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Beleza de plástico: descubra como entender e se defender dela

Beleza de plástico: descubra como entender e se defender dela

Sua escova de dente, seu carro, seu look de hoje, o case do celular que você toca agora pra ler esta matéria, os brinquedinhos do seu filho… e muitos, mas muitos dos seus produtos de beleza têm uma coisa em comum: plástico! Estamos cercados pelo material que dura para sempre e que em tão pouco tempo transformamos em poluição planetária.

Porque sempre me vejo perplexa e muito ansiosa quando percebo o quão pouco se fala e se sabe sobre temas como testes em animais na indústria cosmética ou veganismo como sinônimo de sustentabilidade… entre outras pautas a que me dedico hoje, resolvi escrever sobre plástico nesta coluna. Taí outro assunto que, na minha opinião, não é tratado com a relevância que merece e que, especialmente quando surge numa conversa sobre beleza, mostra como a escassez de informação pode ser perigosa.

A boa notícia é que um grande passo para o combate desse problema complexo, envolve um movimento simples, o de escrever mais colunas como essa, o de ler, se educar e refletir sobre nossa relação com o plástico. Marcos Iorio, professor de Economia Circular, expert em Sustentabilidade, ESG e Inovação me ensinou muito sobre esse tema em 2021! Por meses fiquei obcecada pelos microplásticos, pauta que prometi pra vocês retomar algumas colunas atrás.

“Microplásticos são partículas que medem menos de 5 mm e que podemos não enxergar a olho nu”, explica Marcos. “Os microplásticos são gerados de diferentes maneiras. A maior fonte conhecida vem do pó dos pneus de veículos automotivos. Em segundo lugar, estão as microesferas utilizadas em produtos para higiene pessoal, cosméticos e perfumaria.”

“Todo esse resíduo, quando liberado no meio ambiente, não é mais capturado mesmo pelos tratamentos de esgoto”, alerta Marcos. “As embalagens plásticas também, quando expostas a intempéries, vão sendo degradadas e se transformando em partículas menores até virarem microplásticos.”

No universo da beleza, já é possível identificar uma série de alternativas que ajudam a minimizar a nossa contribuição para o problema e a identificar quem, no setor da indústria cosmética, tem a intenção de fazer parte da solução. Recentemente a Simple Organic lançou linha de xampus sólidos veganos, de fórmula limpa e livres de crueldade animal. Completamente plastic-free, taí uma escolha que se fizermos em substituição aos xampus clássicos, poupa, em média, o descarte de duas a três garrafas plásticas por uso. Essa categoria da beleza, dos produtos chamados “waterless” ou “sólidos” ou “naked”, tem outros aspectos bem interessantes: por serem mais concentrados, eles duram mais que a versão considerada tradicional.

A Pantys e a Positiv.a são outros dois nomes nacionais que chamaram minha atenção com seus últimos lançamentos. O absorvente interno Safe é um deles: produto orgânico, livre de toxinas – como perfume, pigmentos… além de agrotóxicos – e 100% livre de plástico. Da caixinha aos absorventes em si, protegidos individualmente por um filme de celulose, a novidade criada pela Pantys também é biodegradável e vegana. A Positiv.a já tem cotonetes completamente livres de plástico – aqui, também da embalagem até as hastes flexíveis em si. Além de um produto biodegradável e compostável, ele ainda apoia iniciativas de limpeza da praia e cuidado dos oceanos da ONG Sea Shepherd Brasil.

Mas quando falo que a pauta da beleza, inserida na equação “plástico x meio ambiente” traz um fator a mais de complexidade à discussão, me refiro ao fato de os microplásticos estarem presentes no conteúdo dos produtos, além de nas embalagens. “Eles foram inseridos nas formulações cosméticas para um efeito de fricção ou esfoliação. Nas pastas de dente, para intensificar o efeito da limpeza mecânica. Em outros produtos cosméticos, para aumentar a eficiência de renovação de camadas da pele…”, explica Marcos. “Além de ter um preço muito competitivo, o material oferece uma garantia de tamanho de partícula constante, diferentemente dos produtos naturais.”

Iorio também esclarece que há diversas formas de substituir as microsesferas plásticas na produção e formulação de cosméticos, do ponto de vista da indústria. “Rochas vulcânicas, cristal de quartzo, partículas de argila, de cupuaçu, de açaí, de casca de coco, de sementes de damasco ou morango, ésteres de jojoba… são algumas delas, que, aliás, têm melhores resultados comparadas aos microplásticos.”

“Hoje não conseguimos evitar que esse material seja absorvido por outras espécies e por nós mesmos. Já detectamos microplásticos na água engarrafada, na cerveja e até no mel. Não podemos mais permitir que esse tipo de produto seja utilizado. Segundo a Fundação Ellen MacArthur, em 2050 teremos mais plástico, que peixes nos oceanos.”

Para Iorio, devemos investir em estratégias que ao mesmo tempo eliminem o plástico onde ele não seja necessário, optar por produtos biodegradáveis ou compostáveis onde for possível, implementar massivamente embalagens e modelos de negócio que permitam seu reuso… Acredito que apesar de precisarmos de muita mudança no âmbito global, leis de incentivo, iniciativas públicas e de mercado, podemos fazer uma grande diferença do ponto de vista individual. Aqui, dei algumas ideias, mas independentemente da sua decisão de quando e por onde começar ou melhorar, saiba que todas as suas escolhas contam!