Sempre existe um oásis
Perdón
quando procuro teu perdão estou procurando um indulto para sandices e tolices que se agarram nos cabelos do mar mas a maresia corrói outros medos e as raízes de teus cabelos, mais profundas: não vem e vão, como as ondas do bessa : se mantêm firmes enquanto não perdôoo a mim mesmo nem meu masoquismo borgiano.
Mário de Andrade visita o Sertão
(para William Costa) (alguém lê mário de andrade ninguém conhece mário de andrade) o homem traga o cigarro o homem traga o insulto ao burguês o homem permanece sentado sem insultar o burguês (o copo na mão, o livro no chão o violão na outra, mário de andrade no chão) um garoto pedala sua bicicleta rumo ao futuro o garoto vai ser emboscado e não encontrará mário de andrade um jegue elétrico anuncia as promoções da livraria leia (onde ninguém lê mário de andrade) uma mulher reza o terço tece a proteção de todos os santos terrestres suas orações naufragam na poluição do açude grande (espelho do tietê?) um militar marcha ocioso há reflexos de câimbras em seus passos há ânsia de poesia em seus traços (mas ele não lê mário de andrade) uma mulher colhe acerolas cura suas gripes letargia que invade seu inconsciente literário (mas ela não sabe quem foi mário de andrade) as meninas exercitam a libido as meninas dançam na fogueira (“é noite de são joão, vai amanhecer o dia!”) enquanto o vento suga as trezentas cinzas as trezentas e cinquenta cinzas da poesia de mário de andrade.
Duelo
bumba-meu-boi rasga mortalha cuca bicho papão o homem do saco sombras na parede… tanto medo aos 12 aos 40, medo só de seus olhos de graúna.
Colheita
fazer um poema para uma paixão é como colher grãos no deserto mas os sábios costumam apelar: sempre existe um oásis mesmo quando a seca seca tudo inclusive a dor de não saber colher beijos – como um chato pacifista colhe a paz no inferno.