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Carnaval tem blocos com compensação de carbono, fantasias recicladas e enredos especiais

Carnaval tem blocos com compensação de carbono, fantasias recicladas e enredos especiais

Cortejos da Liga dos Amigos do Zé Pereira, como o Cordão da Bola Preta e o Vagalume O Verde, adotaram medidas para minimizar os impactos ambientas dos desfiles

O carnaval é sempre colorido e, este ano, fica mais verde. A sustentabilidade vai ditar o ritmo dos nove blocos da Liga dos Amigos do Zé Pereira com uma ideia de fôlego. Realizados pelos grupos na Zona Sul e no Centro do Rio com estimativa de levar 1,5 milhão de foliões às ruas, os cortejos terão medição da emissão de gases poluentes dos geradores dos trios elétricos para compensação de carbono com plantio de mudas no Parque Lage, no Jardim Botânico. O meio ambiente cria raízes e dá samba ao ser tema de quatro blocos da Liga: Cordão da Bola Preta, Vagalume o Verde, Laranjada e Toca Rauuul. A criatividade ainda vai além, com mais ações sustentáveis.

É de outros carnavais que o Vagalume o Verde leva para a folia a importância da preservação ambiental. E agora não tinha como ser diferente. A começar por uma parceria que, firmada no ano passado, deu frutos. O que era lixo virou luxo — mais precisamente, virou fantasia. Cem ritmistas da bateria do bloco vão ganhar o look produzido em suas oficinas, reutilizando as fantasias e os adereços descartados na dispersão do Sambódromo após os desfiles das escolas de samba em 2023.

— Isso se dá através da parceria que efetivamos no ano passado, com o Projeto Sustenta Carnaval, no qual a partir das fantasias descartadas nos desfiles, pegamos o material, fizemos uma triagem, entendo o que estávamos precisando para produzir novas, com técnicas de upcycling (reutilização criativa). E nossa bateria vem com essa pegada. Isso foi feito nas oficinas realizadas no Galpão das Artes Urbanas da Comlurb, na Gávea, onde somos parceiros, espaço que ocupa a área embaixo de um viaduto, o que reforça que tudo pode ser aproveitado — conta o fundador, diretor-presidente e produtor do Vagalume O Verde, Hugo Camarate.

Em seu cortejo, na próxima terça-feira, com concentração às 8h, no Jardim Botânico, o Vagalume participa de um projeto-piloto. Dá para pular o carnaval e aprender ao mesmo tempo. Durante o percurso, equipes do Ciclo Orgânico em triciclos elétricos vão coletar os resíduos orgânicos e oferecer informações sobre compostagem, processo que transforma esse tipo de matéria que iria para o lixo em adubo natural. O fundador da empresa, Lucas Chiabi, diz que a ideia da ação partiu de um dos criadores do Toca Rauuul, que também entra no teste do projeto, em seu desfile neste domingo, a partir das 15h, no Centro.

— É um trabalho de educação ambiental, em que temos um consumo muito grande de materiais, com geração de lixo expressiva. Queremos aproveitar essa chamada para atuar na conscientização. Vamos levar nosso triciclo elétrico, que usamos para a coleta no dia a dia na casa das famílias que têm assinatura do nosso serviço. Nos blocos, vamos recolher guardanapo, papel toalha, palito de churrasco ou de picolé, sobra de descarte de resíduo de comida. Não esperamos um volume muito grande, apesar do resíduo orgânico ser 52% do que a cidade gera. A ideia é o alerta. Esse tipo de resíduo gera o gás metano e o chorume, além da atração de vetores — conta Lucas Chiabi, que espera, em breve, expandir a iniciativa para mais blocos. No dia a dia, a empresa oferece teste gratuito pelo serviço por 30 dias, com atendimento em casa.

Para um ar mais puro

A compensação de carbono será a iniciativa comum a todos os nove blocos da Liga dos Amigos do Zé Pereira. A ação é realizada em parceria com o Parque Nacional da Tijuca, em que será feito plantio de mudas no Parque Lage, que integra a unidade de conservação. Durante os cortejos, será medida a emissão de gases poluentes dos geradores dos trios elétricos. São usados três desses equipamentos no Cordão da Bola Preta, megabloco levou cerca de 1 milhão de foliões para o Centro do Rio neste sábado, com a concentração desde as 8h. O grupo vê a ação para compensação de poluentes como o início de uma nova forma de curtir o carnaval.

— Nas conversas da Liga a sustentabilidade sempre foi uma questão, em relação a lixo e a emissões de gases, e resolvemos fazer uma ação comum a todos os blocos. Essa compensação usará parâmetros via medição para fazer o reflorestamento numa parceria com o parque. Esperamos que esse seja o ano de virada, o primeiro de vários outros, onde a ação vai se repetir e vamos começar a pensar em outras para conscientizar as pessoas. Queremos deixar esse traço — conta o presidente da Liga e produtor do Cordão da Bola Preta, Rodrigo Rezende. O samba “Amar é cuidar” adianta o tom da mudança quando diz: “em 2024 o Bola Preta também é verde”.

Hugo Camarate destaca que a iniciativa de plantio de mudas de vegetação da Mata Atlântica como forma de compensar a emissão de gases com a passagem do cortejo surgiu com a criação do bloco, em 2005.

— O projeto Plantando Carnaval vem da nossa preocupação de mitigar o impacto do nosso desfile, já com a ideia de adotar a compensação através do plantio. E a cada ano estamos aperfeiçoando a gestão de tornar nos tornar um bloco o mais sustentável possível — diz o fundador do grupo, que vislumbra ramificações. — Estamos de braços abertos para abraçar todos os blocos que queiram somar conosco. Queremos engajar folião, empresas, órgãos públicos, o máximo de pessoas possível.

Também como projeto-piloto neste ano, o grupo terá um QR Code que permite ao folião medir o tamanho de sua pegada de carbono para chegar e sair do bloco. No link, a pessoa colocará as informações de quais meios de transporte usou no deslocamento, como ônibus, metrô, carro e até avião, opção para atender aos turista em visita ao Rio. Também deve ser informado a distância de deslocamento, aproximadamente. Ao preencher os campos com e-mail e nome, a pessoa recebe o cálculo de sua emissão. Além da quantidade de poluentes gerado, é possível fazer um PIX, com contribuição a partir de R$ 4, para ajudar no plantio de mudas do Plantando Carnaval e cooperar por uma folia mais verde.

Bloco da limpeza pede passagem

Os blocos passam pelas ruas e deixam um rastro de diversão, alegria e lixo. Nos três fins de semana do pré-carnaval deste ano no Rio, a Comlurb removeu 193 toneladas de resíduos dos cortejos. Até agora, os com maior produção foram o Simpatia É Quase Amor, em Ipanema, com 8,7 toneladas; o Bloco da Gold, no Centro, com 7,1 toneladas; e o Spanta Neném, em Ipanema, com 7,1 toneladas. Para deixar tudo limpo logo depois de cada evento, a companhia tem um protocolo operacional. As equipes chegam equipadas, com contêineres, caixas metálicas, caminhões compactadores, basculantes, varredeiras de grande porte, pipas d’água e vans lava jato, além dos equipamentos de pequeno porte, como sopradores e varredeiras.

O trabalho operacional ocorre nas vias principais em que os blocos desfilam e em todo o entorno, incluindo vias de acesso e ruas adjacentes. E de olho em tudo, as equipes do Lixo Zero fiscalizam quem urina em via pública, com aplicação de multa no valor de R$ 773,65, e os que flagrados jogando pequenos resíduos nas ruas, multados em R$ 282,38.

Essa força-tarefa, que volta e meio viraliza nas redes sociais mostrando que também tem samba no pé e sorriso no rosto, será a homenageada em Laranjeiras, a partir das 8h deste domingo, com o Bloco Laranjada, também integrante da Liga. Com sua bateria Puro Suco, formada por 60% de mulheres, o enredo será “Laranjada é maior limpeza”, em que também vai promover a conscientização de produção, descarte e reciclagem de lixo.

E esse ano já saiu um grupo diferente: o Bloco Limpeza. Realizado simultaneamente em várias praias do Rio, os participantes não carregam instrumentos ou estandartes, mas vestem as luvas e vão à ação com sacos para coleta de lixo que encontram nas areias, seja deixado por banhistas ou trazidos pelas marés. A edição deste ano, como sempre, num pré-carnaval, foi no último dia 3 e passou por Copacabana e Ipanema. A organização sempre convoca diversos grupos a participarem, como ambientalistas, atletas, surfistas, barraqueiros, quiosqueiros, entre outros.