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Cientistas lançam manifesto contra tecnologia que prevê bloquear parte da luz solar do planeta

Cientistas lançam manifesto contra tecnologia que prevê bloquear parte da luz solar do planeta

Tércio Ambrizzi explica que tecnologia, conhecida como geoengenharia solar, é pouco estudada, exigiria acordos e legislações globais e que pode desestimular compromissos ambientais de governos e empresas

Mais de 60 cientistas climáticos e acadêmicos de todo o mundo lançaram recentemente uma iniciativa global pedindo um acordo internacional de não uso de geoengenharia solar. Segundo a iniciativa, a implantação dessa tecnologia não pode ser governada de forma justa globalmente e representa um risco se implementada como uma futura opção de política climática.

Tércio Ambrizzi, professor do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP e coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) de Mudanças Climáticas, explicou ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição sobre a tecnologia da geoengenharia solar, que seria a pulverização massiva de aerossóis na estratosfera para bloquear uma parte da luz solar.

Para ele, isso representa um perigo muito grande. “Quando você injeta um monte de partículas na estratosfera, é como se você criasse um pequeno cobertor em cima de nossa cabeça, e aí os raios solares, quando tentam passar pela atmosfera para aquecer o nosso planeta, parte deles pode ser refletida para o espaço e, portanto, você estaria diminuindo energia solar que aquece o nosso planeta”, diz ele, antes de prosseguir: “Primeiramente pode se pensar: ‘então, calma aí, a gente tá falando do aquecimento do nosso planeta, do aquecimento global, se a gente diminuir a entrada dos raios solares então a gente pode diminuir esse aquecimento’”. Parece simples, mas não é.

Isso porque na atmosfera há a circulação de ventos, que não podemos controlar e que impediriam que esse “cobertor” de partículas se mantivesse homogêneo. “Se você injetar esses aerossóis lá em cima, você não vai mantê-los parados lá, vão ficar circulando. E aí é que mora o perigo, porque numa região pode entrar até menos energia solar e deixar de aquecer, mas em outra pode aquecer muito mais até […] o Brasil, por exemplo, pode esfriar muito mais que outros países, e esse esfriamento não dá para controlar  também”, o que pode causar prejuízos para a agricultura.

Diante disso, diz Ambrizzi, a discussão não é simples e exige muita pesquisa e, principalmente, o esforço de evitar experimentos que possam afetar vários países.

Tércio Ambrizzi, do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

Tecnologia já existe

 

Ambrizzi diz que todo o trabalho científico vem sendo feito no sentido de mitigar a emissão dos gases de efeito estufa e daí a importância de se adotar uma atitude muito mais sustentável para com o meio ambiente. “Portanto, nós já temos ações e tecnologia para diminuir a emissão desses gases, que são os verdadeiros culpados pelo aumento de temperatura do nosso planeta.” Isso vai fazer com que haja a diminuição de gases sem necessitar da adoção de uma tecnologia de alto risco. “Nós não precisamos ter algo artificial  (geoengenharia solar), sobre o qual não se tem um completo controle e conhecimento”, diz ele.