Unesco alerta que recifes de coral podem desaparecer até o fim do século
Caso o nível de emissões de gases estufa não seja reduzido, os recifes de coral poderão desaparecer até o fim do século. Este é o alerta dado pela Unesco em relatório divulgado no fim de semana, o primeiro a avaliar a situação de 29 recifes listados como Patrimônio Mundial. Nos últimos três anos, 21 deles sofreram “estresse de calor severo ou repetido”, e apenas quatro não alcançaram o nível de branqueamento.
— Os 29 recifes de corais na lista de Patrimônio Mundial da Unesco estão sofrendo ameaças existenciais, e sua perda seria devastadora ecológica e economicamente — disse Mechtild Rossler, diretor do Centro do Patrimônio Mundial da Unesco. — Essas florestas tropicais dos mares protegem comunidades costeiras de alagamentos e erosão, sustentam negócios de pesca e turismo e abrigam grande quantidade de vida marinha.
O valor econômico, cultural e social dos recifes de coral é estimado em US$ 1 trilhão. Projeções indicam que o prejuízo provocado pela perda desses ecossistemas relacionada com as mudanças climáticas vai superar os US$ 500 bilhões por ano em 2100, com impactos maiores sobre as populações que dependem dos recifes para a subsistência.
Com base em dados satelitais da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA, na sigla em inglês), os pesquisadores consideraram os episódios de branqueamento quando o estresse termal acumulado no período de 12 semanas era superior a 4 graus Celsius; e os casos de estresse de calor severo quando superior a 8 graus Celsius. Entre 1985 e 2013, 13 dos 29 recifes de coral registraram episódios de branqueamento duas ou mais vezes por década.
Entre 2014 e 2017, apenas quatro desses Patrimônios Mundiais não passaram por episódios de branqueamento: Reservas de Fernando de Noronha e do Atol das Rocas, no Brasil; Parque de iSimangaliso, na África do Sul; Parque Marinho Sanganeb; e o Arquipélago Socotorá, no Iêmen. E apenas oito não passaram por estresse de calor severo.
— Nós sabemos que a frequência e a intensidade desses eventos de branqueamento de corais vai continuar aumentando enquanto a temperatura subir — disse Scott Heron, pesquisador da NOAA e líder da pesquisa. — Nosso objetivo foi documentar os impactos do clima sobre os recifes listados pelo Patrimônio Mundial e examinar o que o futuro pode apresentar. O destino desses tesouros importa a toda Humanidade, e as nações de todo o mundo estão comprometidas pela Convenção do Patrimônio Mundial a apoiar sua sobrevivência.
ACORDO DE PARIS É ‘ÚNICA OPORTUNIDADE’
Estudos indicam que as comunidades de corais levam tipicamente entre 15 e 25 anos para se recuperarem de episódios de branqueamento em massa. Como o fenômeno tem se tornado mais frequente, os recifes não têm tempo para se recuperarem completamente de um evento antes de sofrerem outro. Os resultados apontam que a “única oportunidade para prevenir o declínio global de recifes de coral” é o cumprimento do Acordo de Paris, que persegue a limitação do aquecimento do planeta em 2 graus Celsius acima da era pré-industrial.
— Sem passos claros, agressivos e coordenador globalmente para limitar as temperaturas médias ao objetivo do Acordo de Paris, esse relatório mostra que esses bens valiosos vão continuar declinando — avaliou Elizabeth Madin, da Universidade Macquarie, na Austrália, país que abriga quatro dos 29 ecossistemas ameaçados. — Os resultados desse relatório devem alarmar qualquer um que dependa ou tenha benefícios, direta ou indiretamente, e um recife listado pelo Patrimônio Mundial. Isso inclui pessoas em indústrias como a pesca e o turismo, viajantes e pescadores de subsistência e recreativos, apenas para nomear alguns.
Os valores econômicos dos recifes de corais podem ser exemplificados por uma avaliação da Deloitte divulgada nesta segunda-feira sobre a Grande Barreira de Coral. Segundo a consultoria, esse tesouro da Humanidade que se estende por 2.300 quilômetros da costa australiana tem valor econômico e social de 56 bilhões de dólares australianos, ou R$ 141 bilhões.
— O valor estimado da Grande Barreira representa o equivalente a 12 Óperas de Sydney — disse Steve Sargent, diretor da Fundação da Grande Barreira, em entrevista à AFP. — O informa demonstra que a Grande Barreira de Coral, como ecossistema ou fonte econômica, é muito importante para desaparecer.
Maior ecossistema do tipo em todo o planeta, a Grande Barreira está seriamente ameaçada de desaparecer após sucessivos episódios de branqueamento. De acordo com a consultoria, isso ameaça 64 mil empregos que dependem do recife direta ou indiretamente.