Dia do Meio Ambiente: 5 companhias brasileiras que possuem suas próprias reservas naturais

O Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado hoje (5), é uma data instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas) para incentivar a conscientização e a mobilização pela proteção ambiental em todo o mundo. Diante deste compromisso, muitas empresas brasileiras estão conduzindo iniciativas que diminuem os impactos da ação humana no planeta e impulsionam a preservação da biodiversidade. Entre essas ações, estão as RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural).

Com o propósito de dividir com o governo a responsabilidade pela conservação e contribuir com a proteção da fauna e da flora brasileira, essas reservas são unidades conservacionistas criadas voluntariamente em áreas particulares pelos próprios proprietários de terras, sejam pessoas jurídicas ou físicas. “É uma estratégia para aumentar a parcela protegida das áreas particulares. E trata-se também da ratificação da relevância ambiental de uma determinada área, pois somente locais com importância ecológica são transformados em RPPN”, explica Rômulo Arantes, gerente de projetos da consultoria ambiental Ramboll Brasil.

De acordo com a Confederação Nacional de RPPNs, existem mais de 1.650 reservas do tipo no Brasil. Juntas, elas preservam mais de 800 mil hectares de áreas naturais e biodiversidade. As RPPNs também representam a modalidade de unidade de conservação que mais cresce em todo o país e, segundo Marcelo Teixeira, professor e doutor em ciência ambiental da USP (Universidade de São Paulo), elas trazem aos proprietários um compromisso efetivo com a natureza. “Todo o processo de criação destas reservas tem caráter perpétuo. Se uma empresa mudar de dono ou for vendida, a RPPN continua existindo, e as obrigações de preservação também.”

E quanto mais áreas ambientalmente relevantes ou vulneráveis estiverem protegidas, maiores serão as garantias de prestação de serviços ecossistêmicos, o que resulta em elevados índices positivos para a conservação e proteção da biodiversidade dos biomas e de espécies endêmicas, raras e ameaçadas de extinção. E, neste cenário, as empresas podem assumir o protagonismo na conservação ambiental, além de outros benefícios, segundo Arantes. “As companhias que possuem RPPNs ganham vantagens com isenção do Imposto Territorial Rural (ITR) e acesso aos fundos de investimento como green bounds [títulos verdes, em tradução livre]. E também com o pagamento por serviços ambientais, créditos de carbono, compensações ambientais, fundos de pesquisa, ciência e tecnologia”, enumera. Além destes fatores, essas organizações têm prioridade na análise de crédito agrícola.

À medida que uma empresa coloca em prática iniciativas para a manutenção das reservas, ela pode também realizar atividades de turismo sustentável, pesquisas científicas e projetos de educação ambiental com a comunidade local, que, segundo Marcelo Teixeira, leva a preservação a outro nível. “Muitas empresas e pessoas físicas tornaram suas RPPNs espaços acessíveis ao público, permitindo não apenas o contato com a natureza, mas principalmente a compreensão da importância dessas áreas. É o tipo de iniciativa que deixa claro que essa é uma missão que não deve ser restrita apenas às companhias, mas precisa contar também com a participação dos cidadãos. Esses ensinamentos precisam se expandir a partir das RPPNs”, explica.

Com base em suas experiências de pesquisas desenvolvidas em colaboração com entidades privadas engajadas na proteção de reservas ambientais, Teixeira afirma que tais empresas foram bem-sucedidas ao criar condições de conscientização, especialmente em gerações que, agora, estão pressionando por posicionamentos corporativos sustentáveis. Por outro lado, essas empresas também tiveram ganhos em valores intangíveis relacionados à cultura e imagem institucionais. “As empresas comprometidas com ações ESG não apenas agregam valor às suas marcas, como também incentivam seus funcionários a mudar de mentalidade, e isso cultiva novos valores na organização. Essa responsabilidade que nasce na direção da empresa chega à sociedade por meio dos colaboradores”, relata o especialista.

DESAFIOS DE PRESERVAÇÃO

Além de contribuir para o bom funcionamento do ecossistema, uma das principais premissas de uma RPPN é que ela seja autossuficiente em recursos naturais e capaz de abastecer tudo e todos que estão ao seu redor. E assegurar esse papel é um dos deveres dos proprietários das reservas, diz o gerente de projetos da Ramboll Brasil. “Como unidade de proteção integral, a RPPN tem como propósito a manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana, admitindo apenas o uso indireto dos seus atributos naturais. Portanto, o principal desafio é a estruturação de um plano de gestão de viabilidade ambiental, social e financeira.”

Por outro lado, Juliano Bogoni, pesquisador do Departamento de Ciência Florestal da USP, enfatiza que a eficácia de uma RPPN depende também de fiscalização do poder público sobre o trabalho desenvolvido pelos proprietários e medidas de segurança. “Para que o compromisso de preservação não fique apenas no papel, o Estado deve verificar as ações desenvolvidas na reserva e como são geridas, além de garantir que elas não sejam abandonadas e se tornem alvo de invasões, grilagens, desmatamentos e queimadas. Sem essa fiscalização e medidas de proteção à fauna e flora, a RPPN não sobrevive.”

Como a RPPN simboliza uma concessão de terra do poder público à iniciativa privada, Bogoni acredita que estes atores devem estabelecer uma parceria para gerar resultados de longo prazo em conservação. “Tal relação pode trazer boas lições para ambos e incentivar transparência em todas as iniciativas.” Já Marcelo Teixeira acredita que a colaboração público-privada pode construir uma convergência entre o governo e as empresas em pautas ambientais, que por efeito, influenciarão a comunidade. “Essa união pode não apenas apoiar empreendedores e governos responsáveis com o planeta, como também gerar diálogos abertos e decisões que sejam claras e que envolvam a participação da sociedade.”

Com uma gestão eficiente, as RPPNs passam a funcionar como redes de unidades de conservação interligadas entre si e, ao mesmo tempo que protegem a biodiversidade, contribuem com a qualidade de vida e recursos essenciais às metrópoles. “No caso de São Paulo e de outras cidades grandes, existem muitas destas reservas no entorno que estão conservando os recursos hídricos locais, nos garantindo água potável, saúde e a manutenção do nosso estilo de vida”, diz Teixeira.

Neste cenário, o pesquisador reforça a responsabilidade das empresas com as condições do ecossistema. “Ter RPPNs geridas por empresas configura um movimento inédito, porque elas deixam de ver o lucro como principal finalidade e passam a assumir seus deveres com o meio ambiente e se engajar em diversas frentes de atuação em favor da sociedade e do desenvolvimento. Assim, elas se tornam catalisadoras de grandes mudanças”, conclui.

Grupo Boticário: RPPNs Serra do Tombador e Salto Morato

O Grupo Boticário, por meio da Fundação Grupo Boticário, mantém duas RPPNs: a Reserva Natural Serra do Tombador, de 8.730 hectares, em Cavalcante (GO), e a Reserva Natural Salto Morato, com 2.253 hectares, em Guaraqueçaba (PR). Ao todo, os cerca de 110 km² das duas reservas representam uma área equivalente a 70 Parques do Ibirapuera. A Serra do Tombador faz parte do bioma Cerrado, enquanto a Salto Morato pertence à Mata Atlântica.

O objetivo da fabricante brasileira de cosméticos é proteger permanentemente parcelas significativas de ecossistemas dos dois biomas, complementando os esforços públicos de conservação e proteção da biodiversidade. De acordo com a companhia, são investidos, em média, cerca de R$ 2 milhões por ano nas duas RPPNs com serviços de manutenção, segurança, monitoramento e recursos humanos. No entanto, os investimentos aumentam se considerarmos a necessidade de lidar com problemas no entorno das reservas, como queimadas, enchentes e o combate à caça de animais e à extração ilegal de madeira.

A Reserva Natural Serra do Tombador protege nascentes e fluxos d’água que formam o Rio São Felix, importante afluente do Rio Tocantins. Além de abrigar espécies como onça-pintada, tatu-canastra e lobo-guará, estima-se que ela é capaz de estocar cerca de 212 mil toneladas de carbono. Já a Reserva Natural Salto Morato, além de ser campo de estudo para muitos pesquisadores, é um importante atrativo turístico do município de Guaraqueçaba, contribuindo com a geração de renda para a população local. A área rende, anualmente, cerca de R$ 110 mil de ICMS Ecológico à cidade. E o impacto econômico gerado na região, devido à visitação na unidade de conservação e ao efeito multiplicador no setor turístico, é de quase R$ 860 mil em períodos normais (sem pandemia).

Segundo o Grupo Boticário, os valores alcançados pelos benefícios gerados por meio da conservação das reservas Serra do Tombador e Salto Morato são de, aproximadamente, R$ 666 mil e R$ 1,2 milhão por ano, respectivamente.

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