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“Área da Amazônia está perto do ponto de não retorno”, diz cientista sobre 122% de aumento em emissões de CO2 na região

“Área da Amazônia está perto do ponto de não retorno”, diz cientista sobre 122% de aumento em emissões de CO2 na região

As emissões de gás carbônico (CO2) pela Amazônia aumentaram em 122% e 89% nos anos de 2020 e 2019, respectivamente, em comparação com o período de 2010 a 2018. O crescimento representa a soma dos números do desmatamento e das queimadas na região, e está relacionado principalmente ao declínio na aplicação de leis ambientais. É o que aponta artigo de pesquisadores do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e de outras instituições nacionais e estrangeiras publicado nesta quarta-feira (23) na revista “Nature”.

Para Luciana Gatti, pesquisadora do Inpe e principal autora do estudo, a pesquisa comprova que a ação humana na região amazônica está emitindo muito mais carbono do que a floresta é capaz de absorver, o que leva a uma situação extremamente preocupante.

“Esse aumento foi verificado principalmente por conta do lado oeste da Amazônia. O desmatamento lá aumentou muito, e provavelmente a extração de madeira também. Acho que tínhamos que decretar situação de emergência no lado oeste: desmatamento zero já. Essa área da Amazônia está perto do ponto de não retorno. E, depois que chegar, isso é uma bola de neve. A área prioritária é ali”, definiu ela.

Os dados apontam ainda que o nível das emissões registradas entre 2019 e 2020 são comparáveis ao observado em 2015 e 2016, quando um evento climático extremo de grande escala atingiu a região – o El Niño.

“Quando o El Niño aconteceu, as emissões de CO2 cresceram porque foi um período de extrema seca, com muitas queimadas e perda de parte da floresta”, explica a pesquisadora, reforçando que 2019 e 2020 não contaram com razões climáticas que justifiquem o crescimento das emissões, o que aponta para a ação humana como explicação.

A pesquisa salienta que as ações de monitoramento e controle podem ser ainda mais importantes nos próximos anos, quando a previsão é de que a região amazônica enfrente desafios maiores, pois as previsões indicam que o próximo evento climático promete ser mais intenso que o último El Niño.

“Os dados mostram claramente a importância de políticas de controle e combate ao desmatamento eficazes”, frisa Gatti, ao destacar que o financiamento do governo é essencial para que as análises possam continuar sendo feitas.

“O recurso financeiro usado para as pesquisas é cedido por agências de financiamento de ciência, mas, para que os dados possam estar disponíveis independentemente de publicações científicas, precisamos de financiamento por parte do governo federal”, explica a pesquisadora.

A pesquisa observa que a exportação de madeira na Amazônia aumentou quase 700% no período, assim como também cresceram a área plantada de soja (68%) e de milho (58%), além do rebanho bovino (14%) dentro da Amazônia. Daí a importância de políticas públicas apontando um modelo de economia com a floresta em pé, e mais eficazes para a preservação da floresta e a conservação da diversidade amazônica.

“Estamos na batalha para o governo assumir a tarefa de zerar o desmatamento antes de 2030 e reflorestar uma parte nas regiões críticas para salvar a Amazônia do ponto de não retorno”, conclui Gatti.