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Buraco “tropical” na camada de ozônio é 7 vezes maior que o da Antártida

Buraco “tropical” na camada de ozônio é 7 vezes maior que o da Antártida

Estudo mostra que a falha preocupante, descoberta em 1985, representa uma região com perda de ozônio acima de 25% em relação à atmosfera não perturbada

Um grande buraco na camada de ozônio, estimado em sete vezes o tamanho do buraco da Antártida, instalou-se sobre a região tropical do planeta na década de 1980. Desde então, o problema persiste na estratosfera mais baixa, conforme relata estudo publicado nesta terça-feira (5) na revista AIP Advances.

Em comparação com a atmosfera não perturbada, o buraco representa uma região com perda de ozônio superior a 25%. Essa extensão é comparável em profundidade com a do buraco que se forma na Antártida na primavera, em setembro, embora sua área seja maior.

“Os trópicos constituem metade da superfície do planeta e abrigam cerca de metade da população mundial”, observa em comunicado Qing-Bin Lu, cientista da Universidade de Waterloo, no Canadá, que lidera o estudo. “A existência do buraco de ozônio tropical pode causar uma grande preocupação global.

Lu observou o buraco levantando dados não previstos nos modelos fotoquímicos convencionais. As informações seguiram outro modelo, o de reação eletrônica acionada por raios cósmicos (sigla em inglês, CRE), no qual os raios cósmicos do espaço reduzem o ozônio na atmosfera.

A análise apontou que um mecanismo idêntico ocorre tanto nos buracos da Antártida quanto nos trópicos. Cerca de 80% da quantidade normal do gás está esgotada no centro do buraco tropical. Nas regiões equatoriais, a redução dele já coloca em risco grandes populações, com entrada da radiação ultravioleta (UV) maior do que a esperada.

“O esgotamento da camada de ozônio pode levar ao aumento da radiação UV ao nível do solo, o que pode aumentar risco de câncer de pele e catarata em humanos, além de enfraquecer o sistema imunológico, diminuir a produtividade agrícola e afetar negativamente organismos aquáticos e ecossistemas sensíveis”, explica o autor da pesquisa.

O estudo se baseou em estudos feitos por Lu e seus colegas há cerca de duas décadas. Em meados dos anos 1970, outros trabalhos sugeriram que a camada de ozônio poderia estar ameaçada por produtos químicos industriais, principalmente clorofluorcarbonos (CFCs). Em 1985, com a descoberta do buraco na Antártica, confirmou-se essa teoria, resultando na proibição de tais produtos.

Os buracos tropicais e polares resfriam e regulam as temperaturas estratosféricas e são um sinal das mudanças climáticas. Na visão de Lu, a pesquisa pode ser crucial para entender melhor essas alterações. “A presente descoberta exige estudos mais cuidadosos sobre a destruição da camada de ozônio, mudança de radiação UV, aumento dos riscos de câncer e outros efeitos negativos sobre a saúde e os ecossistemas nas regiões tropicais”, ele afirma.