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Cratera marciana Jezero abrigou mesmo um lago no passado distante

Cratera marciana Jezero abrigou mesmo um lago no passado distante

rover Perseverance, da NASA, já chega a quase oito meses de exploração da cratera Jezero, em Marte. Em um novo artigo, a equipe científica da missão investiga como o ciclo hidrológico do lago que, um dia, existiu na cratera, é ainda mais intrigante e complicado do que se pensava. Os dados do rover mostram que realmente houve um leito de um rio por ali, mas ocorreram também eventos de inundações intensas, que levaram grandes rochas e detritos de colinas para o interior da cratera.

Alguns anos antes de o rover Perseverance deixar a Terra, as imagens da cratera Jezero, feitas por orbitadores, mostraram estruturas que correspondiam ao antigo delta de um rio, onde a água já correu para o interior de um lago de 45 km de diâmetro. Essa estrutura é, em grande parte, a responsável pela escolha da cratera como o local de pouso para o rover, que poderia estudar o que restou de água em Marte e, quem sabe, encontrar sinais de vida microbiana antiga, caso tenha existido.

Imagem de escarpa observada pela equipe científica do rover (Imagem: Reprodução/NASA/JPL-Caltech/ASU/MSSS)

Claro que as imagens em órbita não oferecem as mesmas informações que instrumentos em solo conseguem coletar, e é aqui que o Perseverance e seus instrumentos entram, proporcionando aos cientistas dados suficientes para fazerem afirmações mais seguras sobre o passado do antigo lago e do rio que já existiram por lá. Assim, usando imagens da câmera Mastcam-Z, presente no mastro do rover, os pesquisadores conseguiram diferenciar dois períodos distintos no histórico hidrológico da cratera.

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Nicolas Mangold, principal autor do novo estudo, explica que a equipe observou diferentes camadas em escarpas, que tinham rochas de até 1,5 m de extensão e que não deveriam estar ali. Essas camadas indicam que a água de fluxo lento que alimentou o delta pode ter sido transformada por inundações intensas. A equipe do estudo estima que, para isso, a água teria que fluir de 6 a 30 km/h — ou seja, em um período entre 3,6 e 3,8 bilhões de anos atrás, a região era úmida e tinha um lago tranquilo, alimentad por um pequeno rio.

Depois, algo mudou no clima e transformou esse lago em um canal de fluxo forte, que inundou a região periodicamente com enchentes breves, mas intensas. Como eles observaram grandes rochas, sendo que algumas delas pesam toneladas e ficam espalhadas pelo topo do delta, a equipe acredita que elas precisariam de inundações fortes para serem levadas para lá. Ainda não se sabe exatamente qual foi a mudança que desencadeou essas inundações e de onde elas vieram, e o Perseverance deverá ajudar os cientistas a conseguirem essas respostas com as rochas existentes por lá.

Um remanescente de depósito de sedimentos no interior da cratera Jezero (Imagem: Reprodução/NASA/JPL-Caltech/ASU/MSSS)

De qualquer forma, os resultados afetaram a estratégia adotada para a escolha das rochas que serão coletadas pelo veículo e armazenadas, para futuramente serem levadas à Terra. “O material com grãos mais finos provavelmente tem nossas melhores apostas para encontrar evidências de compostos orgânicos e bioassinaturas”, comentou Sanjeev Gupta, co-autor do estudo. “E as rochas no topo vão nos permitir coletar amostras de partes antigas de rochas da crosta, objetos principais para a coleta e armazenamento de rochas antes da missão de retorno à Terra”. 

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Science.