Cientistas descobrem uma função misteriosa da orelha para audição e equilíbrio
Há alguns anos atrás, o biólogo Ian Swinburne, pesquisador da Faculdade de Medicina de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos, percebeu algo estranho enquanto conduzia uma microscopia de lapso de dentro do ouvido interno de um peixe-zebra: dentro do órgão, havia uma minúscula estrutura que pulsava, inflando e esvaziando, como um mecanismo de relógio.
Após alguns estudos sobre o que havia achado, o pesquisador e seu colega Sean Megason descobriram que aquela estrutura era o saco endolinfático, uma espécie de bolsa cheia de líquido que se conectava à orelha interna por um longo e fino canal.
A orelha interna é um órgão sensorial composto por várias estruturas complexas e que tem como responsabilidade garantir a capacidade de audição e equilíbrio.
Todas as estruturas da orelha interna são interligadas e contêm um fluído que se move em resposta às ondas sonoras ou ao movimento da cabeça. Tais movimentos são detectados por células sensoriais e são convertidos em sinais neurais que o cérebro processa. Qualquer desordem na composição química ou na pressão do fluído podem resultar em diferentes doenças.
E pelo que Swinburne e Megason descobriram, é o saco endolinfático, uma pequena estrutura, que é responsável por controlar a passagem desse líquido. “Os cientistas sabem da existência do saco endolinfático talvez por 300 anos, mas nunca entenderam ao certo o que ele realmente faz”, afirmou Megason.
O desconhecimento acerca do saco endolinfático levou ambos os cientistas a estudarem a estrutura misteriosa e a criarem modelos delas, uma vez que acessá-la em mamíferos é muito difícil, pois o ouvido interno dessa classe de animais é pequeno e envolto por ossos extremamente densos.
Uma exceção à regra são as orelhas internas dos embriões de peixe-zebra. Nestes animais, o sacos endolinfático é muito mais visível e enxergar seu movimento de pulsação, muito mais possível.
Foi analisando o ouvido dessa espécie que Swinburne suspeitou que o saco endolinfático estivesse relacionado ao controle de pressão do órgão. Mas essa era somente uma hipótese, ele precisava de uma prova científica.
Por sorte, Swinburne estava trabalhando em outro projeto paralelo com a mesma espécie e encontrou um peixe-zebra com sacos endolinfático anormais que tinha um tamanho muito maiores do que os normais.
Esse espécime foi usada como cobaia e os pesquisadores perceberam que o fluído do saco endolinfático dela não se movimentava como deveria. Às vezes, ele vazava, outras, se acumulava e inchava a estrutura do ouvido interno.
Com algumas imagens do cérebro e das estruturas do ouvido do animal, ficou claro que os sacos endolinfático continha membranas que formavam barreiras para a passagem de líquido. Essas barreiras eram camadas formadas por projeções celulares que atuam como uma válvula de alívio de pressão, abrindo e fechando para regular a liberação de fluído do ouvido.
Ou seja, em outras palavras, essa estrutura ajuda a manter a pressão do ouvido e a evitar disfunções no órgão, por exemplo, como a Síndrome de Meniére, doença marcada por vertigem, perda auditiva e zumbido no órgão.
“De vez em quando, ouvimos falar sobre casas que são destruídas por conta de um defeito na válvula de pressão do aquecedor de água. É importante termos esses sistemas de controle de segurança em nossos órgãos também”, avaliou Swinburne.
Os pesquisadores acreditam que esse mesmo mecanismo esteja presente em outros órgãos, como nos olhos, cérebro e nos rins, que também contêm cavidades de fluído pressurizadas.