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dicas para comprar tudo de que seu filho precisa sem agredir o meio ambiente

dicas para comprar tudo de que seu filho precisa sem agredir o meio ambiente

Quando o assunto é enxoval do bebê, a ideia de que é melhor pecar pelo excesso é coisa do passado. A tendência agora é fazer escolhas conscientes, reutilizar roupas e objetos, comprar produtos sustentáveis e, de quebra, aliviar o impacto na natureza (e no bolso!)

Aquele impulso de sair comprando roupas e acessórios para o bebê a partir da descoberta da gestação vem, aos poucos, dando lugar a escolhas mais conscientes. Exemplo disso é a atitude da consultora de sustentabilidade Aline Matulja, 37. Apesar de estar esperando a primeira filha, ela começou a organizar o enxoval de Tiê, hoje com 6 meses, só no terceiro trimestre de gestação. Preparou uma planilha e escreveu tudo o que, como mãe de primeira viagem, achava que um bebê precisaria. Compartilhou suas ideias com amigos e familiares e, pegando uma dica aqui e outra ali, foi deixando sua lista de compras cada vez mais enxuta.

“Avaliei os comentários das pessoas e, se ficava em dúvida se precisaria ou não, deixava para investir depois. No fim das contas, consegui muitas coisas de segunda mão, e quando vi, já tinha roupa para trigêmeos! Quase não precisei comprar nada. Eu, que trabalho com sustentabilidade, entendi que os itens mais importantes para um enxoval consciente são informação e rede de apoio”, diz. Olha aí a rede de apoio tão necessária na maternidade sempre…

O que Aline fez é uma tendência. “Os fabricantes e fornecedores de produtos de puericultura estão começando a abraçar um discurso de sustentabilidade e apostar em produtos mais eco-friendly. O consumidor no Brasil ainda não está totalmente preparado para isso, mas esperamos que seja um movimento daqui a uns anos”, explica Fabiana Milan, gerente de marketing da rede de lojas Alô Bebê.

Tudo o que produzimos e consumimos – desde que nascemos – gera impacto na natureza. Por isso mesmo, zerar nossa pegada ecológica na hora de se preparar para a chegada do bebê é uma tarefa quase impossível. Mas, com planejamento, informação e pequenos ajustes na rotina, dá para pensar em um enxoval que dê conta de tudo o que a criança precisa e ainda ajude o meio ambiente. Vamos lá?

Ed 333 Menos e mais (Foto: Getty Images)
(Foto: Getty Images)

Vestuário

Sejamos sinceros: não é fácil resistir à tentação de encher o carrinho com roupas para bebê. Mas é preciso ter em mente que, nos primeiros meses de vida, a criança cresce muito rápido e, de uma hora para a outra, as roupas não servem mais. Para não correr o risco de perder peças pouco utilizadas ou ainda com etiqueta, invista só no que vai ser usado para valer, como os bodies, por exemplo. Em contrapartida, os calçados, tão fofos e irresistíveis, não serão necessários até por volta dos 10 meses dos pequenos, por exemplo.

“O armário de bebê deveria ser naturalmente enxuto, com peças neutras e que combinem entre si. Uma dica é, na gravidez, se preparar para o que vai precisar nos primeiros três meses, e deixar para comprar o resto depois, aos poucos, conforme a necessidade”, diz Paula Laffront, consultora de compras conscientes e de enxoval de bebê. Na hora de escolher as peças, sempre que possível, prefira tecidos orgânicos e de fibras naturais, como o linho e o algodão.

O importante é entender bem qual é o estilo de vida da família e adaptar o armário do seu filho à rotina que vocês têm. Se moram em uma cidade fria, não faz sentido adquirir maiôs, por exemplo. Ou investir logo de cara em casaquinhos e roupas de inverno, se o seu filho for nascer em estações mais quentes.

Foi exatamente essa lógica que Aline Matulja, do começo da reportagem, seguiu. Todo o guarda-roupa da filha foi montado com peças doadas ou de segunda mão. Quando a família precisou viajar para uma região mais fria, recorreu a um serviço de aluguel de roupas para crianças. “Alugamos um kit inverno e adorei a experiência. Dá até para usar tecidos mais sustentáveis, que costumam ser mais caros, porque o preço se dilui para várias famílias”, explica.

Ed 333 Menos e mais (Foto: Getty Images)

Higiene e saúde

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), o Brasil é um dos três países que mais consomem fraldas descartáveis no mundo, ficando atrás só dos Estados Unidos e da China. Um estudo da Agência Ambiental do Reino Unido mostrou que uma criança usa, em média, quatro fraldas por dia (sabemos que, no início, o número vai bem além disso). Depois de dois anos, são quase 3 mil fraldas e 874 kg de dejetos que vão direto para o lixo.

Mas é possível amenizar esse impacto ambiental. A dica de Ana Paula Silva, empreendedora social e idealizadora da linha Bebês Ecológicos, da Morada da Floresta (SP), é incluir modelos de pano no enxoval, que podem ser reutilizados depois de lavar. Se bem conservados, acompanham a criança do nascimento até a fase de desfralde e o melhor de tudo: sem gerar lixo! Mas sabemos que, na correria do dia a dia, nem sempre essa opção é 100% viável para todas as famílias. Então, que tal fazer o possível, respeitando o que sua rotina permite? Você pode usar as de tecido quando estiver em casa e as descartáveis quando for passear ou viajar, por exemplo. Escolher uma troca do dia com a de pano, criar um dia na semana somente com essa opção… Cada pequena atitude conta!

A regra do “menos é mais” também vale para a hora do banho. “Nos primeiros meses de vida, a pele é extremamente imatura e acaba absorvendo qualquer tipo de químico que colocamos nela. Por isso dizemos que quanto menos produtos de higiene o bebê usar, melhor”, explica a pediatra Ana Mósca de Cerqueira, do Departamento Científico de Dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Segundo os pediatras, a higiene do xixi e cocô, por exemplo, pode ser feita com algodão e água corrente. Deixe a opção dos lencinhos descartáveis para quando isso não for possível. Também não é preciso exagerar ou fazer estoque de hidratantes, óleos, perfumes, xampus e condicionadores. “Se for incluir na lista, consulte o pediatra e recorra a produtos com fórmulas próprias para bebês”, diz Ana. E não custa lembrar: sempre que possível, prefira os produtos com embalagens que tenham refil ou que sejam reaproveitadas ou recicladas.

Acessórios

Uma dica de ouro quando pensamos em um enxoval com menos impacto ambiental é fugir das listas prontas. Conversar com amigos, familiares e conhecidos que já tiveram filhos é uma boa para entender quais itens são essenciais e quais podem ficar de fora, assim como fez Aline, pelo menos num primeiro momento – e, quem sabe, até encontrar alguém que possa emprestar algo ou vender por um preço mais camarada. Isso vale principalmente para os acessórios, como carrinho e bebê conforto, brinquedos e gadgets, como aquela babá eletrônica pouco usada da sua amiga.

“Nos últimos anos, observamos uma tendência de busca de compra de acordo com o estilo de vida da família, principalmente em relação a itens maiores, como carrinhos, cadeirinhas e banheiras. Por mais que ainda não exista uma consciência ambiental, as pessoas já entenderam que comprar só o necessário é o melhor também para o bolso”, diz Fabiana Milan.

Na prática, isso quer dizer que você não precisa investir, por exemplo, em dois carrinhos de bebê para passeio, de tamanhos diferentes. Ou, então, comprar  logo de cara uma cadeira de alimentação. Vale sempre a regra: na dúvida, não compre e espere a necessidade surgir. “Um enxoval consciente não significa ter 100% dos produtos eco-friendly. Também não é sobre comprar menos, mas, sim, sobre comprar melhor. Uma pequena adaptação da família já ajuda e beneficia o bebê e o planeta”, explica Lory Buffara, consultora de enxoval e CEO da Mommy’s Concierge.

Decoração

Na casa da professora de inglês Daiane Nascimento, 27, até o quarto da filha Eliz, 5 meses, entrou na onda da sustentabilidade. Ela não precisou investir em quase nenhum móvel ou item de decoração. Um guarda-roupa antigo foi reformado, o bufê da sala se transformou numa cômoda, os poucos enfeites foram adquiridos com artesãos e o berço foi comprado de segunda mão, num grupo de desapegos na internet. “Antes, a única coisa que vinha à minha cabeça quando pensava em enxoval consciente eram as fraldas ecológicas. Mas aí fui organizando as coisas da bebê e vi que a gente poderia fazer muito mais que isso”, diz.

Segundo a consultora de compras Paula Laffront, o reaproveitamento é um dos pilares de um enxoval sustentável. Se os móveis e os objetos de decoração são de boa qualidade, eles podem (e devem) ser reutilizados. Basta dar uma cara diferente se quiser inovar. “Ficamos com uma ideia na cabeça de que temos de receber o bebê de um jeito especial e achamos que isso significa gastar dinheiro e comprar muitas coisas. Mas, na verdade, seu filho não precisa ter o enxoval das celebridades. O amor e o cuidado que você dedica para a chegada dele já são especiais o suficiente”, finaliza.

Passa e repassa

Para encontrar itens de segunda mão (e de boa qualidade) para o enxoval do bebê:

• Converse com amigos, conhecidos e familiares

• Garimpe em brechós físicos e online

• Recorra a grupos de desapegos na internet

• Contrate serviços de aluguel de roupas e acessórios