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Bactéria que corroeu o Titanic pode degradar plástico no fundo do oceano

Bactéria que corroeu o Titanic pode degradar plástico no fundo do oceano

A espécie “Halomonas titanica” pode pegar carona nos resíduos e se alimentar deles, conforme revela estudo feito com amostras depositadas a 1,8 mil metros no Atlântico

Cientistas descobriram que uma cepa da bactéria Halomonas titanica, originalmente identificada no histórico naufrágio do RMS Titanic, é capaz de grudar-se ao lixo plástico dos oceanos e degradá-lo. Os experts relataram a novidade em 18 de abril na revista Environmental Pollution.

Os pesquisadores que atuam na Universidade de Newcastle, na Inglaterra, estimam que as bactérias do fundo do mar que são amantes de plástico correspondem a apenas 1% da comunidade bacteriana. Esses seres “pegam carona” nos resíduos, aumentando a atividade microbiana em ambientes aparentemente isolados.

Para investigarem o assunto, os pesquisadores usaram um aparelho do tipo lander na intenção de afundar de propósito amostras de plásticos poliuretano e poliestireno a uma profundidade de 1,8 mil metros no nordeste do Atlântico. Depois, eles recuperaram o material para revelar qual grupo de micróbios se atraía por esses resíduos.

Aparelho utilizado na pesquisa das bactérias no fundo do mar  (Foto: Newcastle University)
Aparelho utilizado na pesquisa das bactérias no fundo do mar (Foto: Newcastle University)

A equipe observou uma mistura de bactérias vivas diversas, incluindo Calorithrix, também presente em sistemas de fontes hidrotermais, e Spirosoma, isolada anteriormente em permafrost no Ártico. Também havia microrganismos do grupo Marine Methylotrophic Group 3, recorrentes em infiltrações de metano do fundo do mar e ainda Aliivibrio, uma bactéria que afetou negativamente a indústria de piscicultura.

Os especialistas da equipe, que inclui engenheiros e microbiologistas marinhos, acharam também uma cepa da H.titanica, coletada pela primeira vez na carcaça do Titanic, afundado no Atlântico Norte em abril de 1912. Além de degradar plástico de baixa cristalinidade, o microrganismo também se alimenta de ferrugem e corrói o navio até hoje.

Max Kelly, líder da pesquisa, conta que sua equipe está ajudando a elucidar a diversidade bacteriana com o objetivo de revelar o destino do plástico nas profundezas. “O mar profundo é o maior ecossistema da Terra e provavelmente um sumidouro final para a grande maioria do plástico que entra no ambiente marinho, mas é um lugar desafiador para estudar”, comenta em comunicado.

Segundo o coautor do estudo, o professor Grant Burgess, os microplásticos (fragmentos com diâmetro menor que 5 mm) compõem 90% dos detritos na superfície do oceano, mas a quantidade de plástico no fundo é significativamente maior do que as estimativas do material flutuante. Segundo ele, embora as bactérias H.titanica representem uma pequena fração da comunidade que coloniza o plástico, elas já servem para destacar os impactos ecológicos desse tipo de poluição no ambiente.