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Alerta vermelho na COP28: com emissões de CO2 atingindo recorde em 2023, mundo caminha para era do “1,5ºC” em 7 anos

Alerta vermelho na COP28: com emissões de CO2 atingindo recorde em 2023, mundo caminha para era do “1,5ºC” em 7 anos

Novo relatório do Global Carbon Budget mostra que orçamento de CO2 para evitar uma Terra 1,5 grau mais quente comparada aos níveis pré-industriais acaba em 2030

As emissões globais de dióxido de carbono (CO2) associadas à queima de combustíveis fósseis, principais vilões do aquecimento global, deverão atingir em 2023 o nível recorde de 36,8 bilhões de toneladas, uma alta de 1,1% em relação a 2022 e 1,4% acima dos níveis pré-pandemia, mostram dados do relatório Global Carbon Budget, produzido pelo Global Carbon Project, rede de pesquisadores que reúne mais de 90 organizações de diferentes países do mundo.

Juntamente com as emissões oriundas das mudanças do uso do solo (como o desmatamento) as emissões globais de CO2 atingirão, pelos cálculos dos cientistas, 40,9 bilhões toneladas em 2023. Os números nos colocam longe da acentuada e urgente redução de emissões que o mundo precisa para atingir as metas previstas no Acordo de Paris.

Sem esforços suficientes para reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa (GEE), o planeta poderá atingir os 1,5 grau Celsius (ºC) de aquecimento acima dos valores da era pré-industrial antes de 2030. “Ao nível atual de emissões, há 50% de chance de o aquecimento global exceder 1,5°C de forma consistente em cerca de sete anos”, diz a equipe no relatório, observando que o estudo não leva em conta outras fontes emissoras além do CO2.

O estudo, divulgado nesta terça-feira na COP28, maior e mais importante reunião climática da ONU, que acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, alerta que a ação global para enfrentar o problema não está a acontecendo com rapidez suficiente para evitar os piores efeitos da emergência climática.

Emboras as emissões associadas à queima de petróleo, gás e carvão natural estejam diminuindo em algumas regiões, incluindo a Europa e os EUA, na conta geral, a tendência é de alta. Prevê-se, por exemplo, que as emissões em 2023 aumentem na Índia (8,2%) e na China (4,0%) e diminuam na UE (-7,4%), nos EUA (-3,0%).

Para Pierre Friedlingstein, do Global Systems Institute da Universidade de Exeter, que liderou o estudo, apesar das evidências dos extremos climáticos estarem por todos os lados, a redução de emissões no mundo ocorre de forma “dolorosamente lenta” e, além da necessidade de acelerar esse processo, ele também precisa ser generalizado.

Em particular, o estudo prevê que as emissões de carvão, responsáveis por 41% do total mundial, aumentem 1,1% em 2023. As emissões de petróleo, que representam 32% das emissões globais, deverão aumentar 1,5%. E para as emissões de gás natural é esperado um aumento de 0,5%. Os pesquisadores observam que o orçamento de carbono restante – e, por tabela, o tempo que resta para cumprir a meta de 1,5°C e evitar os piores impactos das mudanças climáticas – está se esgotando.

“Os líderes reunidos na COP28 terão de chegar a acordo sobre cortes rápidos nas emissões de combustíveis fósseis, mesmo para manter viva a meta de 2°C”, afirmam. A equipe de pesquisa incluiu a Universidade de Exeter, a Universidade de East Anglia (UEA), o Centro CICERO para Pesquisa Climática Internacional, a Universidade Ludwig-Maximilian de Munique entre outras outras instituições ao redor do mundo.

E a resposta passa pela eliminação progressiva das fontes fósseis, reiteram, alertando que a celebrada solução tecnológica de remoção de cabono por projetos de CCS dão contam atualmente de cerca de 0,01 milhão de toneladas de CO2 o que é “um milhão de vezes menor do que as atuais emissões de CO2 fósseis”. O estudo não considera os meios de remoção baseados na natureza, como a restauração de florestas — estima-se que um terço das metas climáticas mundiais poderiam ser atingidas por Soluções Baseadas na Natureza (SBNs).

“Precisamos ter noção que a escala das emissões fósseis é de uma ordem massiva e as remoções por CCS são mínimas”, observa Julia Pongratz, professora de Geografia Física e Sistemas de Uso do Solo, da Universidade de Munique. Ela acrescenta que “para além da restauração florestal, o mundo precisa tornar o combate ao desmatamento uma prioridade”. Apesar do compromisso de centenas de países para diminuir e reverter a perda de floresta até o final da década, o mundo perdeu 4,1 milhão de hectares de florestas primárias em 2022, 10% mais que a área de 2021, e o Brasil puxou essa alta.