Vinhos do Alentejo terão selo inédito de sustentabilidade ambiental

O Alentejo lançou um selo inédito de sustentabilidade para seus vinhos, que vai atestar o cumprimento de boas práticas ambientais, sociais e econômicas. A região portuguesa abriga uma grande biodiversidade com forte atividade econômica de vinhas e adegas. Sem falar que possui a média das temperaturas de verão mais alta em toda a Europa.

– O selo de sustentabilidade será atribuído, ainda durante este ano de 2020, aos produtores que cumpram com um conjunto alargado de requisitos, em temas tão diversos com a gestão de solos, água e rega, serviços dos ecossistemas, circularidade, desmaterialização ou envolvimento com a comunidade, entre outros – João Barroso, coordenador do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo.

Vinhos do Alentejo terão selo inédito de sustentabilidade | Saideira - O GloboJoão Barroso: A geração Millennial está muito sensível a questões associadas com sustentabilidade

Barroso explica que vários mercados já pediam aspectos associados à  sustentabilidade, desde os métodos de produção aos valores associados ao consumo de água, energia, o peso das garrafas, entre outros.

– São fatores que começaram a ser ponderados e analisados com algum peso no momento da escolha de grandes cadeias em vários países. Existem vários estudos, incluindo um do Instituto Capgemini já este ano, que aponta claramente no sentido de um potencial aumento de vendas alicerçado num perfil de sustentabilidade do produto. A geração Millennial está muito sensível a questões associadas com sustentabilidade. Estamos convictos da vantagem competitiva de apresentar esta certificação nas nossas garrafas – aposta o coordenador.

Há cinco anos, foi lançado o Programa de Sustentabilidade (PSVA), de adesão voluntária e gratuito, com 94 integrantes. Hoje, o total chega a 426, num universo de 1.800 viticultores e 260 vinícolas. Os membros do projeto perfazem cerca de 41% da área plantada, com a participação de todas as grandes vinicolas dessa região portuguesa.
– O projeto tem tido um papel muito importante na sensibilização de um grupo mais alargado de vinícolas sobre as questões associadas com a regeneração e preservação da biodiversidade, a importância dos serviços dos ecossistemas, e a criação de resiliência e adaptação às alterações climáticas. De uma forma abrangente e integrada, trabalhamos ao nível da ecoeficiência, da produção mais limpa, promovendo melhores práticas de boa gestão de água e de energia – ressalta João Barroso.

Vinhos do Alentejo terão selo inédito de sustentabilidade | Saideira - O GloboHerdade do Monte da Ribeira: área de cerca de 1.100 hectares

As melhorias propostas pelo programa no campo e na adega visam a garantir que, nos próximos anos, sejam mantidas nos vinhedos condições como uso de água, solo saudável e controle de pragas. Entre as ações, estão por exemplo análises físico-químicas regulares das plantas e do solo, além da utilização monitorada de água e de energia, com o objetivo de reduzir o consumo.

Já para diminuir a quantidade de pesticidas químicos nas vinhas, a sugestão é substituí-los por insetos auxiliares ou até mesmo animais predadores de pragas, como aves de rapina ou morcegos.

– No campo, estratégias de adaptação, como a promoção da boa gestão dos solos, a redução no uso de fitofármacos, a utilização de organismos auxiliares, a preservação dos ecossistemas e da biodiversidade, a conservação e restauro das linhas de água, o recurso ao modo de produção integrada e modo de produção biológica. Na adega, a eficiência energética e o uso racional de água devem ser prioritários, não esquecendo, no entanto, a redução dos resíduos produzidos. Promovemos a reciclagem e desmaterialização de produtos e processos, como a redução do peso das garrafas para assim reduzir a pegada de carbono do setor, seja na produção das garrafas, seja no aumento de eficiência no transporte, ou no uso de produtos mais verdes, como o uso de rolhas, barricas e outros materiais de florestas com gestão sustentável – detalha Barroso.

Vinhos do Alentejo terão selo inédito de sustentabilidade | Saideira - O GloboFundação Eugénio de Almeida: uvas alentejanas
Alta na produção

Mesmo com a pandemia e com ataques de míldio (fungo que atinge as folhas da videira), a região deve ter aumento de produção da ordem de 5%. Em 2019, foi de 98,3 milhões de litros.

– Podemos chegar aos 104 milhões de litros de vinho, uma ótima notícia – explica Francisco Mateus, presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), organismo que certifica, controla e protege os vinhos DOC Alentejo e os vinhos Regional Alentejano.

Mateus conta que a área de vinhedos cresceu com áreas novas de vinhas:

– As vinhas estão sãs e boas, e este ano a área de vinha no Alentejo vai superar, pela primeira vez, os 23 mil hectares, graças a zonas de vinha nova que foram plantadas – diz.

Ele explica ainda que, para prevenção e contenção da Covid-19, os produtores elaboraram e acionaram um plano de contingência, que incluiu o reforço da higienização dos espaços nas adegas.

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