Pesquisadores da Universidade Estadual descobrem vestígios tupi no Sertão da Paraíba

Os índios tupis habitaram o Sertão paraibano. A descoberta foi feita pelo professor Juvandi Souza, que coordena uma pesquisa desenvolvida no Laboratório de Arqueologia e Paleontologia (Labap), da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), a partir de objetos encontrados durante escavações no município de Serra Grande, no Sertão do Estado. Há resquícios dos tupis em pelo menos 19 localidades do Brejo, do Agreste e do Sertão paraibanos. Até então, acreditava-se que apenas os Tapuias, representados pelos cariris e tarairius, haviam ocupado a região.

Com as novas pesquisas, será necessário rever a história da pré-história da Paraíba, porque, até antes dessas evidências, acreditava-se que em determinadas regiões do que hoje é o Estado habitavam apenas cariris e tarairius.

“Agora sabemos que o povo tupi também viveu nessas regiões que, historicamente, eram dos tapuias. Isso vai mudar tudo com relação à questão da pré-história do que hoje é o Estado da Paraíba”, declarou o pesquisador. Antes de começar a identificar a existência de materiais do grupo humano tupi nessa região e, principalmente, no Alto Sertão, a ideia era de que havia sido habitada apenas pelos tapuias. A partir dos últimos dois anos e meio, a equipe de pesquisadores do arqueólogo tem trabalhado em alguns sítios em Serra Grande, e os novos achados revelaram que os tupis, de fato, viveram ali. O que havia de informação sobre os tupis é que eles tinham vivido mais na região do Litoral e em suas proximidades, até onde hoje são os municípios de Pilões, Pilõezinhos, Bananeiras, na região do Brejo. “É tudo muito novo, mas com esses achados no Sertão muita coisa vai ter que ser revista com relação à ocupação histórica da nossa região”, reforçou o pesquisador.

Por enquanto, com relação ao material tupi, foram feitas escavações arqueológicas no município de Serra Grande, próximo à cidade de Itaporanga. Mas existem evidências arqueológicas da presença tupi em vários outros municípios do Semiárido. Em Cuité, por exemplo, foi feito o salvamento arqueológico de uma urna funerária e ossos humanos.

Comunidades contribuem com as pesquisas

As pesquisas pelo Sertão da Paraíba devem seguir pelo município de Bernardino Batista, onde ainda não foi realizada nenhuma atividade arqueológica. Depois irá para Cachoeira dos Índios, próximo a Cajazeiras. Por lá, embora não tenha havido nenhum salvamento arqueológico, foi coletado material que estava na casa de um morador, que acionou a equipe. Recentemente, foi coletado material tupi em Pilõezinhos, constituído de urnas funerárias, fragmentos de tigelas e de ossos humanos. Todas as coletas foram feitas com autorização do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan).

Na maioria das vezes, a equipe chega aos locais onde há resquício da ocupação de outros povos através da comunidade.

As pessoas encontram evidências arqueológicas, divulgam nas redes sociais e a informação acaba chegando à equipe. “Hoje, o nosso laboratório é o único da Paraíba e muitas dessas informações vêm da própria comunidade que nos procura, envia fotos, texto, pedindo nossa ida até o local para averiguar melhor se realmente se trata de material arqueológico”, observou.

Sobre os povos mais primitivos, os primeiros grupos humanos que aqui estiveram, Juvandi Souza afirmou que muita coisa ainda está por se descobrir. Segundo ele, qualquer coisa que afirme agora de forma conclusiva seria uma atitude precipitada e até irresponsável. A expectativa é de que só daqui a alguns anos existirão respostas mais positivas com relação a quais grupos humanos realmente habitaram o interior do Estado.

Detalhes da história

Para dar sequência ao trabalho arqueológico na Paraíba, foi firmado convênio com quase 30 prefeituras. A ajuda vem em forma de alimentação e deslocamento da equipe que sai de Campina Grande para os municípios em regiões como Seridó e Sertão. “O pessoal nos fornece o apoio logístico e, em contrapartida, a gente desenvolve as pesquisas em seus respectivos municípios, envolve a comunidade, porque temos que dar um retorno social e isso é muito bom para essas cidades”, declarou Juvandi Souza.

Segundo ele, em muitos desses municípios nem se falava em indígenas no passado, nem em negros, remanescentes quilombolas. Hoje, quando os pesquisadores chegam a algum município, faz a parte de educação patrimonial, conversa com a população local. “As pessoas ficam abismadas, nem acreditam que no passado determinado grupo humano viveu naquele local”, contou.

O pesquisador acredita que muita coisa pode mudar no futuro com relação à história da pré-história, mas o processo é lento e requer muito apoio dos órgãos governamentais. Juvandi afirmou que tem tido apoio do Estado, mas é necessário sempre mais apoio para desenvolver melhor as pesquisas no campo da arqueologia e da paleontologia em outras regiões da Paraíba, principalmente no Alto Sertão, que é muito carente de pesquisa.

As pesquisas têm acontecido mais próximo de Campina Grande, no Seridó Oriental, no Curimataú, principalmente na região mais polarizada por Campina Grande, em especial o Cariri, onde, há muitos anos, são realizadas atividades de prospecção e escavações arqueológicas. Para o pesquisador, os investimentos governamentais irão fomentar o trabalho nos municípios do Alto Sertão da Paraíba.

Existência de outros povos

Uma importante revelação que pode vir no futuro é a confirmação científica da existência de vários grupos humanos no interior da Paraíba no período pré-histórico. Os estudos devem mostrar quando esses grupos chegaram, como foram extintos na região. Uma das formas de conseguir as melhores provas é através de datações, um processo de alto custo que não é realizado na Paraíba. O material encontrado no Estado é enviado para os Estados Unidos.

O Laboratório de Arqueologia e Paleontologia (Labap) conseguiu apoio em Fortaleza, capital cearense, através de um aluno do mestrado que está fazendo sua pesquisa com ossos humanos que saíram de Cuité, onde há um sítio tupi.

Em breve, o achado será enviado aos Estados Unidos para ser datado através do método Carbono 14.

Para Juvandi Souza, esse é um momento importante, porque permitirá saber qual grupo humano viveu na região. Porém, para ele, é necessário mais apoio para estender as análises científicas, especialmente falando de datações, para os outros sítios tupis. Somente em Serra Grande são quatro sítios tupis, onde existiram pelo menos quatro grandes aldeias.

“Precisamos de recursos para podermos datar o material de lá. Da mesma forma que também precisamos de ajuda para realizar o salvamento de duas ou três urnas funerárias em Bernardino Batista, no Alto Sertão, e mandar datar esse material”, disse. A ajuda financeira é necessária para datar o material de Pilõezinhos, de Bananeiras de Borborema, onde há sítios tupis, e também para datar o material cariri.

Existem guardados milhares de fragmentos, ossos, cerâmica, material lítico que foi usado pelos cariris e pelos seus antecessores.

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