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Cuidado para o hábito de ‘beliscar’ uma comidinha não virar uma compulsão

Cuidado para o hábito de ‘beliscar’ uma comidinha não virar uma compulsão

Interromper alguma tarefa para “beliscar” uma comidinha, seja biscoito, fruta ou chocolate, é comum. Porém, esse hábito pode representar um risco à saúde quando passa a ser excessivo, levando a pessoa a não ter mais controle sobre essa prática. Reportagem da Agência Einstein, publicada no site da revista Galileu, alerta para esse comportamento, chamado de grazing (pastando, em tradução livre do inglês), ainda pouco estudado no Brasil e cuja definição foi atualizada recentemente.

Trata-se da ingestão de pequenas quantidades de comida de forma repetitiva e não planejada, sem ser uma resposta ao estímulo de fome, com algum nível de perda de controle. É diferente da compulsão, consumo exagerado do alimento numa ação única e não repetida.

Em geral, o grazing está associado ao momento do dia em que a pessoa busca algum tipo de relaxamento ou alívio na comida para compensar alguma situação. Identificar esse comportamento pode ajudar a prevenir outros transtornos associados a problemas psicológicos e alimentares, entre eles, a compulsão.

A psicóloga Marília Consolini Teodoro de Paiva desenvolveu uma ferramenta de rastreio por meio de uma pesquisa na Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto. O estudo validou esse instrumento que é capaz de identificar sinais desse comportamento e indicar a necessidade de encaminhamento para uma avaliação clínica.

Para chegar aos dados, a psicóloga investigou e avaliou a manifestação desse comportamento numa amostra de 823 pessoas, sendo 542 com peso considerado normal e 281 com sobrepeso ou obesidade.

Ao todo, segundo a pesquisadora, foram avaliados 12 itens que identificam o comportamento dividido em duas subescalas: o grazing repetitivo, que não é tão prejudicial porque é associado ao nível mais baixo de desregramento da alimentação; e o grazing compulsivo, que de fato prejudica a saúde por estar mais associado ao descontrole.

Os resultados apontaram que o tipo compulsivo apareceu de forma mais significativa na amostra de pessoas com obesidade. Além disso, corroboram estudos internacionais que indicam a associação problemas como ansiedade, depressão e estresse.

Correlação com o estresse

Outra conclusão do trabalho é que o grazing funciona como um mecanismo de regulação emocional: é praticado em busca de alívio de outros sintomas, como depressão, estresse e ansiedade.

— Isso explica a correlação com os sintomas de estresse e ansiedade, associado a níveis mais altos de peso. Não podemos afirmar que o estresse causa o grazing, mas ele tem alta relevância na interferência desse comportamento — diz Marília Paiva.

Ela ressalta que a ferramenta desenvolvida na pesquisa não faz o diagnóstico, apenas sinaliza o problema:

— A partir do resultado desse questionário, dependendo da conclusão, a pessoa é encaminhada para uma avaliação clínica para entender como esse comportamento se manifesta de forma mais aprofundada.

O fato de “beliscar” várias vezes por dia nem sempre configura um comportamento prejudicial. A psicóloga explica que o problema é quando há perda de controle.

— Posso “beliscar” cinco vezes no dia, mas com total controle. Ou ter feito isso menos vezes, com perda de controle desde a primeira vez.