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Brasil aprova Plano Nacional de Economia Circular: iniciativa promete transformar modelo produtivo do país

Brasil aprova Plano Nacional de Economia Circular: iniciativa promete transformar modelo produtivo do país

Com foco em inovação, sustentabilidade e novos mercados, plano busca impulsionar a transição para a economia circular em diversos setores da economia brasileira

O governo federal aprovou nesta quinta-feira, 8, o Plano Nacional de Economia Circular (PLANEC), um marco que promete redefinir o modelo de produção e consumo no Brasil. O documento, que passou por consulta pública no Participa + Brasil, deve ser publicado ainda no primeiro semestre de 2025 como parte da implementação da Estratégia Nacional de Economia Circular (ENEC) — compromisso do país com a sustentabilidade e a inovação econômica.

O plano é resultado de um processo colaborativo e estabelece ações concretas para viabilizar a transição do Brasil para uma economia circular, priorizando modelos de negócios que eliminem resíduos e poluição, mantenham produtos e materiais em uso e regenerem sistemas naturais. O texto traz medidas como a criação de linhas de crédito específicas para negócios circulares, o desenvolvimento de métricas para monitoramento, capacitação profissional voltada à circularidade e fortalecimento de compras públicas sustentáveis.

Economia circular: a possibilidade de desenvolvimento desconectado da exploração de recursos naturais — Foto:  Jacobs Stock /getty mages
Economia circular: a possibilidade de desenvolvimento desconectado da exploração de recursos naturais — Foto: Jacobs Stock /getty mages

Em entrevista exclusiva ao Um Só Planeta, Pedro Prata, Gerente Sênior de Políticas e Instituições para a América Latina na Fundação Ellen MacArthur, celebrou a aprovação do plano e destacou o potencial transformador da iniciativa. “O PLANEC é um divisor de águas. Ele cria uma base concreta de atuação, com medidas práticas e mensuráveis, que podem destravar investimentos e criar um ambiente mais favorável à inovação circular no país”, afirmou.

Um novo horizonte para a economia brasileira

A economia circular vem sendo debatida globalmente como alternativa ao modelo linear de produção, que se baseia em extrair, produzir, consumir e descartar. Para Prata, a adesão brasileira à estratégia representa não apenas um avanço ambiental, mas também uma oportunidade econômica.

“Estamos falando de um plano que coloca o Brasil em posição de liderança na América Latina. É uma oportunidade de reposicionar a economia brasileira para os desafios do século 21, promovendo crescimento econômico dissociado do uso intensivo de recursos naturais”, disse.

Entre os setores que mais podem se beneficiar da transição, ele destaca a indústria alimentícia, a agricultura e o setor de embalagens. “Ao adotar práticas regenerativas na agricultura, por exemplo, e reduzir o desperdício de alimentos, podemos cortar em até 70% as emissões do sistema alimentar até 2050. Isso é uma mudança de paradigma”, explica.

Já na indústria de embalagens, o incentivo a modelos reutilizáveis em substituição aos descartáveis pode, segundo Prata, ter impacto direto na poluição dos oceanos: “Estima-se que a adoção em larga escala de sistemas reutilizáveis pode reduzir em cerca de 20% o plástico que vaza nos mares todos os anos até 2040”.

Pedro Prata, Gerente Sênior de Políticas e Instituições para a América Latina na Fundação Ellen MacArthur — Foto: Divulgação/Fundação Ellen MacArthur
Pedro Prata, Gerente Sênior de Políticas e Instituições para a América Latina na Fundação Ellen MacArthur — Foto: Divulgação/Fundação Ellen MacArthur

Próximos passos: da teoria à prática

Com a aprovação, o desafio agora é colocar o plano em prática. Pedro Prata vê com bons olhos o fato de o texto já indicar instrumentos financeiros, diretrizes de capacitação e mecanismos de monitoramento. “É um plano que já nasce com ferramentas pensadas para sua implementação. Mas sua efetividade vai depender do engajamento de múltiplos atores — governos, setor privado, academia e sociedade civil.”

Ele também destaca a importância da criação de métricas e indicadores. “Só conseguimos avançar se conseguimos medir. O desenvolvimento de critérios para acompanhar a circularidade dos processos produtivos será fundamental para garantir transparência e orientar políticas públicas”, afirma.

“Vemos esse plano como uma oportunidade real de transformação. Ele pode destravar crédito, abrir caminhos para o redesenho de produtos e processos e estimular a capacitação da força de trabalho para a economia circular”, reforça Prata.

Liderança regional e papel internacional

Para além do impacto nacional, o PLANEC coloca o Brasil em destaque no cenário internacional. “Poucos países têm um plano nacional com esse nível de detalhamento e ambição. O Brasil está dizendo ao mundo que quer liderar a transição circular na América Latina. E tem todas as condições para isso: uma biodiversidade imensa, um setor agroindustrial robusto e uma sociedade civil mobilizada”, pontua.

Segundo Prata, a aprovação do plano também alinha o Brasil com compromissos internacionais, como a Agenda 2030 e o Acordo de Paris. “Economia circular é uma resposta sistêmica aos grandes desafios que enfrentamos — da crise climática à desigualdade. Com o PLANEC, o Brasil se posiciona como parte ativa dessa solução.”