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Duas novas espécies de aves venenosas são descobertas na Nova Guiné

Duas novas espécies de aves venenosas são descobertas na Nova Guiné

Pesquisadores da Dinamarca descrevem a presença de neurotoxina nas penas de pássaros típicos do sudoeste do Oceano Pacífico — a mesma encontrada em rãs venenosas das américas

Quando se fala em espécies venenosas, é improvável que as aves venham à sua cabeça, certo? Mas elas existem. Pesquisadores da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, se embrenharam em uma floresta tropical da Nova Guiné e descobriram duas novas espécies de pássaros com habilidade de produzir veneno.

“Essas aves contêm uma neurotoxina que podem tolerar e armazenar em suas penas”, diz Knud Jønsson, pesquisador do Museu de História Natural da Dinamarca, em nota. As espécies recém-descobertas são Pachycephala schlegelii , que pertence a uma família de aves da região do Indo-Pacífico, e Aleadryas rufinucha.

A revelação da presença de veneno nesses pássaros está descrita em artigo publicado no periódico Molecular Ecology em fevereiro. A primeira vez que os pesquisadores dinamarqueses suspeitaram dessa característica foi quando descobriram que os moradores locais evitam consumi-las por serem “picantes”. E também que tocá-las produzia uma sensação incômoda.

Pássaro da espécie "Pachycephala schlegelii", também venenoso — Foto:  Ian Shriner

Pássaro da espécie “Pachycephala schlegelii”, também venenoso — Foto: Ian Shriner

Segundo os autores, há duas maneiras pelas quais os animais utilizam venenos. Existem aqueles venenosos que produzem toxinas em seus corpos e outros que absorvem toxinas de seus arredores. No caso das aves estudadas, ainda não está clara a origem.

Aves 🤝 rãs

O veneno encontrado nas aves da Nova Guiné é a batracotoxina. Essa é uma neurotoxina que, em altas concentrações pode causar cãimbras musculares e parada cardíaca quase imediatamente após o contato. Ela pode ser encontrada em altas doses em rãs venenosas douradas típicas das américas Central e do Sul.

Os pesquisadores resolveram investigar se, assim como esses anfíbios, as aves apresentavam mutações genéticas que as impedem de se autointoxicar. “Curiosamente, a resposta é sim e não. As aves têm mutações na área que regula os canais de sódio, e esperamos isso que lhes dê essa capacidade de tolerar a toxina, mas não exatamente nos mesmos lugares que as rãs”, explica Kasun Bodawatta, coautor do estudo.

O momento exato em que um dos pesquisadores, Kasun Bodawatta, coleta uma amostra de um dos passáros — Foto: Knud Jønsson

O momento exato em que um dos pesquisadores, Kasun Bodawatta, coleta uma amostra de um dos passáros — Foto: Knud Jønsson

Embora a neurotoxina seja semelhante à das rãs venenosas, as aves desenvolveram sua resistência de outra forma. Esse é um exemplo da chamada evolução convergente, que se caracteriza quando organismos de diferentes linhas evolutivas são expostos a condições semelhantes de sobrevivência por um longo período e se adaptam de maneira semelhante.

A pesquisa pode contribuir não só para uma melhor compreensão sobre as aves da Nova Guiné, mas também como diferentes espécies adquirem resistência a toxinas e as usam como mecanismo de defesa.

Fonte:  Galileu