De PET a piso laminado
Produtos são confeccionados a partir da reciclagem de garrafas, onde inovação e sustentabilidade orientam todas as etapas do processo

Materiais que levariam até 400 anos para serem decompostos na natureza são reaproveitados no desenvolvimento de produtos que atendem às indústrias moveleira, automobilística, de eletroeletrônicos e construção civil, entre outras. É o que faz a Lamiecco, indústria situada no município de Montauri (RS), a cerca de 230 km de Porto Alegre, focada na produção de revestimentos ecológicos cujos produtos são confeccionados a partir da reciclagem de garrafas PET.
“Reciclamos mais de oito milhões de pets por mês. Para cada 3 m² de piso ecológico usamos 30 garrafas pet e um pneu de veículo de passeio. Já no revestimento para parede e box, usamos dez garrafas por metro quadrado”, conta Alexandre Figueiró, diretor-presidente da Lamiecco. Figueiró conta que a empresa atua com processos com impacto significativo no meio ambiente disponibilizando produtos com alto valor agregado.
O próximo lançamento da marca ocorrerá em breve. “Trata-se de um piso patenteado pela Lamiecco e criado para substituir os pisos vinílicos. Todos os lotes do produto têm atestado de qualidade”, afirma. Ele diz que o preço será de 10% a 15% mais competitivo. “Com a vantagem de ser sustentável e com capacidade superior de atenuar ruído, por conta da borracha de pneu que faz parte da composição do produto.”
A empresa desenvolve seus produtos com base em matérias-primas recicladas. A reciclagem movimenta empregos diretos e indiretos, desde a coleta de materiais até o seu processamento. Unidades de captação, seleção de matérias-primas e cooperativas de catadores, por exemplo, abastecem o setor de reciclagem. Desta forma, incentivamos atividades de inclusão social e coleta seletiva.
A indústria recicla anualmente mais de 100 milhões de garrafas PET. A previsão é que, com o lançamento do Piso Ecológico, a Lamiecco passe a demandar também mais pneus reciclados, que serão utilizados na composição do produto.
Como funciona
O processo de reaproveitamento do material começa com a separação das garrafas por cores e por origem (as enviadas por coleta seletiva têm a reciclagem facilitada), seguida pela remoção de rótulos e tampas. Depois de passar por uma linha de superlavagem, onde é descontaminado com água quente e produtos químicos, o material é transformado em flocos plásticos. Por um processo de extrusão, os flocos são derretidos e fundidos novamente em formato laminar. O equipamento, importado dos Estados Unidos, produz até uma tonelada de lâminas a cada hora. Após o resfriamento, as chapas passam pela texturização, onde ganham formato e cor conforme a encomenda do cliente.
Além de cuidar do meio ambiente, Figueiró garante a beleza e qualidade aos projetos de decoração que utilizam os Pisos Ecológicos Lamiecco. “Fabricados com tecnologias limpas e matérias-primas de origem reciclada, são 100% ecológicos e garantem proteção por muito mais tempo. Retiramos mais de oito milhões de garrafas PET por mês do meio ambiente e as utilizamos na fabricação de nossos produtos, que atendem às demandas de diversos segmentos de acordo com necessidades específicas. Práticos e resistentes, vão da obra ao móvel. São chapas, bobinas e fitas de borda em cores sólidas e acabamentos especiais ou madeirados. Reunindo estilo, técnica e sustentabilidade, fornecemos soluções sustentáveis, tecnicamente eficientes e esteticamente alinhadas com as necessidades do mercado de revestimentos de superfície”, reforça o diretor.
No segmento industrial, a Lamiecco atua junto ao setor moveleiro e de construção civil. No segmento corporativo, seus revestimentos se adequam às necessidades técnicas e estéticas de diversos nichos, tais como hotelaria, educacional, saúde e corporativo. “Oferecemos também produtos para o varejo e atuamos em boutiques de revestimentos, home centers e revendas”, reforça.
A Lamiecco possui ainda o CTL (Centro Tecnológico Lamiecco), responsável pelo Sistema de Garantia de Qualidade (SGQ) e o PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovações). “Garantimos o controle da qualidade dos produtos, que atendem às normas requisitadas pela ABNT”, reforça Alexandre.
Entre as novidades deste ano, a empresa vai lançar o Piso Ecológico, cuja patente de inovação coloca a Lamiecco como única fabricante no mundo a produzir pisos flexíveis a partir da reciclagem de PET e pneus, o Lamiecco Extra, revestimento com alta resistência superficial para substituição de laminados de alta pressão e o Lamiecco Fixa Fácil, revestimento autoadesivo prático e higiênico que permite obras e reformas sem sujeira e interdição de áreas.
“A Lamiecco hoje conta com 70% de sua carteira de clientes formada por revendas em todo o Brasil e 30% por indústrias moveleiras, entre as quais estão as principais marcas do segmento”, reforça Alexandre.
Alexandre Figueiró: “Retiramos oito milhões de garrafas PET por mês do meio ambiente e as utilizamos na fabricação dos produtos” – Imagem: Flávia Schenatto
Como funciona
A Lamiecco é uma das investidas do FIP INSEED FIMA – Fundo de Inovação em Meio Ambiente, gerido pela Inseed Investimentos, primeiro fundo do Brasil destinado ao segmento de inovação aplicada ao meio ambiente. E os recursos recebidos em 2014 foram destinados à ampliação da capacidade produtiva, Pesquisa & Desenvolvimento e em contratações para posições de liderança.
O CEO afirma que a relação entre sustentabilidade e inovação sempre marcou o desenvolvimento dos produtos. “Essa postura resultou no aporte de R$ 9 milhões, feito em janeiro de 2014, pelo FIMA.” Segundo ele, os recursos foram utilizados para ampliar o mix de produtos e na compra de equipamentos. Hoje, cerca de 30% do faturamento já vem dos novos produtos. Também ampliamos o uso de ferramentas para planejamento estratégico e implantamos controles.
“A nossa parceria com a Inseed, por meio do FIP INSEED FIMA, uniu competências que vão contribuir para atingirmos nossos objetivos. Por meio desse acordo, há o equilíbrio societário e vamos aliar nosso conhecimento da indústria com o conhecimento em gestão estratégica da equipe da Inseed para alcançar o crescimento sustentável da Lamiecco”, reforça Figueiró.
Fique por dentro:
O Fundo FIP INSEED FIMA – Fundo de Inovação em Meio Ambiente tem R$ 165 milhões de capital comprometido para aportar em até 20 empresas de tecnologias limpas. Desde 2012, a INSEED Investimentos, gestora do Fundo, prospectou 1.271 empresas e 12 desenvolveram seu projeto de investimento. Já foram aprovados R$ 36,2 milhões em sete empresas.
Informações e inscrições pelo site:
www.inseedinvestimentos.com.br/fima
Jornal que vira lápis
Ficou sem saber o que fazer com o jornal velho? A Cooperativa de Artesanato Futurarte, criada pela Instituição Social Ramacrisna com o objetivo de gerar trabalho e renda para mulheres em vulnerabilidade social da zona rural de Betim, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), transforma jornal velho em lápis. Um exemplo de empreendedorismo inovador-sustentável que une os benefícios de um produto comum com o diferencial da sustentabilidade. Os lápis são produzidos de forma artesanal: folhas inteiras de jornal são enroladas em torno do grafite com uma técnica criada e aprimorada pelas cooperadas. Nenhum produto químico tóxico é adicionado. A cola especial usada une o jornal ao grafite de forma que a textura fica similar à tradicional madeira usada na confecção desses objetos. A coleção conta também com outros 19 itens como nécessaires, Kit Chá Comigo, Kit Café, Giz de Cera Sustentável, entre outros. Todos produzidos com material reaproveitado – como jornal, arames, banners – e com peças de tear e cerâmica criados dentro da própria cooperativa.
Insecta shoes
Um outro exemplo interessante no mercado é a Insecta Shoes que transforma peças de roupas usadas de brechó e tecido feito de garrafas de plástico recicladas em botas, oxfords, sandálias e slippers. Com apenas dois anos de vida, a empresa já reciclou 2.100 peças de roupas, 630 kg de tecidos e 1.000 garrafas pet. Cada parte do sapato tem um porquê e um objetivo de redução de dejetos, reinserindo produtos que seriam jogados fora, gerando um novo produto. Desta forma a sola é feita de borracha reciclada, com excedente da indústria, que é triturada e prensada. Contraforte e Bico: as partes que dão forma e estrutura para os sapatos são feitas de plástico reciclado. Já o tecido têm duas linhas, uma de tecido vintage, que reaproveita tecidos de segunda mão ou roupas de brechó; a outra é feita de tecidos de garrafa PET reciclada e/ou algodão reciclado. A palmilha é formada por restos de tecidos e outros materiais que são sobras da indústria, os quais são processados e reformatados. Nenhum dos produtos tem origem animal.