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“Brasil no escuro”: crise climática ameaça produção de energia elétrica, aponta relatório

“Brasil no escuro”: crise climática ameaça produção de energia elétrica, aponta relatório

Estudo realizado pela Coalizão Energia Limpa e organizado pelo ClimaInfo mostra que a matriz energética brasileira sofre com as mudanças nos regimes de chuvas e secas mais intensas

Na última década, o Brasil sofreu as piores secas da história, o que levou a queda de distribuição de água em suas bacias hidrográficas e fez o país viver sua pior crise hídrica dos últimos 90 anos. O problema levou a maioria das usinas hidrelétricas a encerraram a estação chuvosa de 2020 e 2021 operando com uma fração de sua capacidade total, o que deixou a geração elétrica em regime crítico. Talvez você lembre desses eventos ou até tenha os sentido na pele, mas afinal: qual o impacto das mudanças do clima na geração de energia pelo Brasil?

O novo estudo “Vulnerabilidade do setor elétrico brasileiro frente à crise climática global e propostas de adaptação” realizado pela Coalizão Energia Limpa e organizado pelo ClimaInfo quis responder essa questão e mostrou que variações cada vez mais frequentes no regime de chuvas e secas mais intensas e prolongadas ameaçam a produção de energia no Brasil, o que pode acabar pesando também na conta de luz paga pelo consumidor. Isso porque a matriz energética brasileira é predominantemente renovável: cerca de 60% vem de hidrelétricas e nós somos um dos grandes playes mundiais, respondendo por 10% da produção mundial.

“A mudança climática é uma ameaça ao setor elétrico brasileiro cujo planejamento é projetado sob o histórico de variáveis climáticas que estão sofrendo alterações no comportamento”, alertou o climatologista e pesquisador do Inpe, Lincoln Muniz Alves, um dos autores do estudo, que foi divulgado na última sexta-feira (26).

A coalizão também é formada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Instituto Clima e Sociedade (iCS), Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Instituto Internacional Arayara e Instituto Pólis.

Os pesquisadores alertaram que as projeções indicam uma diminuição da precipitação nos próximos anos e que somado a isso, existe também uma redução do período úmido e aumento no período seco — ocasionando um aumento da variabilidade climática que é nociva à regularização da geração de energia. Segundo o estudo, o esforço global para combater a crise climática e a emissão de gases estufa ainda é insuficiente frente à magnitude dos impactos causadas pelo aquecimento e o Brasil deve apresentar uma tendência de aumento de temperatura ao longo do século 21 a uma taxa superior à média global.

Sendo assim, as projeções apontam uma redução das vazões das usinas localizadas nas regiões Norte e Nordeste e um aumento das vazões nas do Sul e parte do Sudeste. No Paraná, há uma incerteza maior devido à Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). “Por isso, é urgente adotar uma nova forma de planejar, operar e governar o sistema elétrico nacional. A solução deve ser multifacetada e exigirá maior diversificação da matriz elétrica para desenvolver um sistema resiliente às mudanças climáticas”, afirmou o estudo. Para os pesquisadores, ainda não há políticas públicas concretas nesse sentido e esse trabalho começa com o mapeamento das vulnerabilidades do setor.

Soluções positivas para um sistema mais resiliente

Além de relatar o problema, o estudo também traz algumas sugestões:

  • Diversificar a matriz elétrica, expandindo a participação das fontes renováveis solar e eólica. Isso levaria a uma redução de custos, uma maior competitividade internacional dos produtos brasileiros e seria uma oportunidade para diminuir desigualdades sociais.
  • Assegurar os direitos dos Povos Indígenas e comunidades tradicionais no processo de aprovação e licenciamento de novas usinas e não repetir o modelo histórico do setor de violar seus direitos e terras.
  • Instalar baterias em residências junto com geração fotovoltaica, afim de minimizar os efeitos adversos do clima.
  • Investir em tecnologias de armazenamento dessas baterias e também em hidrogênio verde, usinas hidrelétricas reversíveis e etc. Dessa forma, a necessidade de termelétricas poluentes ocorreria apenas em situações emergenciais e transitórias.