencial de crescimento. Ela afirma que estas empresas “têm que reciclar algo em torno de 30 a 50% de acordo com as suas metas individuais e com as legislações às quais elas estão subordinadas. Então tem um gap aqui imenso entre quantidade de reciclagem hoje no Brasil e o que precisa se chegar, em um curtíssimo espaço de tempo, considerando que essas metas são para serem cumpridas até 2030”.

O mercado de reciclagem de PET é hoje o mais bem desenvolvido do país quando falamos de plástico. Caruso conta que atualmente o Brasil consegue reciclar cerca de 70 mil toneladas por mês, o que representa aproximadamente a metade do PET gerado por aqui. “A gente recicla mais ou menos 50%. Desses 50%, um terço, ou cerca de 40%, vai para a parte de embalagem de volta”, diz ele.

Unidade da Green PCR em Itobi (SP) — Foto: Divulgação

Unidade da Green PCR em Itobi (SP) — Foto: Divulgação

Tiago Wigman, sócio da eB Capital, afirma que o investimento começou com a Green PCR, que hoje é focada em PET, mas que a visão da gestora é que a plataforma olhe para outros polímeros de relevância, como por exemplo o PP e o PE rígido e também o flexível. Wigman diz que, desta forma, é possível contribuir melhor com o fomento da cadeia de separação de resíduos no país. Segundo ele, a soma de PET com PP e PE e os flexíveis representa algo em torno de 80 a 85% da produção de plástico no país e esses três tipos de material já contam com tecnologia suficiente para serem reciclados.

Hoje, quando a cooperativa, o catador e o aparista olham para o plástico, eles têm uma certa insegurança se vai ter demanda para aquele tipo. A gente quer tirar essa incerteza e falar ‘nós somos recicladores de todos os tipos de plástico’. Isso resolve o problema também para frente, com os clientes, porque eles consomem.
— Tiago Wigman, sócio da eB Capital.

Apesar da tecnologia para reciclar grande parte do que produzimos já existir, o Brasil recicla apenas 10% do plástico que gera, lembra Antonini Ribeiro. E, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mais de R$ 8 bilhões em materiais vão para aterros em vez de serem reciclados no país. Um desperdício de matéria-prima para a economia circular em um mercado que tem grande potencial de expansão. Mesmo sendo um ano de pandemia, 2020 viu o índice de reciclagem do plástico aumentar 5,8%, segundo um estudo encomendado pelo Plano de Incentivo à Cadeia do Plástico (PICPlast).

Luciana Antonini Ribeiro, Tiago Wigman e Renan Pereira Henrique, da eB Capital, com Renato Caruso, fundador e CEO da Green PCR — Foto: Divulgação

Luciana Antonini Ribeiro, Tiago Wigman e Renan Pereira Henrique, da eB Capital, com Renato Caruso, fundador e CEO da Green PCR — Foto: Divulgação

A eB Capital estuda a possibilidade de viabilizar mais quatro grandes aquisições e um IPO (uma abertura de capital com oferta de ações) no futuro da nova megaplataforma. “O tema do plástico tem várias vertentes, a gente tem o tema de aquecimento global, que é relevante, o de poluição dos oceanos, que é fundamental. Eu tenho uma visão estritamente financeira de muito retorno para os investidores, mas tem um lado muito importante de ser um investimento que vai no core [coração] de uma política ambientalmente mais responsável”, resume Luciana Antonini.