Cumprimentos como “oi” e “tchau” são comuns entre chimpanzés, diz estudo
Primatas como chimpanzés e bonobos fazem uso constante de sinais gestuais como “oi” e “tchau” para abrir ou fechar uma conversa ou outra interação social, segundo novo estudo conduzido por cientistas da Universidade Durham, no Reino Unido.
O material publicado no jornal iScience analisou cerca de 1,2 mil interações sociais entre grupos de chimpanzés, bonobos (também conhecido como “chimpanzé-pigmeu” ou “chimpanzé-anão”) e outros primatas relacionados em zoológicos, revelando que os animais trocavam sinais que iam desde acenos no ar, passando por toques de mãos ou no corpo e até cabeçadas, não muito diferente do que um humano faz com uma pessoa mais íntima.
“Com os humanos, essa ideia se mostra favorável aos compromissos (sociais) conjuntos”, disse Raphaela Heesen, principal autora do estudo e pesquisadora pós-doutorado da Universidade Durham. “Isso inclui todas as interações conjuntas – por exemplo, coisas menores como almoçar com amigos; ou maiores, como projetos em grupo”.
Em outras palavras: chimpanzés que dizem “oi” ou “tchau” não estão apenas sendo educados entre si, mas cumprindo um papel social mútuo, compartilhando daquilo que Heesen chamou de “sensação de obrigação comum”. A grosso modo, entre humanos, é a mesma coisa quando alguém lhe diz “oi”, e você responde “oi” de volta por se sentir compelido a isso.
“É como se fosse a ‘cola’ do nosso sucesso enquanto espécie, e esse fundamento também é presente em bonobos e chimpanzés”, disse a cientista.
A proposta do estudo estabelece que compromissos sociais conjuntos não são desencadeados apenas pela sensação de obrigação, mas também estabelecem consenso e permissão – e o cumprimento disso. Por exemplo, chimpanzés costumeiramente sinalizam com as mãos quando pretendem abordar um parceiro para caçar piolhos ou chamá-lo para brincar. Em termos resumidos: além de uma forma de cumprimentar o indivíduo, essa sinalização também remete à permissão – quem sinaliza pede para se aproximar e tocar, e recebe de volta um sinal dando essa abertura.
“Antes, pensávamos que a humana era a única espécie animal que coordenava essas frases de entrada e saída de interações sociais”, disse Heesen. Ainda não havia sido sistematicamente estudada a ideia de que outras espécies também ‘pedem para sair’ assim como nós. Sabemos que outros animais iniciam interações sociais, então a ‘entrada’ é comum”.
Especialistas no tratamento de primatas em zoológicos argumentaram que já sabiam dessa conexão entre os animais há algum tempo, porém o estudo os ajudou a entender melhor as dinâmicas sociais entre eles.
“Desde que vimos pela primeira vez esses animais no habitat natural, ficou óbvio que essas espécies se cumprimentam; entretanto, agora que um melhor estudo vem sendo conduzido, comportamentos mais sutis começaram a ser notados por cientistas”, disse Claire Redfern, tratadora e especialista em bonobos do zoológico de Twycross, no Reino Unido. “O comportamento dos bonobos tendem a ser bem mais sutis que o dos chimpanzés, cujos gestos são mais óbvios, então alguns movimentos menores podem facilmente passar despercebidos por acontecerem muito rápido”.
Segundo ela, outros gestos são mais simples de ver: “os que mais notamos são grupos de bonobos com as mãos dadas ou ‘apresentando’ partes do corpo. Há também o contato visual- manter o olhar fixo também é extremamente importante no comportamento dos bonobos pois, assim como em humanos, o ‘olho no olho’ ajuda a formar um laço mais forte com o outro indivíduo”.
Heesen disse que sua equipe agora deve se aprofundar nesse estudo, a fim de determinar a origem dessas interações sociais mais aprofundadas.