Terra natal de Napoleão, Córsega tem cidade feita à beira de precipício

Bonifácio foi construída sobre uma falésia há mais de 1,2 mil anos. Lenda afirma que escada vertiginosa escavada na rocha foi feita em uma só noite.

Os gregos antigos a chamavam de kallisté: a mais bela de todas. E não é exagero, não. As paisagens da Córsega são como colírio para os olhos dos visitantes. Foi o que a equipe do Globo Repórter viu e sentiu ao dar uma volta completa na ilha, que fica no Mar Mediterrâneo, que é uma região da França. Mas que, antes de tudo, é como um país: a terra amada dos corsos.

Você pode não saber muito sobre a Córsega, mas certamente já ouviu falar do mais ilustre de todos os corsos. Foi em um casarão, em uma das ruelas da capital Ajaccio, que nasceu Napoleão Bonaparte. Ele deixou a Córsega ainda criança para se tornar imperador da França e um dos homens mais poderosos do seu tempo.

E a terra natal de Napoleão é mesmo única, começando pela geografia. Os caminhos lá levam pras alturas. É, a Córsega também é conhecida como a Montanha no Meio do Mar, de tão vertical que é o terreno. E o lugar especial tem muitos outros apelidos: Ilha dos Pastores, dos Vilarejos, das Ervas Aromáticas. E que tal Caribe do Mediterrâneo? Mas se tem um apelido que define a Córsega melhor do que qualquer outro, esse foi dado pelos franceses: Ilha da Beleza.

Cidade construída sobre uma falésia

E a viagem pela ilha da beleza começa em Bonifácio, a espetacular cidade medieval à beira do abismo. É a mais antiga cidade da Córsega e foi perigosamente construída sobre uma falésia, um grande paredão de calcário. O casario milenar está como que pendurado a uma altura de 70 metros. É coisa de dar vertigem.

E o cenário impressionante, com a velha cidadela equilibrada sobre o rochedo branco e de frente para o azul profundo do Mediterrâneo, só dá para ver mesmo a partir do mar. A imponente falésia, esculpida pelas ondas e o vento, tem lá suas surpresas.

Sabe aquela história de um camelo passar pelo buraco da agulha? É difícil de acreditar que os barcos consigam entrar na caverna, mas eles chegam sim. A estreita e perigosa boca da caverna deu nome ao lugar: Pequeno Dragão. Só é possível entrar quando o mar está calmo. E lá em cima está a entrada da luz do sol. O pessoal diz que forma o mapa da Córsega.

Viagem de volta na história

Bonifácio tem mais de 1,2 mil anos. E na maior parte desse tempo foi uma fortaleza contra os muitos invasores da Córsega. Um deles entrou para a história. E sabe por quê? Por causa de um corte gigante, um rasgo superinclinado no meio do paredão de Bonifácio.

Diz a lenda que uma escadaria foi escavada na rocha, em uma única noite, por ordem do rei espanhol Afonso de Aragão. Isso, em 1420, para que os soldados pudessem invadir a cidade depois de um cerco que já durava cinco meses. Claro que a escada não surgiu da noite para o dia. Mas a versão é tão curiosa que a lenda acabou se popularizando. O fato é que até hoje não se sabe quem fez a escada. O mistério só dá mais charme ao lugar que tem nome: A Escadaria do Rei de Aragão. E todos os caminhos em Bonifácio levam à vertiginosa escada de 187 degraus. Para descer, tem que ser agarrado no corrimão. E na hora de voltar, lá pelas tantas, é com a língua de fora.

E é bom guardar um pouquinho de fôlego, pois Bonifácio é como um grande museu a céu aberto. Muitos povos deixaram suas marcas por lá: toscanos, pisanos, genoveses, espanhóis, mouros e franceses. Andar pelas ruazinhas estreitas e de pedra é viajar de volta na história. Desde o começo esse foi um local muito cobiçado. A localização explica o porquê da disputa. A cidade histórica fica bem no sul da Córsega. De frente para a ilha da Sardenha, na Itália. Na rota do comércio e das guerras do Mediterrâneo.

E Bonifácio tem características muito próprias. Na parte alta é uma fortaleza. E na parte baixa tem uma baía de águas calmas. No passado, um porto seguro para os navios. Hoje, uma disputada marina de iates de luxo.

Águas transparentes, cristalinas, de cor azul turquesa. A Córsega também é conhecida pela beleza do seu mar e a gente vai ver isso neste passeio até as Ilhas Lavezzi. Aceleramos por 20 minutos até nosso destino. As Lavezzi são um arquipélago de ilhotas de pedra. E não são elas que impressionam, não. E sim o mar em volta, que brinca de pintar azuis.

O arquipélago é uma reserva natural para algumas espécies de peixes e de aves marinhas. Os turistas podem sim desembarcar lá, aproveitar para caminhar nas praias, tomar um banho, mas podem subir nas rochas, porque têm ninhos de aves marinhas que devem ser protegidos. O lugar é desabitado e a fiscalização, sempre presente, mantém os pescadores longe do santuário.

Quem dá a volta nas Ilhas Lavezzi vai encontrando uma prainha mais bonita do que a outra. A cor deste mar tem uma grande variedade de tons. Tem esmeralda, safira, turquesa. É um prazer olhar para isso. Cenários assim enchem a Córsega de turistas no verão. E quem procura exclusividade encontra lugares como a Ilha Cavalo, um refúgio particular frequentado por celebridades.

Difícil imaginar que neste paraíso aconteceu o pior naufrágio da história do Mediterrâneo. A morte de mais e 700 marinheiros. O navio deles foi a pique depois de bater nas pedras da ilha em uma noite de tormenta. Os corpos foram enterrados na região.

Fiordes do Mediterrâneo

Na Ilha da Beleza, cada paisagem parece ser de cartão postal. E uma das mais incríveis delas começa em um trecho de dois quilômetros de estrada, que corta paredões de rocha cor de rosa. Na verdade, é granito cor de rosa. Os paredões foram esculpidos ao longo de milhões de anos pelo vento e pela chuva. Lá, são chamados de Calanches de Piana, que em uma tradução livre quer dizer: mar que entra na terra.

Piana é o nome da cidadezinha onde ficam as calanches, também conhecidas como Os Fiordes do Mediterrâneo. A estrada que serpenteia as formações rochosas é bem estreita. Dirigir, na região, tem lá seu jeitinho. Com a mão na buzina, para alertar quem vem no sentido contrário. O bom é que a estrada tem muitos recuos para estacionar o carro, sair e admirar os cenários. É soltar a imaginação. Não faltam formas para descobrir.

Muita gente não se contenta de ver a beleza dos paredões vermelhos, lá da estrada, e faz um passeio por mar para chegar bem perto dos paredões.

Os penhascos chegam a 300 metros de altura. O barco navega quase encostado nas pedras e vai revelando grutas, cavernas e passagens, como uma chamada de Portal.

À medida que o sol baixa, vai dando às rochas tons ainda mais avermelhados. E o contraste com o azul, sim, aquele azul do Mediterrâneo, faz das calanches um cenário espetacular. Não é à toa que o local é patrimônio natural da humanidade.

Fonte: Globo Repórter

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *