Cientistas revivem micróbios de mais de 100 milhões de anos enterrados no fundo do mar
Pesquisadores dos Estados Unidos e do Japão conseguiram reviver micróbios que ficaram adormecidos no fundo do Pacífico Sul por 101,5 milhões de anos. O estudo publicado nesta terça-feira (28) pela revista “Nature Communications” dá pistas sobre a duração da vida na terra.
Os cientistas encontraram os seres microscópicos em amostras de argila coletadas a mais de 74 metros do solo marítimo –que fica coberto por quase 6 km de água– com a ajuda de um barco de pesquisa, o Joides Resolution.
Os micróbios são apontados como os organismos vivos mais antigos do planeta. Cerca de 99% dos encontrados pelos exploradores datam da era dos dinossauros e estavam presos entre os sedimentos sem nenhum tipo de nutriente.
Yuki Morono, geomicrobiologista da Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia, explicou à agência de notícias Reuters que os micro-organismos ficaram incubados por 557 dias antes do anúncio. Em um laboratório, eles foram “alimentados” com carbono, nitrogênio, amônia e aminoácidos.
Pesquisadores Yuki Morono, Laurent Toffin e Steven DÕHondt trabalhando a bordo do navio de pesquisa JOIDES — Foto: Divulgação/IODP/JRSO
Crescer e multiplicar
Com o cuidado dos cientistas, os micróbios cresceram, se multiplicaram e foi possível identificar a presença de atividades metabólicas. Os pequenos organismos são aeróbicos –o que quer dizer que precisam do ar para viver– e essa substância foi encontrada nas amostras dos sedimentos.
“É surpreendente e biologicamente desafiador que uma grande fração de micróbios possa ser revivida depois de um período tão longo enterrado em condições extremamente escassas de nutrientes e energia”, disse Morono.
Isso indica, segundo os pesquisadores, que é possível “prender” o oxigênio entre os sedimentos no fundo do mar. Mas para isso, eles identificaram que a cobertura do solo deveria acontecer de maneira bastante lenta, com uma taxa de um metro a cada um milhão de anos.
A vida na Terra
O oceanógrafo da Universidade de Rhode Island, Steven D’Hondt, disse que a descoberta é empolgante e que dá pistas sobre a duração da vida no planeta.
“A parte mais empolgante deste estudo é que ele basicamente mostra que não há limite para a vida embaixo dos sedimentos mais antigos, no fundo dos oceanos, na Terra”, disse D’Hondt. “Manter a capacidade fisiológica por 100 milhões de anos em isolamento é uma façanha impressionante.”
Uma pesquisa publicada em 2000 descreveu a recuperação de bactérias dentro dos cristais de sal de 250 milhões de anos, no Texas, mas não há um consenso em relação à idade desses micróbios.