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Conheça a cidade brasileira que já vive as consequências da elevação do oceano citada em relatório da ONU

Conheça a cidade brasileira que já vive as consequências da elevação do oceano citada em relatório da ONU

Secretário-geral das Nações Unidas emitiu alerta pela rápida elevação do Oceano Pacífico: ‘Catástrofe em escala mundial’

Duas cidades do Brasil são mencionadas no relatório das Nações Unidas (ONU) que emite um alerta mundial por causa da rápida elevação do Oceano Pacífico, com “potencial catastrófico global”. O Rio de Janeiro, cidade já conhecida mundialmente, e Atafona, distrito do município de São João da Barra, no Norte Fluminense. Mas, a diferença é que os moradores do segundo, já sentem na prática os efeitos das mudanças climáticas.

Segundo a própria prefeitura local, Atafona impressiona com o processo de transgressão do mar, a invasão das águas sobre o continente, que começou nos anos 60. Ao longo das últimas décadas, o mar vem avançando de forma progressiva sobre a faixa de terra, resultando na destruição de casas, ruas e até mesmo na perda de áreas inteiras da comunidade. Este fenômeno tem suas raízes em uma combinação de fatores naturais e ações humanas, que têm contribuído para acelerar o processo.

Nascida em Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, Sônia Ferreira mora desde 1978 em Atafona, onde construiu uma casa de veraneio e se apaixonou pelo local. Hoje com 79 anos, aposentada e viúva, Sônia ainda vive na cidade com sua filha, mas não na casa construída em 1978.

— É como morar em um castelo de areia. Quando construímos a casa, em 1978, nós não víamos o mar. Havia dois quarteirões na frente da casa e a avenida Atlântica asfaltada, com calçadão e um pedaço enorme de areia até chegar, enfim, à praia. Não imaginávamos que um dia ele chegaria à nossa casa. Eu acompanhava o estado das marés como se eu fosse pescadora, porque pensava em continuar ali — disse Sônia em entrevista ao GLOBO em julho deste ano.

Atafona por água abaixo

Atafona por água abaixo

Atafona está localizada na foz do rio Paraíba do Sul, uma área naturalmente vulnerável à erosão costeira. No entanto, a situação foi agravada pela construção de barragens ao longo do rio e pela retirada de areia das dunas, o que alterou o equilíbrio natural da sedimentação. Sem o aporte de sedimentos do rio, que ajudariam a “reabastecer” a praia, o mar ganhou força para avançar sobre a terra.

Muitas famílias já foram obrigadas a abandonar suas casas, que foram engolidas pelo mar. Infraestruturas como ruas, redes de esgoto e eletricidade também foram destruídas, dificultando a vida na região. Além disso, o avanço do mar prejudica a economia local, que depende principalmente da pesca e do turismo. Com a destruição das áreas costeiras, essas atividades se tornam cada vez mais inviáveis.

Sonia Ferreira — Foto: Thiago Freitas
Sonia Ferreira — Foto: Thiago Freitas

— Eu estava na varanda do meu quarto quando a minha vizinha da frente, que também perdeu sua casa, me ligou pedindo que filmasse a situação do mar, que batia muito na lateral da casa. O muro já estava com a sapata fora, sem sustentação, porque o mar vai tirando a areia que fica por baixo do terreno e deixando a construção oca. Para impedir o processo, nós até pensamos em colocar pedras na frente do muro, mas ia prejudicar os vizinhos.

A moradora hoje faz parte de um movimento chamado SOS Atafona, que mantém contato com as autoridades para que as autoridades encontrem um plano de curto, médio e longo prazo para este problema, que só tende a piorar.

Conheça Atafona, o balneário fluminense que está sendo engolido pelo mar

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‘Catástrofe Global’, aponta ONU

O relatório divulgado nesta terça mostra que o nível dos mares subiu 15 centímetros nos últimos 30 anos em algumas partes do Pacífico. Em Atafona, o aumento foi de 13 centímetros no mesmo período mas, a má notícia fica para o futuro: o aumento esperado até 2050 é de até 21 centímetros, sendo 16 centímetros em média.

Mapa de elevação global dos oceanos — Foto: Divulgação/ONU
Mapa de elevação global dos oceanos — Foto: Divulgação/ONU

— Em todo o mundo, o aumento do nível do mar tem um poder incomparável de causar estragos nas cidades costeiras e devastar economias litorâneas. Os líderes globais precisam agir: reduzir drasticamente as emissões globais; liderar uma transição rápida e justa para o fim dos combustíveis fósseis; e aumentar massivamente os investimentos em adaptação climática para proteger as pessoas dos riscos presentes e futuros — disse o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres.

De acordo com pesquisas, o aumento do nível do mar é consequência do aumento das temperaturas, que causa o derretimento das calotas polares. À medida que o aquecimento aumenta e o gelo derrete, o mar sobe de nível.

Segundo a ONU, as ilhas do Pacífico são excepcionalmente expostas pois as temperaturas nos mares da região estão subindo muito mais rapidamente do que as médias globais. No local, a elevação média é de apenas um a dois metros acima do nível do mar. Cerca de 90% da população vive a apenas 5 quilômetros da costa e metade da infraestrutura está a 500 metros do mar.