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Disponibilidade de água pode diminuir até 40% nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e em parte do Sudeste até 2040

Disponibilidade de água pode diminuir até 40% nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e em parte do Sudeste até 2040

Análise da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) também indica um aumento substancial no número de trechos de rios intermitentes no futuro

A disponibilidade hídrica (água disponível para uso) pode cair até 40% em regiões hidrográficas do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e parte do Sudeste até 2040 por conta da mudança climática, aponta a primeira edição do estudo Impacto da Mudança Climática nos Recursos Hídricos do Brasil, lançado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) na quarta-feira (31 de janeiro).

As projeções indicam também um aumento substancial no número de trechos de rios intermitentes (que secam temporariamente) no futuro nessas regiões, afetando o abastecimento de água nas cidades, a geração de energia hidrelétrica e com impactos particularmente para a agricultura de subsistência.

Além disso, os riscos para a saúde poderão se exacerbar com as taxas de crescimento populacional regional e as vulnerabilidades nos sistemas de abastecimento de água, saneamento, gestão dos resíduos e poluição.

A única região do país em que se verificou uma tendência de aumento da disponibilidade hídrica foi a Sul – 5% até 2024 –, porém, com uma maior imprevisibilidade e um aumento da frequência de cheias e inundações, como vem ocorrendo nos últimos anos.

Com relação ao Sudeste, ainda apresenta certa divergência entre os resultados dos modelos, mas predomina, sobretudo na faixa litorânea, a tendência de redução nas vazões em função da mudança climática.

Três cenários

Reportagem do Valor destaca que o estudo foi elaborado por meio de um amplo conjunto de dados climáticos, tanto do presente quanto projetados para o futuro, e de modelagem hidrológica, usada para obter as vazões das bacias.

Como resultado, foram produzidos cenários futuros de disponibilidade hídrica para mais de 450 mil trechos da Base Hidrográfica Ottocodificada (BHO), considerando três horizontes temporais: de 2015 a 2040, de 2041 a 2070, e de 2071 a 2100.

Os critérios analisados foram: níveis de precipitação, evapotranspiração (evaporação da água impulsionada pelas altas temperaturas), disponibilidade hídrica. Em se tratando de precipitação, se observou uma tendencia de diminuição para a maior parte das regiões hidrográficas, a exceção de Uruguai e Atlântico Sul.

No quesito evapotranspiração, prevê-se altas nas regiões hidrográficos da Amazônica, do Paraguai e do São Francisco e menos pronunciados nas do Uruguai e Atlântico Sul. Para a disponibilidade hídrica, observa-se um comportamento similar ao da precipitação, com tendência de diminuição da vazão para a maior parte das regiões hidrográficas, à exceção das regiões Uruguai e Atlântico Sul.

“Em contextos de grandes incertezas, como é o caso do impacto da mudança climática nos recursos hídricos, deve-se buscar soluções com duas grandes características: que sejam robustas para lidar com os mais diferentes e possíveis cenários futuros e que sejam flexíveis o suficiente para possibilitar mudanças de rumo na medida que determinado cenário vá se concretizando. O desafio é identificar um conjunto de medidas de adaptação que garantam a segurança hídrica no Brasil diante de múltiplos cenários factíveis”, aponta o estudo.

Para lidar com essas questões, a ANA orienta que primeiro sejam adotadas estratégias de adaptação consideradas de nenhum ou baixo “arrependimento”. Por exemplo, aumentar a eficiência hídrica dos sistemas de irrigação, reduzir perdas nas redes de abastecimento de água, aprimorar os instrumentos da política nacional de recursos hídricos ou melhorar a governança e a capacidade dos órgãos gestores de recursos hídricos.