Bisfenol-S é um substituto ao bisfenol-A e pode ocasionar diversos problemas. Entenda
Bisfenol-S é um substituto ao bisfenol-A, porém, tão perigoso quanto
A polêmica envolvendo o bisfenol-A (BPA), substância conhecida principalmente pelos seus efeitos negativos no equilíbrio hormonal dos organismos, deu origem à leis de restrição de uso e até mesmo ao banimento desse material em mamadeiras.
Sem BPA, as fabricantes de mamadeiras e produtos correlatos começaram a utilizar um produto substituto, o BPS, também chamado de bisphenol-S (ou de bisfenol-S), um material sintético utilizado em alguns tipos de polímeros, como a polietersulfona e a polissulfona.
De acordo com um relatório de 2014 da Agência Europeia dos Produtos Químicos, o BPS tem um volume de produção entre mil toneladas e dez mil toneladas por ano.
Onde está presente
Atualmente o BPS não está sujeito à regulamentação e pode estar presente em vários tipos de produtos, principalmente em países em desenvolvimento.
Ele pode ser utilizado como agente de fixação de lavagem em produtos de limpeza industrial, solvente de galvanoplastia e em papéis de impressão térmica (como melhorador de cor).
Uma publicação da Environmental Health Perspectives, que compilou uma série de estudos sobre o BPS, mostrou que o material foi encontrado também em produtos do cotidiano como maquiagem, produtos de lavagem corporal, loções, creme dental, produtos para o cabelo, moedas, folhetos, ingressos, envelopes, passagens de avião, materiais reciclados como caixas de pizza, bacias de comida, papel higiênico reciclado e até em alimentos como os produtos lácteos, carne, produtos à base de carne, vegetais, alimentos enlatados e cereais. Os papéis com revestimento de BPSpodem conter até 40% mais produtos químicos do que as embalagens revestidas com BPA, isto porque o BPS é mais fraco que o BPA em termos de qualidades necessárias ao revestimento.
O estudo mostrou que o BPS também foi detectado em águas superficiais, sedimentos, efluentes de esgoto e inclusive em humanos, sendo encontrado em 78% de amostras de urinas de uma pesquisa feita com 100 pessoas.
Em relação ao ambiente, uma grande preocupação são os microplásticos e plásticos fragmentados em maior tamanho contendo BPS. Esses materiais vão parar no oceano e acabam ficando presos no gelo polar, passando a integrar o habitat e o corpo dos organismos. Em alguns casos, o BPS passa a fazer parte das rochas, formando plastiglomerados, como na imagem abaixo:

Os plastiglomerados liberam BPS no ambiente, e este, por ser uma substância hormonalmente ativa, acaba causando desiquilíbrio no sistema hormonal dos animais.
Efeitos comprovados
Assim como o BPA, o BPS é um disruptor endócrino (causador de desequilíbrio no sistema hormonal). E apresenta comprovadamente potencial de causar câncer, efeitos negativos nos testículos de mamíferos, na glândula pituitária, na reprodução de fêmeas mamíferas e dos peixes.
A Agencia de Protección Ambiental de EEUU (EPA), conclui que o bisfenol-S tem um alto potencial de risco quando utilizado como alternativa à tinta de impressão.
Efeitos dos disruptores endócrinos
De acordo com um documentofinanciado pelo European Environment and Health Initiative, os disruptores endócrinos semelhantes ao BPS têm potencial de prejudicar a qualidade do sêmen, causar mal formação congênita na uretra e testículos, alterações no sistema reprodutor feminino que levam à puberdade precoce, redução da fertilidade, Síndrome dos Ovários Policísticos, complicações na gestação, endometriose e fibriose uterina.
Os disruptores endócrinos ainda têm potencial de causar câncer nas mamas, testículos, tireóides e próstata. Com relação aos efeitos no sistema neurológico, os disruptores endócrinos podem causar problemas cognitivos de aprendizagem e memória; autismo; transtorno de déficit de atenção; retardo e paralisia mental; déficits neurofisiológicos; deterioração motora; mudanças de comportamento; desordens de movimentos; déficit de QI e lentidão generalizada, déficit sensorial; agressividade e defeitos no tubo neurológico embrionário.
Com relação ao sistema metabólico, os disruptores endócrinos estão relacionados com a diabetes e a obesidade, doenças que podem ocorrer devido à alterações no equilíbrio hormonal.
Danos
Estima-se que os prejuízos financeiros com os habitantes europeus gerados pelos danos causados pelos disruptores endócrinos similares ao bisfenol-S geram um custo de 157 a 210 bilhões de euros por ano à União Europeia (dados de 2015).
Efeitos nos animais
Invertebrados
Nos invertebrados, os disruptores endócrinos, de maneira geral, podem causar mudanças na anatomia genital que causam esterilidade; mortalidade de larvas; inibição da metamorfose e redução a capacidade reprodutora.
Peixes
Em peixes expostos a disruptores endócrinos similares ao bisfenol-S foram observadas alterações sexuais, anomalias nas tireoides e mudanças de comportamento, efeitos que colocam em risco a sobrevivência de populações de peixes afetadas.
Anfíbios
Nos anfíbios, os disruptores endócrinos causam masculinização de fêmeas, mudanças de comportamento sexual e alterações na metamorfose e desenvolvimento.
Répteis
Os efeitos conhecidos dos disruptores endócrinos sobre tartarugas e crocodilos incluem deformidade sexual, feminização de machos, alteração nos níveis de esteroides e danos no sistema reprodutor, incluindo redução do tamanho do pênis.
Aves
Nas aves, os disruptores endócrinos prejudicam o desenvolvimento dos ovos e causam alterações no comportamento reprodutor.
Mamíferos
Os efeitos dos disruptores endócrinos causam drásticas reduções nas populações de baleias, golfinhos, ursos polares, veados e furões. A exposição aos disruptores endócrinos também está relacionada à baixa fertilidade, malformações do trato reprodutor, desordens da tireóide e lesões nas glândulas suprarrenais.
Absorção
A absorção por bisfenol-S pode se dar por meio da ingestão de alimentos contaminados que foram embalados, guardados e/ou processados em recipientes contendo BPS.
O BPS pode migrar dos papéis térmicos (recibos de supermercado, restaurantes, postos de gasolina, ônibus, bancos, etc.) para a pele e ir parar na corrente sanguínea, principalmente no caso das pessoas que trabalham diariamente expostas a este tipo de material.
Um estudo internacional mostrou que, no Estado de São Paulo, 98% das amostras de recibos analisadas continham BPA e/ou BPS.
Segurança
Quem acha que está seguro ao adquirir produtos com o rótulo BPA-free (livre de BPA) na verdade pode não estar, pois o rótulo não garante que o material seja livre de outros tipos de bisfenol, similares ao bisfenol-S. E por não ser um material regulamentado, não se sabe onde o BPS pode estar.
De acordo com uma publicação pela revista Nature, apesar de o BPS ir parar na corrente sanguínea apenas entrando em contato com a pele, essa via de exposição apresenta valores baixos para efeitos tóxicos. Entretanto, de acordo com a mesma fonte, dado o potencial de níveis mais altos de exposição de outras fontes como alimentos e ao fato de o BPS causar efeitos em quantidades muito pequenas, há necessidades de mais estudos para aprovar sua segurança.
Exposição
Para se prevenir da exposição ao BPS dê preferência a alimentos in natura, que não ficam em contato com embalagens plásticas durante muito tempo.
Evite os alimentos processados que têm durabilidade muito grande, pois as chances de o BPS migrar deste tipo de embalagem para os alimentos é maior.
Opte por materiais de vidro, aço inoxidável e materiais de porcelana.
Não imprima extratos nem comprovantes, priorize as versões digitais.