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De lajedos, sombras e suspiros

De lajedos, sombras e suspiros

Estado de graça


Em estado de graça, não faço nada. Num Infinito de estrelas e amores – Perfeitos Só contemplação… Em estado de graça, sou tudo e sou nada. Tenho flores, perfumes, tenho luz Sem peso, tenho asas no coração. E vou aonde quero, num passeio sem fim. Em estado de graça não me falta nada O amor e o céu vêm juntos a mim.

O que somos

De lajedos, sombras e suspiros somos feitos Lajedo que se fratura Sombras que se revelam e se ocultam Entre ânsias do bem que desejamos Atraídos pelo mal que não queremos Seres de sede eterna, lançados ao desafio do efêmero.

Penélope


Neste tear de espera teço e desteço pontos Faço e desfaço laços Não sei quantos. Neste meu mar de espera nado e me abandono Mudo com a preamar Verde ou azul, sei lá. Neste teu mundo instável vou e não vou, a espaços Volto e saio de teus braços Estou só… No meio desse embaraço de atados e desatados Tristeza, ausência, cansaço Nós cruzados… Juntando pontos e laços, de angústias, astúcias, medo Teço meu pano enredo Faço-me e me desfaço.

Penso em ti


Misturando paisagens, sensações, perfumes Penso em ti como um compositor relendo a partitura Buscando notas claras, perfeitos movimentos Penso em ti, surpreendendo sutilezas escondidas Em teus gestos, teus modos e olhares Teus retalhos de texto descuidados De onde escapa o teu ser Mais doce e desarmado. Penso intensamente em ti… Imaginando o menino que não conheci Sedutor escondido no adulto E rendo-me à ternura Que anestesia a dor de tua ausência E engana o tempo que também me engana Passando quase feliz.

Reverso


Amanheço trançando sentimentos Numa tapeçaria impossível De tecer. Olhos cansados, ofício interminável Labor-oferta Entrega que não rende. Vazam-me das mãos pontos, experimentos Peça que me escapa Sem um ponto final Em espera fiel e angustiante Ilhada de beleza Por um sol cegante.