Crônica de Jesiel Bruzadelli Macedo

“Almas Penadas” é o título da crônica escrita pelo dentista aposentado Jesiel Bruzadelli Macedo, que reside em Fernandópolis, um município situado no noroeste do estado de São Paulo.

Jesiel afirma que, ao escrever, quis repassar algumas singelas considerações, em forma de crônica, sobre a responsabilidade de todos perante a natureza, o futuro e a sustentabilidade do País e do Planeta. “Tenho certeza que muitos, talvez todos, se sensibilizam e também se preocupam. É um desafio, cuja responsabilidade de vencê-lo cabe a cada um de nós. Que Deus nos ilumine a todos!”, exclama Jesiel.

Confira, logo abaixo, o texto na íntegra:

Almas Penadas

Jesiel Bruzadelli Macedo*

Elas, as “Almas Penadas”, faziam parte do imaginário popular, de nossos pesadelos, e das conversas com amigos e familiares nas noites frias, à volta de fogões a lenha; era comum, também, ao passarmos à noite perto de cemitério ou de casarões vazios, logo o medo nos assaltava, aumentando nossos passos e palpitações…

Tais Almas seriam de “mortos” que, pelo peso de seus pecados e expiando culpas, vagavam no Além, com eventuais aparições entre nós, os “vivos”,assombrando-nos… -Vade retro, Satana!

Meu avô José era mestre em contar “causos” desse tipo. Ele era também criador de pássaros de raça: azulão, bicudo, curió, pintassilgo, patativa,canarinho etc.Alguns estão extintos e a maioria quase desapareceu de nossos campos e matas. Há alguns anos, por um aparente milagre, uns poucos começaram a ressurgir, só que nas cidades…! Na verdade,essa “urbanização” das aves não foi por um “milagre”, e sim devido às “milagre-ssões” que sofreram pela mutilação irracional de seu“Habitat”.

A Natureza demorou alguns bilhões de anos para gerar e manter a Vida em sua plenitude e diversidade. Absurdamente, aos filhos do Deus-Pai e da Mãe-Terra, os únicos “almados”, e que tem “humanidade”, poucas décadas bastaram para que causassem o desequilíbrio do Berço-Natureza, com a inconsequente tortura e mortandade dos supostos “desalmados”!

Vi um canarinho, tempos atrás, trinando no centro de Fernandópolis e, para minha tristeza, notei que ele estava tentando fazer um ninho em um semáforo!Como ele, anuns preto e o branco (vulgo “ribita-rabo”), pombas-do-ar, o pica-pau chanchã, maritacas, papagaios e até araras, dentre outros, vivem ou tentam viver agora na “selva de pedra, concreto e asfalto”, pois dilapidamos seu Paraíso.

Contrariamente às atemorizantes Almas Penadas, que pagam por seus pecados e crimes, estas inocentes criaturas com penas, sem saber por que e por qual crime e justiça foram ‘apenadas’, perderam seu Éden silvestre e pagam duras ‘penas apenas’ pela sua pureza e fragilidade, forçadas aperambular pelo purgatório urbano, à cata de migalhas e abrigo.

Será mesmo que as aves têm alma? As religiões divergem sobre isto. Só que, sem dúvida, uma coisa é certa: tem muito humano que não a possui, pois não têm ‘pena’ delas!

Outro detalhe preocupante: antigamente, era tradição entre os Romanos o “avis spicium”, ou seja, eles faziam a predição de bons ou maus acontecimentos, bons ou maus agouros, através da observação e interpretação do canto e dos vôos de algumas aves…

– Será que estas avezinhas dos campos, hoje exiladas nos semáforos e telhados, pois roubamos seu Éden, não vieram nos avisar que, logo logo, perderemos o nosso Paraíso também?!?!

*Jesiel Bruzadelli Macedo é formado em odontologia

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