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Após proibição de caça, 150 baleias são vistas se alimentando na Antártida

Após proibição de caça, 150 baleias são vistas se alimentando na Antártida

“Eu nunca tinha visto tantas baleias em um só lugar antes”, diz pesquisadora responsável pelos primeiros registros do grupo

“Eu nunca tinha visto tantas baleias em um lugar antes e fiquei absolutamente fascinada ao ver esses enormes grupos se alimentarem”, comentou a professora Bettina Meyer, bióloga e co-autora de um artigo recém publicado na Scientific Reports, que registra o retorno de grandes agregações de alimentação de baleias para áreas históricas no Oceano Antártico.O estudo é considerado a primeira documentação científica de grandes agregações de alimentação de baleias-comuns na Ilha Elefante, Antártica, incluindo a primeira documentação em vídeo.

Tudo começou em 2018, em uma expedição organizada por pesquisadores para investigar os efeitos das mudanças climáticas sobre o krill antártico. Base da cadeia alimentar antártica, esses minúsculos crustáceos bioluminescentes são a principal fonte de alimento para peixes, pinguins, focas e baleias e cresceram em até seis centímetros de comprimento. O grupo de cientistas contou com o apoio de equipes de câmeras da BBC e um helicóptero que ajudavam a identificar, contar e registrar a presença de baleias se alimentando. À época, após 22 voos, a equipe percorreu um total de 3.251 Km e contou 100 grupos de baleias-comuns, cada um composto com algo entre uma ou quatro baleias. Já os pesquisadores que ficaram de vigia no convés, avistaram um grupo de baleias muito maior do que a média: viram 50 baleias-comuns perto da Ilha Elefante, no Mar de Weddell, na Península Antártica. Mais tarde identificaram outras 70, no mesmo local.

“Corri direto para o nosso monitor, que usa métodos de medição acústica para mostrar a presença e o tamanho dos enxames de krill na água”, lembra a pesquisadora. “E com base nos dados, conseguimos identificar os enxames e até ver como as baleias os caçavam.”, explica.

O número, no entanto, era apenas um indicativo do que estava por vir. A recuperação dos estoques de baleias-comuns (Balaenoptera physalus quoyi) parece ser uma tendência: um ano após a expedição batizada de Polarstern, a equipe de pesquisa e a BBC retornaram à Ilha Elefante com um navio fretado e observaram até 150 animais. “Mesmo que ainda não saibamos o número total de baleias-comuns na Antártida, devido à falta de observações simultâneas, isso pode ser um bom sinal de que, quase 50 anos após a proibição da caça comercial, a população de baleias-comuns em a Antártida está se recuperando”, diz Bettina Meyer.

As baleias-comuns do Hemisfério Sul foram quase extintas pela caça industrial do século XX. Durante décadas, eles praticamente desapareceram de áreas de alimentação anteriormente muito frequentadas nas águas antárticas. Agora, com a recuperação de uma grande população de baleias, é possível vislumbrar o restauro de funções do ecossistema cruciais para a regulação do carbono atmosférico na região oceânica mais importante do mundo para a absorção de CO2 antropogênico.

As baleias não só comem o krill, mas se beneficiam dele. O excremento de baleia fertiliza o oceano, pois contém nutrientes relativamente escasso na Antártida, como o ferro, mas essenciais para o crescimento do fitoplâncton (microalgas) na água. Por sua vez, o fitoplâncton é uma fonte de alimento para o krill. “Quando a população de baleias cresce, os animais reciclam mais nutrientes, aumentando a produtividade do Oceano Antártico. Isso estimula o crescimento das algas, que por sua vez absorvem o dióxido de carbono da atmosfera por meio da fotossíntese, reduzindo a concentração atmosférica de CO2”, explica Bettina.