Estresse da vida moderna e hábitos nocivos à saúde ameaçam coração dos jovens

O infarto é uma das principais causas de morte entre os brasileiros. A doença atingiu, só no ano passado, mais de 100 mil pacientes. Desses, 87.234 morreram nos hospitais, o equivalente a 86% das internações. Na Paraíba, de janeiro até o final de agosto deste ano, já foram registrados 1.501 mortes por infarto agudo do miocárdio. Ao todo, 5.959 pessoas morreram de infarto no Estado, de janeiro de 2014 a agosto de 2016, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES).

O que chama a atenção nas estatísticas paraibanas, no período entre 2014 e 2016, é que 2,95% dos óbitos por infarto ocorreram com  pacientes na faixa etária entre 20 e 39 anos. O estudante de jornalismo pessoense Dann Barbosa, 31 anos, que morreu vítima de um ataque cardíaco, na tarde da última quarta-feira, enquanto aproveitava o feriado na Lagoa de Arituba, no Rio Grande do Norte, é mais um caso de infarto em pessoas jovens, o que acende o sinal de alerta para as pessoas ampliarem os cuidados com a prevenção.

O médico cardiologista José Livaldo de Carvalho aponta, entre os fatores que têm contribuído para a incidência de infarto em pessoas jovens, o erro alimentar com excesso de calorias, que leva ao aumento de gordura no sangue; o estresse gerado pela competitividade na luta pela sobrevivência, ou seja, na busca por uma melhor colocação nos concursos, num curso superior ou na pós-graduação; e em alguns casos, o sedentarismo, o diabetes, além dos fatores genéticos.

“Quem teve um pai ou um familiar com problema coronariano que morreu jovem, tem uma probabilidade grande de ter também essa doença coronariana. Essas pessoas com hereditariedade desfavorável devem, a partir dos vinte anos, procurar um cardiologista para fazer uma avaliação e diagnóstico desses fatores de risco que levam ao infarto, ou seja, as exigências para uma pessoa que tem um fator genético desse é muito maior do que para uma pessoa que não tem. Quem teve pai e mãe que morreu jovem com infarto precisa se precaver”, alerta.

O médico explica que, no jovem, ainda não há uma circulação colateral desenvolvida, como ocorre nas pessoas idosas, cujo corpo, com a idade, começa a produzir novas ramificações de artérias. As colaterais aparecem quando as outras artérias vão sendo obstruídas. No corpo dos jovens existem poucas artérias colaterais. “Os infartos dessas pessoas mais jovens, em alguns casos, são mais fatais e têm o prognóstico pior, porque não houve um tempo para adaptação das coronárias de sangue a fim de que houvesse uma melhor adaptação. Os infartos nessas pessoas de mais baixa idade normalmente são mais fatais por conta dessa questão funcional do tempo do organismo se adaptar para formar o que a gente chama em cardiologia de circulação colateral do coração. Há casos em que uma pessoa de 70 anos vai ao cardiologista e descobre que teve um enfarte que passou despercebido, porque houve essa adaptação do organismo formando a circulação colateral. Então, é mais comum que se forme circulação colateral na pessoa que tem mais idade”, esclarece.

Conscientização – Na opinião do cardiologista, a incidência e gravidade das doenças cardiovasculares justifica a realização de mais campanhas educativas que incentivem a prevenção, porque são essas doenças as que mais matam no mundo todo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), todos os anos, 17,5 milhões de pessoas morrem no mundo por causa de infartos, o que representa 31% dos óbitos. “As pessoas precisam estar informadas para mudarem hábitos e costumes. A conscientização advém da informação e a informação não caí do céu. Os órgãos governamentais, associativos, as ONGs, todos precisam intensificarem as campanhas informativas  de abrangência coletiva para esclarecer os jovens, principalmente, sobre seus hábitos alimentares”, observa Livaldo.

Segundo comenta o médico, parar de fumar, procurar uma alimentação balanceada, evitar bebidas alcoólicas, fazer exercícios com frequência, evitar o estresse, e fazer consultas e exames regulares com um cardiologista, são procedimentos que, além de afastar hábitos nocivos à saúde, reduzem os fatores de risco e a probabilidade de desenvolver doenças cardíacas.

Atendimento – Detectar os sintomas de infarto pode ser decisivo entre garantir a vida ou a morte da vítima. Os sinais mais comumente associados ao infarto começam em suor excessivo, dores típicas quando acometem o peito, pescoço, mandíbula e braço esquerdo, ou atípicas, quando atingem as costas ou o estômago, além da pressão arterial alterada, seja para mais ou para menos. Para caracterizar um possível infarto, esta sintomatologia costuma vir de súbito, e não se arrastar por vários dias. As pessoas, muitas vezes, confundem uma dor crônica, insistente e demorada, com uma aguda, que é sinal de que algo não está bem. Em todo o caso, ao acionar o socorro, é providencial informar se o paciente sofre de alguma doença preexistente.

O serviço de urgência do Samu deve ser acionado através do número 192 e os pacientes são levados para os hospitais Santa Isabel, Dom Rodrigo, ou Monte Sinai – a depender das especificidades de cada caso. Esses hospitais são referência em João Pessoa no tratamento de urgências cardiopatas. No entanto, segundo informa o cardiologista José Livaldo de Carvalho, na rede pública, apenas os hospitais Dom Rodrigo e o Monte Sinai, que é o antigo Santa Lúcia em Jaguaribe, têm condições de fazer um cateterismo de urgência. “Teve uma suspeita de infarto, você pode ir pra qualquer serviço de emergência como a UPA Valentina ou Oceania, que estão habilitadas para fazer a triagem e encaminhamento, ou procurar os hospitais Edson Ramalho, Santa Isabel e São Vicente de Paula. Agora, para o tratamento adequado só no Dom Rodrigo e no Monte Sinai. Já para quem dispõe de convênio tem o Hospital Samaritano, o Hospital da Unimed, o Hospital Nossa Senhora das Neves, entre outras opções”, informa.

Saiba Mais

Parar de fumar e evitar frituras são recomendações conhecidas contra o infarto. Mas há outras que poucas pessoas imaginam que podem salvar sua vida. Confira a seguir dicas que podem te surpreender:

Saúde Bucal – Muita gente não imagina, mas a prevenção de doenças cardíacas pode começar pela boca. Uma pesquisa do Instituto do Coração de São Paulo apontou que cerca de 45% dos problemas de coração investigados tinham origem na cavidade bucal, em cáries com comprometimento do canal, gengivas inflamadas, restos de dente e abscessos.

Ácido Acetilsalicílico – Uma das medidas mais eficazes em caso de suspeita de infarto é tomar dois comprimidos de ácido acetilsalicílico enquanto aguarda o resgate (desde que não se tenha alergia. Nesses casos, deve-se somente esperar o resgate). Mas é importante ressaltar que essa é apenas uma ação de urgência. Como prevenção, é importante praticar atividade física três vezes por semana, não fumar, não abusar de alimentos gordurosos e tentar evitar o estresse.

Poluição – A Organização Mundial da Saúde (OMS) comprovou que um a cada cinco casos de doença cardiovascular tem como causa a poluição de ar. A USP confirmou em testes com taxistas e agentes de trânsito que o fato de trabalharem na rua aumenta a pressão arterial e torna o sangue mais coagulável, o que leva ao incremento do risco de um problema vascular.

Sobre a doença – As doenças cardiovasculares são um conjunto de problemas que atingem o coração e os vasos sanguíneos. Segundo o Ministério da Saúde, elas lideram as causas de morte no Brasil, assim como na média dos países do mundo, respondendo por cerca de um terço do total de óbitos.

Prevenção – A melhor forma de prevenir ou adiar ao máximo o surgimento de doenças cardiovasculares é levar uma vida saudável. Os cuidados começam com a alimentação, que deve privilegiar vegetais, cereais e frutas. O consumo exacerbado de carnes, gordura animal, derivados do leite, açúcar e cerveja leva a problemas cardiovasculares. Sal em excesso também é perigoso, especialmente para quem tem pressão alta. A boa alimentação pode evitar problemas de colesterol, pressão alta e obesidade.

Praticar exercícios físicos regulares é o segundo passo para cuidar da saúde do coração. A atividade física beneficia o controle da pressão arterial, do colesterol e também da glicose, além de ajudar a emagrecer. Também é importante manter distância do cigarro.

Além desses cuidados no dia-a-dia, todas as pessoas – mesmo as que se sentem absolutamente saudáveis – devem visitar o consultório médico com regularidade, ao menos uma vez por ano.

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