Céu de junho
Sim, o céu de junho tem sabor próprio. É assinado por outono/inverno, desfile de nova estação com jeito de múltiplas paragens. A natureza parece pedir ainda mais passagem. Verde úmido da madrugada é mais forte, a grama desfruta de trégua nos banhos quentes dos raios do Sol que queimam e lhe dão outra aparência, do marrom queimado de outras poéticas. É despejado de verde em multitons.
Céu junino pode até parecer meio tristinho com despejo de águas. Interpretação enganosa, pois chuva é festança celestial, alegrias e comemorações por santos famosos. É festa no céu, é festança na terra. Junho em céu e o momento de celebrar as origens, a fartura, os esforços, as trajetórias, as vidas e as saudades.
É junho e o céu ganha luzes. De fogos silenciosos, apenas com o barulho das batidas dos corações, dos estampidos de beijos, da explosão de olhares. E flashs em azuis, amarelos, verdes, vermelhos, laranjas de fantasias. Da fogueirinha que queima no terreiro e produz imagens e mensagens. Brilhos de olhos da criança encantada a correr e do idoso encantador na calçada de casa.
Desfere junho uma tela de céu que se renova. Do azul, pincela ao alvorecer e ao fim do dia rápidas rajadas alaranjadas até a transformação do azul negro noturno. Com as nuvens, compõem balés na formação de novas chuvas que se anunciam antes de se precipitarem para beijar todas as coisas físicas e subjetivas que encontram na terra.
Desmancha-se o céu para surgir em uma nova camada. Branco, azul, cinza, negro, infinito teto do mundo. Por vezes, em junho, o céu desce e se conecta com a terra. Vira cortina molhada, para brotar, em seguida, uma nova ramagem de azul. Um céu em junho está aberto para receber enfeites. À chuva, ao Sol, à Lua e ao voo de cada fantasia formada por arraiais da nação nordestina. Bandeirolas, argolas, pau-de-sebo e tantas brincadeiras criam um céu no chão. Junino mês de fantasias especiais para o ser nordestino. Celeste reencontro de dias em cores.